Fed mantém taxas mas sinaliza uma subida até ao fim do ano

Janet Yellen volta a adiar mudança de rumo na política económica, preferindo esperar por confirmação total do fortalecimento da economia nos próximos meses.

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Janet Yellen adiou nova subida de taxas KEVIN LAMARQUE/REUTERS

A Reserva Federal norte-americana seguiu o argumento que tinha sido antecipado pelos mercados durante as últimas semanas e decidiu adiar por mais algum tempo uma subida das suas principais taxas de juro de referência sinalizando ao mesmo tempo a possibilidade de voltar a agir ainda no decorrer deste ano.

A decisão foi anunciada esta quarta-feira no fim da reunião de dois dias do comité de política monetária da autoridade monetária dos Estados Unidos. Depois de em Dezembro do ano passado ter realizado a primeira subida de taxas em nove anos e sinalizado a realização de quatro novas subidas no decorrer de 2016, a Fed tem optado, perante um cenário de recuperação mais lenta do mercado de trabalho, instabilidade nos mercados financeiros internacionais e subida lenta da inflação, por adiar a decisão de tornar a sua política monetária menos expansionistas.

Na reunião desta quarta-feira optou por voltar a fazer o mesmo e a principal taxa de juro de refinanciamento dos bancos permanece num intervalo situado entre 0,25% e 0,5%.

No comunicado emitido, no entanto, a Fed deu sinais de que poderá voltar a subir taxas ainda este ano. “Os argumentos para um aumento das taxas de juro [federal funds rate] fortaleceram-se”, afirmam os responsáveis da instituição, que dizem estar apenas à espera de novas provas de progresso em direcção às metas definidas para o emprego e a inflação. Para já, considera a Fed, a evolução da actividade económica e do emprego tem sido “sólida” nos últimos meses.

Como consequência desta análise, a Fed passou a prever que até ao final do ano se possa concretizar uma subida das taxas de juro. Na reunião anterior, a previsão era de duas subidas.

A reforçar a ideia de que se está a aproximar uma mudança de política monetária nos EUA está também o facto de, na reunião desta quarta-feira, três dos 10 membros do comité da Fed terem votado a favor de uma subida imediata das taxas de juro em 0,25 pontos percentuais. Na reunião de Julho, só tinha havido um voto nessa direcção.

Janet Yellen, a presidente da Fed, tentou explicar na conferência de imprensa que se seguiu à reunião o que é que explica o repetido adiamento de uma subida de taxas que se tem verificado ao longo deste ano. “Estamos a debater-nos com um conjunto difícil de dúvidas sobre qual é o novo normal nesta economia e na economia mundial de uma forma mais geral, o que explica porque é que temos vindo a rever em baixa o caminho seguido pelas taxas”, afirmou Yellen, que defendeu que, perante o valor baixo da inflação neste momento é mais prudente manter as taxas de juro a zero”.

Japão testa novos caminhos

Algumas horas antes da decisão da Fed, tinha sido a vez do Banco do Japão anunciar as suas decisões de política monetária e, neste caso, com uma surpresa.

Com a sua principal taxa de juro de referência já em valores negativos (-0,1%) e com um programa de compra de dívida pública de 80 biliões (milhões de milhões) de ienes por ano, o banco central optou por encontrar novos instrumentos para combater a deflação, uma ameaça que persiste apesar das políticas monetária e orçamental muito expansionistas que têm vindo a ser aplicadas nos últimos três anos e meio.

O governador Haruhiko Kuroda anunciou em primeiro lugar que a partir de agora o banco central se compromete a manter as taxas de juro dos títulos de dívida pública japoneses a um nível igual ou inferior a zero. Na prática, o que isto significa, é que o Banco do Japão irá comprar no mercado qualquer título que atinja esse valor. Desta forma, fica assegurado que as taxas de juro de longo prazo se irão manter, independentemente das variações do mercado, a níveis nulos ou negativos.

A segunda medida anunciada foi a de que o Banco do Japão se compromete igualmente a tomar medidas – como mais compras de activos nos mercados – até que a inflação “exceda o objectivo de estabilidade de preços de 2% e se mantenha acima dessa meta de uma forma estável”.

De acordo com os analistas, a nova estratégia revela que o Banco do Japão está agora a assumir que a deflação terá de ser combatida mais através de uma estratégia de gestão das expectativas no longo prazo e menos recorrendo a uma terapia de choque.

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