“O que não queremos é a dívida outra vez acima de 130%”

Nichola James, co-directora dos ratings de dívida soberana da DBRS, diz que encontros com o Governo esta semana foram importantes para a decisão.

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DBRS manteve rating atribuído a Portugal evr enric vives-rubio

Chegada à DBRS em Agosto para assumir uma posição importante na definição dos ratings atribuídos aos países europeus, Nichola James explica porque é que a agência continua a ser a única a não colocar a dívida portuguesa num nível “lixo”. A analista lamenta contudo que, no OE 2017, a opção não tenha sido a de apostar em mais medidas de redução permanente da despesa.

Reuniu-se com os responsáveis do Governo português esta semana. Esse encontro foi muito importante para esta decisão?
Bem, considerámos bastante útil que o Governo nos tenha dado garantias adicionais relativamente ao seu compromisso em relação aos objectivos de consolidação orçamental. Para além disso, ofereceram-nos igualmente explicações bastante úteis em relação ao que tem vindo a ser o desempenho da economia durante este ano. Também foram importantes os detalhes que recolhemos acerca da situação actual do sector bancário, depois das decisões que foram tomadas.

E ficaram convencidos em relação às razões pelas quais a economia registou um abrandamento?
O Governo foi muito enfático na ideia de que há acontecimentos específicos que estão a afectar o crescimento. Em primeiro lugar, o crescimento mais baixo em Angola. Depois, o impacto negativo dos atrasos na produção da Autoeuropa e da Galp.

E para o défice, já consideram que a meta do défice já é credível?
O nosso sentimento é que o défice orçamental vai ficar abaixo de 3% do PIB.

Mas não abaixo dos 2,5% exigidos pela Europa?
Nós temos nas nossas mãos os dados da execução orçamental até Setembro e a verdade é que eles estão em linha com o que são as metas orçamentais. É verdade que pode haver pressões do lado da despesa com o aproximar do final do ano, mas pensamos que, se a meta de défice de 2,5% não for atingida, o Governo ficará lá perto, certamente num valor situado entre 2,5% e os 3%.

Ficaram satisfeitos com a forma como o Governo pretende reduzir o défice no Orçamento do Estado em 2017? Seriam as medidas que tomariam?
Não gosto de dar conselhos de políticas específicas. O que posso dizer é que conseguimos ver que há um esforço, mas preferíamos que houvesse mais medidas de redução da despesa permanentes. Porque dessa forma a consolidação orçamental seria mais sustentável. O que nós não queremos ver é o rácio da dívida pública voltar a subir para um valor acima dos 130% do PIB.

Considera a previsão de crescimento da economia do Governo de 1,5% em 2017 credível?
Nós estamos a trabalhar com base num crescimento de 1,5%. É certo que ainda há muitas incertezas, especialmente no que diz respeito à conjuntura internacional. Mas este valor já é bastante mais baixo do que os 1,8% que antes eram previstos.

Uma decisão negativa vossa em relação ao rating português teria um impacto muito significativo nos mercados. Esse facto influenciou-os de alguma forma?

Não. Os nossos ratings são decididos de uma forma completamente independente. Eles não são determinados por qualquer entidade ou factores externos, nem mesmo a elegibilidade da dívida junto do BCE.

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