Salários perderam peso na economia por causa da tecnologia e da globalização
Relatório do FMI observa na maior parte dos países avançados uma redução da importância dos salários face ao capital. Portugal é um dos países onde isso aconteceu nas duas últimas décadas e meia.
O efeito combinado de um avanço tecnológico rápido e de uma cada vez maior integração da economia mundial está a resultar numa compressão da classe média e na redução do peso dos rendimentos do trabalho nas populações.
De acordo com um dos capítulos do relatório de Primavera do Fundo Monetário Internacional, publicado esta segunda-feira, entre 1991 e 2014, o peso do rendimento do trabalho caiu em 29 das 50 maiores economias mundiais, sendo que essas 29 economias representam cerca de dois terços do PIB do globo.
Uma das consequências desta tendência de perda de terreno do trabalho face ao capital, que se verifica desde os finais dos anos 80, é um aumento da desigualdade de rendimentos, que, assinala o FMI, pode fazer subir as tensões sociais e mesmo prejudicar o ritmo de crescimento económico.
China, Alemanha, Estados Unidos e Japão são as maiores economias onde se registou uma redução do peso dos salários. De acordo com os cálculos do FMI, Portugal foi, entre os 50 países analisados, o 17.º com uma redução mais significativa da importância do factor trabalho, de cerca de 1,5 pontos percentuais por cada dez anos.
A explicar este resultado, o FMI afirma que “o avanço tecnológico, medido pela mudança de longo prazo nos preços relativos dos bens de investimento, em conjunto com o nível de exposição inicial às tarefas de rotina, foram os principais contributos para o declínio do peso do rendimento do trabalho nas economias avançadas”. O que o Fundo detectou é que, durante as últimas décadas, várias profissões normalmente identificadas como sendo da classe média viram-se crescentemente afectadas pelas novas possibilidades tecnológicas que permitiram às empresas automatizar diversos procedimentos.
O FMI diz igualmente que “a integração global desempenhou um papel, principalmente na redução do peso do rendimento do trabalho nos sectores transaccionáveis”. O que aconteceu foi uma deslocalização da produção baseada no trabalho menos qualificado, colocando uma pressão competitiva elevada sobre as empresas e baixando a capacidade reivindicativa dos trabalhadores.
