Empresas e investidores afundam nas incertezas do Brexit

Ministro das finanças afirmou que os receios dos empresários vão ter consequências nas finanças públicas.

Foto
George Osborne lembrou que a saída não será imediata Richard Pohle/REuters

Ninguém pára os receios dos mercados financeiros e das empresas no Reino Unido. Nem o ministro das Finanças, que quebrou um silêncio de três dias para dizer que a economia do país é sólida, nem as frases calmas de alguns dos principais políticos por trás do Brexit, que já disseram não ter qualquer pressa em dar o pontapé de partida formal para a saída da UE.

A libra continuou nesta segunda-feira a cair, tal como aconteceu com a bolsa londrina, arrastada em parte pela queda da cotação dos grandes bancos. Algumas multinacionais na área dos serviços financeiros (um sector vital para Londres) já disseram ter planos para deslocar serviços e pessoal para outros países, e várias empresas britânicas (incluindo a transportadora EasyJet, que tem operações em Portugal) antecipam para um impacto negativo nas contas.

É ainda uma incógnita quando vai o Reino Unido activar o mecanismo de saída, quem será o líder político nessa altura, como decorrerão as negociações e que tipo de acordos comerciais conseguirá o país com os ex-parceiros da EU e os restantes países do mundo. Num cenário de incerteza, as declarações do ministro das Finanças britânico, George Osborne (que foi contra a saída), ajudaram as bolsas europeias a abrir esta segunda-feira no verde, mas a tendência acabou por inverter-se.

“Só o Reino Unido pode activar o artigo 50 [a via legal para a saída da UE] e, na minha opinião, só o devemos fazer quando houver uma visão clara das novas condições que procuraremos ter com os nossos vizinhos europeus”, afirmou Osborne, numa linha de discurso que tem sido comum a vários políticos, de ambos os lados do referendo: esperar e negociar informalmente antes de avançar com o processo. 

O FTSE100, o principal índice da bolsa de Londres, fechou a cair 2,67%. Tal como já tinha acontecido na sexta-feira, as perdas foram maiores no resto das principais praças da Europa (o lisboeta PSI 20 esteve um pouco melhor, desvalorizando 2,34%). As instituições bancárias foram das mais afectadas pelos receios dos investidores. A cotação do Royal Bank of Scotland caiu cerca de 15% nesta segunda-feira. O Lloyds deslizou 10% e o Barclays afundou 20%. 

Também do lado das empresas, o investimento parece retraír-se, o que terá consequências para o erário público, concedeu o ministro britânico. “Algumas empresas continuam a pôr em suspenso as suas decisões de investir ou de contratar pessoas. Como disse antes do referendo, isto terá um impacto na economia e nas finanças públicas e será preciso agir”, afirmou. “Ninguém deve duvidar da nossa determinação em manter a estabilidade fiscal que conseguimos neste país. E para as empresas, grandes e pequenas, devo dizer isto: a economia britânica é forte na sua base, somos altamente competitivos e estamos abertos para o negócio.”

Um inquérito junto das empresas britânicas mostra uma sombra de pessimismo. O Instituto dos Directores, uma federação dos dirigentes de empresas, auscultou mais de mil dos seus membros e concluiu que uma em cada quatro empresas prevê congelar a contratação e um quinto pondera deslocalizar operações.

Já a EasyJet, que na semana passada apelou à manutenção do Reino Unido no espaço único de aviação, antecipou uma queda nas vendas de pelo menos 5% no segundo semestre.

Também a libra continuou a desvalorizar face ao dólar, mantendo-se nos mínimos das últimas três décadas para onde afundou na sequência do referendo. Vale esta segunda-feira cerca de 1,32 dólares.

Numa entrevista à BBC, foi a vez do ex-presidente do Banco de Inglaterra, Mervyn King, afirmar que os britânicos “não devem estar particularmente preocupados” com a volatilidade observada no mundo financeiro. “Os mercados sobem, os mercados descem, ainda não sabemos onde vão encontrar equilíbrio e toda a questão da volatilidade é um processo de tentativa e erro, antes de os mercados descobriram qual é o nível certo para os mercados bolsistas e as taxas de câmbio”, argumentou.´

As ondas de choque do Brexit já parecem estar a chegar a outros países da Europa.  A agência Bloomberg, citando fontes anónimas, noticiou que o Governo italiano está a estudar planos para ajudar a banca, que está a braços com 360 mil milhões de euros de crédito mal parado.

Entretanto, há também quem esteja a aproveitar. Frankfurt, o centro financeiro alemão, lançou uma campanha para tentar atrair as empresas que tiverem de deixar Londres.  

Sugerir correcção
Comentar