Escolas criam cursos para cada etapa na carreira

Aquilo que um gestor em início de carreira espera obter de uma formação é diferente das suas expectativas quando já está no topo. Nem sempre o motivo é a progressão, pode ser o desemprego. Valorizam-se competências transversais, a visão de "helicóptero"

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Quem se inscreve num MBA de segunda geração tem alguns anos de carreira e procura a chamada "visão de helicóptero" Eddie Keogh / Reuters

Quando Tiago Fleming, 45 anos, se inscreveu no MBA Executivo da Porto Business School sabia bem do que ia à procura: as competências necessárias a preparar-se para “liderar, a curto prazo, projectos de maior dimensão e responsabilidade” no Banco Carregosa, onde é actualmente director de marketing. Essa formação está apenas a começar, mas Fleming está entusiasmado com a possibilidade que ali encontra de desenvolver as suas capacidades de liderança e as hipóteses de progressão profissional.

“Um MBA é um excelente investimento para os executivos que pretendam assumir responsabilidades de gestão acrescidas”, acredita este director de marketing. Esta é a história – e a opinião – de Fleming, mas podia ser a de muitos outros gestores que, como ele, estão a meio da “escadaria” da progressão profissional. As qualificações procuradas e as expectativas de quem se inscreve num programa de formação de uma escola de negócios variam consoante o momento da carreira em que se encontra e a oferta das instituições tem respostas que parecem desenhadas à medida de cada um desses passos. Dos MBA a tempo inteiro aos programas de executivos, passando pelos mestrados, programas de formação mais curtos ou formações destinadas a quem já está em cargos de administração, as propostas vão-se multiplicando.

Tiago Fleming é um exemplo da forma como varia essa procura de formação ao longo da vida profissional. Licenciou-se em Gestão Financeira há 20 anos e, desde então, fez um mestrado executivo (na ESIC Business & Marketing School, em Madrid) e duas pós-graduações na área do marketing digital e comércio, ambas na Universidade Católica no Porto. Agora que está apostado em assumir mais responsabilidades na instituição financeira em que trabalha, inscreveu-se num MBA executivo, ou “MBA de segunda geração”, como lhe chama Armando Silva, coordenador da Porto Executive Academy, a escola de negócios que o Politécnico do Porto lançou neste ano lectivo.

Estes são programas de formação onde há um foco menos intenso em questões técnicas como as ligadas às finanças ou ao marketing e se valorizam aquilo que se convencionou chamar “soft skills” – ou competências transversais. São disso exemplo a capacidade de liderança, gestão de tempo, gestão de pessoas ou de projectos. “Quando saem das universidades, estas pessoas são tecnicamente muito boas, mas têm algumas lacunas nas questões de cariz mais interpessoal”, refere a directora deste tipo de programas na Porto Business School, Patrícia Teixeira Lopes. E é disso que vão à procura nas formações das escolas de negócios.

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Tiago Fleming: à licenciatura, um mestrado executivo e duas pós-graduações, junta agora um MBA executivo

Quem se inscreve num MBA Executivo como Tiago Fleming é “tipicamente alguém já com alguns anos de carreira, em média 11 ou 12”, afirma a mesma responsável. São pessoas que “vêm à procura de ter a chamada visão de helicóptero sobre a empresa”, acrescenta a Manager dos Programas Abertos na Católica Lisboa, Catarina Paiva, acrescentando conhecimentos mais transversais sobre o negócio e a relação com pessoas que lhes acrescente ferramentas úteis nos momentos de decisão.

Com um MBA, estes profissionais procuram desenvolver a sua carreira, uma expressão que tem hoje uma interpretação diferente da que tinha há cerca de uma década. À progressão clássica, na vertical, que passava por uma promoção dentro de uma mesma empresa, junta-se agora a possibilidade de progressão horizontal, que passa por assumir funções diferentes ou numa outra organização e que hoje “é considerado um momento de evolução na carreira, até por aquilo que implica em termos de novas aprendizagens”, explica a directora dos serviços de carreira da Nova School of Business and Economics, Maria Nolasco. A progressão de carreira pode também ser feita “na diagonal”, com o profissional a passar para um escalão seguinte da hierarquia ao mesmo tempo que se assume uma outra função.

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Mariana Gomes inscreveu-se no The Magellan MBA, depois de, há dois anos, ter lançado a sua primeira start-up, a MUB cargo

Em qualquer dos casos, um MBA ou um programa de formação para gestores é tendencialmente um catalisador dessa evolução. Quando se inscrevem, os executivos que já estão no activo buscam uma formação complementar e alguma reciclagem de conhecimentos. É o caso de Isabel Portela, 44 anos, e Senior Project Manager na Sonae. Inscreveu-se no MBA Executivo da Porto Business School pela “necessidade de actualização e aquisição de novos conhecimentos” em áreas diferentes que lhe dêem uma perspectiva “mais abrangente” sobre a área da gestão, conta ao PÚBLICO.

Há, contudo, quem se inscreva nestes MBA de segunda geração por pretender fazer uma viragem completa na sua vida profissional. São pessoas que, tendo uma formação anterior em áreas pouco ou nada próximas da gestão – como o direito ou a medicina, por exemplo – pretendem assumir funções executivas ou criar o seu próprio negócio. Este desejo de viragem está também presente em muitos dos que se inscrevem num MBA tradicional.

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Isabel Portela inscreveu-se no MBA Executivo da Porto Business School pela “necessidade de actualização e aquisição de novos conhecimentos”

O critério para escolher entre um e outro tipo de MBA está, muitas vezes, no tempo disponível. Como assinala o director de programas do INDEG, a escola de negócios do ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa, Paulo Dias, há uma “relação inversa entre a senioridade e a sua disponibilidade para estar numa sala de aula durante muito tempo”. Os gestores mais experientes procuram por isso formações mais curtas, enquanto aqueles que ainda estão no primeiro terço da carreira apostam por MBA’s a tempo inteiro, com cargas lectivas mais pesadas.

Nem todos os gestores se enquadram num quadro tão claramente tipificado, adverte o director de programas do INDEG, a escola de negócios do ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa. “Também encontramos casos de pessoas que procuram estas formações porque ficaram no desemprego ou porque houve uma relocalização da sua empresa”, sustenta. No entanto, aquele responsável concorda genericamente com a ideia de que, a cada etapa da carreira, correspondem necessidades de formação diferentes e também programas mais adaptados a responder às mesmas.

Para cada momento da carreira de um gestor há uma formação que parece ser a mais adequada, ao ponto de algumas escolas de negócios, como a da A Fundación, ligado ao banco galego A Banca, com sede em Vigo, ter criado a sua própria “curva” de oferta, fazendo equivaler a cada patamar da vida laboral dos executivos um dos programas do seu portfólio de formação, uma imagem que é usada na promoção dos seus programas.

Mariana Gomes, 26 anos, está quase no princípio dessa curva. Inscreveu-se no The Magellan MBA, o programa mais internacional do portfolio da Porto Business School, depois de, há dois anos, ter lançado a sua primeira start-up, a MUB cargo – uma aplicação móvel que trata do transporte de encomendas e outros objectos. “Achei que estava na hora de obter novas competências, podendo conciliar esta nova etapa com uma reflexão sobre o próximo passo a nível profissional”, explica ao PÚBLICO.

O “prestígio” de concluir um MBA na escola de negócios da Universidade do Porto também pesou na escolha. “Parece-me um excelente cartão-de-visita”, diz. A essa mais-valia espera juntar as novas competências mais técnicas e a oportunidade “de trabalhar a tempo inteiro com pessoas completamente distintas, num ambiente em que é preciso gerir bem o tempo e os prazos de entrega”, valoriza a jovem empresária.

No início de carreira, os pré-executivos procuram essencialmente completar a sua formação académica, tipicamente nas áreas da economia ou gestão. “Nos primeiros anos pretendem essencialmente ter um curso mais abrangente e uma proposta mais alargada sobre as várias áreas da gestão”, avalia Catarina Paiva da Universidade Católica. Mas não são só os MBA’s que estão entre as escolhas destes profissionais em início de carreira. Há programas de formação específica nas áreas de marketing, gestão e finanças que fazem parte da oferta das escolas de negócio que estão particularmente vocacionadas para este segmento. Tudo com um enfoque “mais prático e com intervenção das tecnologias, com recurso ao e-learning, por exemplo”, explica Catarina Paiva, sublinhando a maior apetência por este tipo de propostas por parte das gerações mais novas.

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Os gestores mais experientes procuram formações mais curtas, os mais jovens apostam em MBA’s a tempo inteiro, com cargas lectivas mais pesadas David Gray / Reuters

As expectativas de quem dá os primeiros passos na carreira são sobretudo “conhecer o mais possível”, entende Maria Nolasco da Nova School Of Business and Economics. “Os alunos mais novos vêm com uma perspectiva de aprender, aprender, aprender”, sublinha a mesma responsável.

A Nova School of Business and Economics faz todos os anos um inquérito aos alunos dos seus programas no momento de entrada. Nos anos mais recentes foi-se observando uma mudança de expectativas dos candidatos e hoje a expectativa de maiores aprendizagens e ganhos de competência ou a possibilidade de viajarem e terem uma experiência internacional por via da formação são dimensões mais valorizadas do que o salário.

Como muitos destes gestores em início de percurso “não sabem ainda muito bem aquilo que querem fazer profissionalmente”, esta ideia de ter uma experiência alargada permite também abrir portas para encontrar o seu caminho.

Esta perspectiva contrasta com o que é procurado por executivos no topo da carreira, alguns dos quais pertencem já a cargos de administração das empresas, quando procuram uma nova formação. Nos programas de gestão de top (“top management”) ou programas avançados para administradores que são oferecidos pelas principais escolas de negócios nacionais são trabalhadas competências muito mais específicas ao nível da gestão ou de tendências de cada uma das indústrias.

Mas o que realmente motiva estes profissionais é “uma lógica de networking”, explica a directora de programas de formação de executivos da Porto Business School, Patrícia Teixeira Lopes. “São pessoas que querem partilhar com outros gestores com muita experiência os seus conhecimentos e querem contactar com outras pessoas que ocupam lugar de topo”, afirma, bem como ter experiências internacionais, o que leva a que muitos destes programas de “fim de linha” sejam desenhados em parcerias com instituições estrangeiras.

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