"Não sei se ria ou se chore", diz vice de Merkel sobre o CEO do Deutsche Bank

O ministro da Economia não gostou das declarações do responsável pela instituição bancária, que atribui os recentes problemas que o banco enfrenta à especulação bancária.

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O vice-chanceler alemão diz estar preocupado com os trabalhadores do maior banco alemão HANNIBAL HANSCHKE/Reuters

O vice-chanceler alemão e ministro da Economia, Sigmar Gabriel, não gostou dos mais recentes comentários do presidente executivo do Deutsche Bank, John Cryan, sobre a actual situação do banco alemão. O vice-chanceler acusa o CEO de má gestão.

O ministro da Economia respondeu este domingo às declarações de John Cryan de sexta-feira, que em nota interna lembrava que a “confiança é a base do sector financeiro”. “Algumas forças do mercado estão a tentar prejudicar esta confiança”, escreveu o CEO do banco alemão, citado pela Bloomberg. John Cryan insistiu que “o Deutsche Bank tem muitos problemas, mas a liquidez não é um deles”.

A resposta de Berlim chegou dois dias depois. "Não sei se ria ou se chore com o facto de o banco que teve um modelo de negócio baseado na especulação diga, agora, que é vítima de especulação", afirmou o vice-chanceler de Merkel, durante uma viagem de avião para o Iraque.

Citado pela Reuters e pelo Financial Times, o ministro da Economia sublinhou ainda a sua preocupação com os 100 mil trabalhadores do banco alemão. "O cenário são milhares de pessoas que vão perder o seu trabalho. Vão pagar o preço da loucura dos dirigentes irresponsáveis", disse Sigmar Gabriel.

Em linha com os receios do governante alemão, esta segunda-feira de manhã, a agência Bloomberg avança que o banco planeia cortar cerca de mil postos de trabalho, uma redução que atingirá principalmente os trabalhadores dos serviços centrais da empresa. O despedimento soma-se ao já anunciado corte de 3 mil postos de trabalho anunciado em Junho. Em Outubro de 2015, o banco decidiu avançar com uma reestruturação, depois da perda de sete milhões de euros em 2015 e que prevê o encerramento de cerca de 200 agências na Alemanha até 2020 e a redução de mais de 9 mil postos de trabalho a nível mundial.

Nesta segunda-feira, apesar de as acções do Deutsche Bank não terem sido negociadas devido a um feriado nacional na Alemanha, os títulos cotados nos EUA caíram 2,2%. Sexta-feira, depois de ter sido noticiado (mas não confirmado) um acordo com as autoridades americanas para o pagamento de 5,4 mil milhões de dólares de indemnização, em vez dos iniciais 14 mil milhões, as acções do maior banco alemão chegaram a subir perto de 6%. Em causa está o papel do Deutsche Bank na crise financeira internacional de 2008. A instituição é acusada, a par de outros grandes bancos, de ter vendido empréstimos hipotecários (créditos convertidos em produtos financeiros), sabendo que eram tóxicos. 

Agora, os comentários de Sigmar Gabriel, também líder dos sociais-democratas do SPD que partilham a coligação com o partido conservador de Merkel, reforçam que, caso o banco avance mesmo com um pedido de ajuda, não é certo que o Governo alemão esteja disponível para responder. De acordo com alguns analistas, uma injecção financeira à instituição iria prejudicar a imagem da chanceler alemã, que foi muitas vezes uma voz crítica da intervenção dos Estados europeus no resgate de instituições bancárias. Além disso, Merkel enfrenta eleições no próximo ano, pelo que uma intervenção poderá custar a vitória ao seu partido.

Já Peter Ramsauer, presidente da Comissão de Economia do Parlamento alemão, não poupou nas criticas aos EUA e afirmou em entrevista ao Welt am Sonntag que as acções das autoridades reguladoras norte-americanas “têm as características de uma guerra económica”.

Apesar das notícias que questionam a solidez do banco, alguns dos maiores nomes da indústria alemã já garantiram o seu apoio ao Deutsche Bank. “Bancos alemães fortes são importantes para uma economia alemã mais forte”, analisou Dieter Zetsche, responsável pela fabricante de automóveis Daimler, em declarações ao jornal alemão Frankfurter Allgemein.

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