Vai ficar a trabalhar na semana dos feriados? Este texto é para si

Sugestões de música, livros, teatro e exposições para a semana que hoje começa. Se for a Sintra é bem capaz de ficar mais romântico.

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Rida Redshoes leva Her ao Teatro das Figuras, em Faro Augusto Brázio

Se está entre os que vão enfrentar a semana de feriados que hoje começa trabalhando, ao contrário de muitos portugueses, e não está nos seus planos ir à praia nem ao concerto da diva teen cujo nome a maioria dos adultos que não têm filhos adolescentes conhece por causa do atentado em Manchester (Ariana Grande, este domingo, a partir das 19h, no Meo Arena, em Lisboa), eis algumas sugestões a que pode recorrer no tempo que o calendário lhe deixa livre, mesmo sem abdicar de um jantar com o rio à vista ou um copo ao fim da tarde, de preferência numa esplanada que não esteja carregada de turistas.

Se é Lisboeta é bem possível que já tenha feito a sua visita à Feira do Livro do Parque Eduardo VII, mas uma consulta atenta da lista dos livros do dia, e uma leitura do que sobre ela o escreveu o jornalista Luís Miguel Queirós aqui nas páginas do PÚBLICO, poderá abrir-lhe o apetite e forçá-lo a regressar. Volte porque gosta de biografias de políticos, mais à direita ou mais à esquerda – Winston Churchill – Uma vida (Martin Gilbert, edição Bertrand) e Álvaro Cunhal, uma biografia política (José Pacheco Pereira, Temas & Debates) -; volte porque a poesia o atrai mas não a usa para fugir do que se passa no mundo (A Terceira Miséria, Hélia Correia, Relógio D’Água); volte porque lhe interessa reflectir sobre A Condição Humana com os melhores (Hannah Arendt, Relógio D’Água) ou só porque os livros foram feitos para nos pôr a viajar mesmo quando, fisicamente, não podemos fazê-lo (Dicionário de Lugares Imaginários, Alberto Manguel e Gianni Guadalupi, Tinta da China).

Mas se, em vez de ler e passear, prefere uma sala de espectáculos ou um museu, não faltam sugestões de Norte a Sul do país. Pode consultá-las sem esforço no nosso Guia do Lazer, espreitando pelas janelas que aqui lhe abrimos.

O FITEI - Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica, no Porto e arredores, tem um menu recheado de teatro e dança que confronta quem ousar não o ignorar com autores de referência da escrita dramatúrgica, da poesia e da história do pensamento.

O chileno Antonio Altamirano vira-se para o filósofo alemão Hegel e leva-o para um Haiti mergulhado no caos, pondo quatro capacetes azuis, os soldados da paz das Nações Unidas, a tentar descortinar o mundo a partir do seu universo (Casco Azul, Cine Teatro Constantino Nery, Matosinhos, 13 e 14 de Junho, e Casa das Artes de Felgueiras, a 16). O Bando, do histórico encenador João Brites, vai ainda mais atrás no tempo, à Idade Média, para descer ao inferno de Dante Alighieri (A Divina Comédia - Inferno, Teatro Carlos Alberto, Porto, de 15 a 18); e Tiago Rodrigues, dramaturgo e encenador que dirige o Teatro Nacional D. Maria II, fica a meio caminho, com António e Cleópatra (Teatro Municipal Campo Alegre, Porto, 16 e 17). Nesta produção da tragédia de Shakespeare, espectáculo já muito elogiado pela crítica, os actores/bailarinos Sofia Dias e Vítor Roriz dão corpo a uma história cheia de contradições em que há um homem dividido entre o amor verdadeiro, aquele que provoca desejo mas prejudica as suas ambições de poder, e o que é levado a fingir por interesse, num texto que nos mostra, explica Rodrigues, que a política também pode ser vista como uma questão amorosa (e vice-versa).

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António e Cleópatra, de Tiago Rodrigues DR

Na música, e ficando-nos só pelos portugueses (mesmo quando eles olham para fora), duas escolhas que vêm do universo do fado mas que andam já por todo o lado, e outra carregada de pop. António Zambujo mergulha no universo de um genial compositor de canções – um genial autor, se quisermos referir-nos ao seu trabalho também com as palavras que ficam por cantar – levando aos coliseus do Porto (16 de Junho) e de Lisboa (24) o álbum-homenagem a Chico Buarque, um dos maiores ícones da música popular brasileira. Até Pensei que Fosse Minha reúne 16 temas do seu cancioneiro, como Futuros Amantes, Tanto mar ou Valsinha, e com ele apetece mesmo convidar alguém para rodar.

Raquel Tavares esteve oito anos sem gravar e depois lançou o disco homónimo que agora anda a mostrar pelo país. Dia 15, na Mealhada, às 22h, vai cantar temas deste novo trabalho em que percebeu que não é só fadista. No dia seguinte, outra mulher canta temas de mulheres. Rita Redshoes vai estar no Teatro das Figuras, em Faro, com Her, álbum de 2016 que junta 13 canções que, mesmo quando falam de temas duros, sabem bem na sua voz.

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António Zambujo com Chico Buarque DR

Sem pop e sem fado, mas com os motetos de Bach e com o Coro Gulbenkian, o Festival de Música Sacra do Baixo Alentejo toma conta da Sé de Beja no sábado à noite. Ter o compositor alemão no Terras Sem Sombra não é novidade, mas é uma boa proposta.

Para os que preferirem trocar a praia e os santos populares por galerias e museus (e para aqueles que não quiserem abdicar de nada), o Museu Berardo, em Lisboa, mostra os vídeos de Pedro Marques, numa exposição comissariada pelo seu antigo director, o historiador de arte Pedro Lapa (até 17 de Setembro). Em Cascais, o centro cultural vira-se para a pintura dos mestres flamengos como Rubens, Van Dyck, Brueghel, Van Thielen e Van Kessel graças à colecção Gerstenmaier, com obras do século XV ao XVIII (até 9 de Julho).

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Arpad Szenes e Vieira da Silva DR

Para os que se sentem pouco românticos nesta Primavera de Verão à porta e que acham que, nessa matéria, as quadras dos manjericos deixam muito a desejar, justifica-se uma visita a Sintra. O MU.SA opta por um registo documental com Escrita Íntima (até 3 de Setembro), exposição da Fundação Arpad Szenes - Vieira da Silva que é também um livro. Nela se mostram muitas das cartas e bilhetes que os dois artistas trocaram durante os 55 anos de vida em comum, com um exílio brasileiro pelo meio, em tempo de guerra. Nelas se descobrem detalhes de uma vida que também tinha coisas comuns e rotineiras como todas as vidas, mesmo as extraordinárias. Ficamos a saber que Vieira, embora mais contida, por vezes tratava Arpad por “dragá Bichinha” (drága, que aparece escrito de diferentes maneiras, quer dizer "querido/a" em húngaro) e não tinha qualquer receio de lhe expor a sua fragilidade: "Estou triste sem ti, que me dás coragem e esperança." O pintor húngaro, sempre mais luminoso, preocupava-se com o estado de espírito da mulher quando ele estava longe e dizia-lhe coisas como esta: "Hoje, ao olhar as tuas fotografias, gostei tanto de me lembrar de nós no atelier a cozinhar. Eu abraçava-te apaixonadamente e a fotografia ficou com o sabor da mousse de chocolate. Adorava ver-te mesmo de longe."

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