Os preços baixos vão ser a norma

No congresso da Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição, Jean-Jacques Vandenheede, director da Nielsen, foi um dos especialistas que debateu as tendências de consumo.

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Enric Vives Rubio

Jean-Jacques Vandenheede, director da Nielsen para a área das tendências de consumo, não tem uma bola de cristal, mas parece ter muito claro como será o futuro consumidor e o que se vai passar nas lojas e cadeias de supermercados. Na intervenção que fez na tarde desta terça-feira no congresso da Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição (APED) traçou vários cenários: os preços baixos vão ser a norma, as necessidades do consumidor vão ditar o negócio do retalho, os telemóveis são a “loja” com mais produtos e melhores preços – e as “crianças de amanhã” jamais ficarão na fila para pagar numa caixa de supermercado.

Desde que estalou a crise financeira de 2008 que os portugueses têm oscilado entre sentimentos de “pânico”, preocupação e ligeira esperança. Estes “altos e baixos” são “muito típicos da situação portuguesa”. As promoções foram a resposta para manter os consumidores nas lojas. Mas “agora, os retalhistas não sabem bem o que fazer”. “Não se atrevem a subir os preços, mas sabem que não podem pagar mais reduções”, disse.

Jean-Jacques Vandenheede apresentou alguns dados da consultora que mostram que, na Europa, já se gasta “mais 40% do que em 2006”. Em Portugal, gasta-se mais 5%. Mas apesar de, hoje, os indicadores económicos serem cada vez mais valorizados pelas empresas, o especialista defendeu, com ironia, que “as pessoas não vão lavar mais os dentes devido ao estado da economia”.

Estamos “viciados nas promoções”, num sector em que o comércio online (de produtos alimentares) ainda é diminuto, em que a “morte” do hipermercado foi erradamente antecipada e os operadores que “descobriram a ligação à tecnologia” são escassos.

Para mudar, Jean-Jacques Vandenheede diz que é preciso estar atento às novas tendências. Uma delas prende-se com a redução “estrutural” dos preços. “Não são promoções. É descer o preço de forma estrutural”, reforça. “Agora os descontos, a localização e o preço” guiam as decisões de negócio da grande distribuição. Mas “a decisão do consumidor não é onde pode encontrar determinado produto mais barato, mas se pode pagar mais. Porque os preços baixos vão ser a norma”.

Para Ana Isabel Trigo de Morais, directora-geral da APED, este é um cenário ainda longe de ser real em Portugal. “Não há ainda aumento de rendimentos das famílias, nem alívio da carga fiscal para alocar recursos ao consumo. A expectativa é ver como será a reposta dos consumidores às medidas tomadas pelo Governo e ainda é cedo”, sustenta.

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