Richard Ford vence Prémio Princesa das Astúrias de Literatura

O prémio foi anunciado esta quarta-feira em Oviedo, Espanha.

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Richard Ford AFP PHOTO / CHARLY TRIBALLEAU

O escritor norte-americano Richard Ford é o Prémio Princesa das Astúrias de Literatura 2016.

O júri do prémio justificou a decisão pela qualidade de um trabalho onde se destaca a épica irónica e minimalista que define as suas personagens, enredo e argumentos. Acrescentando: “o cuidado no detalhe e nas descrições, o olhar sombrio e denso sobre o quotidiano de seres anónimos e invisíveis, conjugam a desolação e a emoção dos seus relatos. Tudo isto torna Ford um narrador profundamente contemporâneo e o grande cronista do mosaico de histórias cruzadas que é a sociedade norte-americana.”

A candidatura do autor de Dia da Independência, Francamente, Frank, Canadá, A Pele da Terra, Pecados Sem Conta, Mulheres e Homens ou O Jornalista Desportivo foi proposta por anteriores premiados como os escritores Antonio Muñoz Molina (2013) e John Banville (2014) e também pela editora Sigrid Rausing. 

“Sinto que isto deve ser um engano, mas mesmo assim sinto-me muito honrado por ter sido incluído na lista, ainda que por erro”, afirmou o escritor norte-americano Richard Ford esta quarta-feira de manhã ao PÚBLICO depois do anúncio de que era ele o vencedor de 2016 do Prémio Princesa das Astúrias de Letras.

A ironia da reacção é a mesma que colocou na personagem de Frank Bascombe, o antigo jornalista desportivo tornado agente imobiliário da tetralogia de que fazem parte romances como o Dia da Independência (Prémio Pulitzer e Pen/Faulkner em 1995; edição em Portugal pela Presença em 1998) e Francamente, Frank, publicado este ano pela Porto Editora.

Aos 72 anos, Richard Ford sucede a nomes como Leonardo Padura, Jonh Banville, Philip Roth, Margaret Atwood ou Leonard Cohen como vencedor de um dos mais prestigiados prémios literários internacionais, que distingue a obra de um escritor publicado em língua castelhana.

E justamente quando a sua personagem mais famosa, através da qual narra a actualidade política, social, económica e cultura de um país em toda a sua complexidade, completa 30 anos de existência. “Fazer personagens não é muito diferente de nos imaginarmos sendo outra pessoa. Como foi escrever agora sobre Bascombe? Foi um prazer. É uma personagem com a capacidade de me absorver inteiramente e de me permitir falar das coisas mais importantes que eu conheço, não sendo eu. E há também uma coisa muito importante para mim: quero que ele seja ao mesmo tempo sério e divertido”, afirmou Richard Ford numa entrevista ao PÚBLICO a propósito do mais recente título, Francamente, Frank.

Na acção deste último livro, Frank Bascombe reformou-se e reavalia a sua vida num momento de rupturas. São quatro histórias que decorrem no rescaldo da destruição provocada pelo furacão Sandy, em 2012, que foi particularmente violento na costa de Nova Jérsia, o estado onde a personagem vive.

“Interroguei-me, a partir dele, sobre consequências de coisas que sem ele não teria colocado. Consequências de grandes acontecimentos. Foi um meio para me ligar. A grandes acontecimentos naturais, como os incêndios florestais. Ou da vida, como guerras, grandes amores, grandes paixões. Esse é o meu trabalho”, referiu ainda sobre o ponto actual de vida de uma personagem que construiu tinha 39 anos e o acompanhou ao longo de parte de um percurso literário que o coloca entre os grandes narradores da América actual.

Ainda sobre o prémio no valor de 50 mil euros que agora lhe foi atribuído, Ford agradece à sua editora em Espanha, a Anagrama, e diz: “Vou continuar a fazer o que fazem os escritores. Sempre que alguém ganha um prémio prestigiante penso que é um dia bom para a literatura. Sinto-me dessa forma agora.”

 

 

 

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