A “ajuda” turca numa guerra sem fim

Os bombardeamentos turcos sobre os curdos sírios vieram tornar mais difícil uma solução para a guerra.

Na guerra síria, mesmo quando algo parece perto de uma miragem de resolução, há sempre alguma coisa que vem toldar as esperanças. O último episódio numa sucessão de desalentos é a operação militar desencadeada pela Turquia contra os curdos sírios. A poucos dias da presumível trégua possibilitada pelo cessar-fogo negociado em Munique (hipótese frágil e duvidosa, mas que foi entendida, a várias vozes, como viável), o regime turco iniciou uma série de bombardeamentos contra as posições dos combatentes curdos no Norte da província de Alepo. Motivo invocado: estariam a ameaçar as suas fronteiras e a “segurança nacional” turca. Por sua vez, os curdos dizem estar a combater o autodenominado Estado Islâmico, o que lhes foi facilitado pelos bombardeamentos russos em apoio das forças de Bashar al-Assad. Agora, Assad, os EUA e França dizem à Turquia, a várias vozes, para parar os bombardeamentos. Mas a Turquia não deverá ouvi-los. Primeiro, porque vê no grupo curdo que progride na Síria (o Jaish al-Thuvar, aliado do YPG) uma organização “terrorista” com ligações ao PKK, partido separatista curdo; segundo, porque Ancara avisou os EUA há meses que não toleraria o controlo curdo da fronteira síria (paira, aqui, o fantasma de uma futura nação curda, alimentada com territórios da Turquia, da Síria e do Iraque) e não teve qualquer resposta. Mas há outro problema: os EUA e França condenam os ataques turcos aos curdos sírios, mas o Exército Livre da Síria (apoiado pelos EUA, França e, entre outros países, a Turquia) queixa-se de que os curdos estão a atacá-los à traição. No meio de tudo isto, não é fácil agir com discernimento. A não ser que o cessar-fogo seja verdadeiramente imposto e, no tempo que durar, se aclarem as intenções das partes em confronto. Para já, as actuais acções militares da Turquia só vêm tornar a guerra na Síria ainda mais interminável.

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