Irlandês John Banville vence Prémio Príncipe das Astúrias das Letras

Escritor é também o célebre autor de romances policiais, sob o pseudónimo Benjamin Black, que fez ressuscitar o Philip Marlowe de Raymond Chandler.

Foto
John Banville, aquando da conquista do Man Booker Prize, em 2005 Kieran Doherty/REUTERS

O escritor irlandês John Banville foi distinguido, esta quarta-feira, em Oviedo, com o Prémio Príncipe das Astúrias das Letras. O autor de O Mar – que em 2005 lhe valeu o Booker Prize (e foi editado em Portugal pela ASA) –, O Livro das Confissões (Quetzal), Luz Antiga (Porto Editora), ou da série de romances policiais assinados com o pseudónimo Benjamin Black bateu, na decisão final do júri, candidaturas consideradas favoritas como a do espanhol Juan Goytisolo, do japonês Haruki Murakami ou do norte-americano James Salter.

“Três escritores num só. Três mundos com claros e escuros: dois saídos da sua cabeça e outro, alheio, mas ampliado por ele. É assim John Banville”. O jornal El País caracteriza deste modo a figura do escritor irlandês nascido em Wexford, em 1945.

John Banville tornou-se escritor por via autodidáctica, sem passar pela Universidade – “quando era jovem, era muito arrogante e por isso decidi formar-me a mim mesmo, mas agora lamento-o”, disse um dia o escritor, citado pelo jornal ABC –, mas com uma espécie de estágio no jornalismo, depois de ter também trabalhado numa companhia de aviação. Foi editor no The Irish Times e, como jornalista, além de “ganhar a vida”, teve a oportunidade de “escrever aquilo que queria”, sem necessidade de se preocupar em “conseguir um best seller”, comentou na entrevista atrás citada.

A bibliografia de John Banville conta já perto de três dezenas de títulos, desde 1971, entre o romance, o teatro e o ensaio, e um número quase igual de prémios. Mas foi com o Booker Prize conquistado com O Mar em 2005 – “foi agradável ver que uma obra de arte” finalmente conquistava esse prémio, disse, na altura, sem falsas modéstias – que o seu nome saltou em definitivo para a galeria dos grandes autores, surgindo agora recorrentemente quando se fala do Nobel.

Data de 2006 a criação de Benjamin Black, o seu alter ego negro, autor de uma série de novelas policiais tendo como protagonista Quirke, um patologista de Dublin, e que foi inaugurada com O Segredo de Cristina (publicado entre nós pela ASA, em 2010). A série vai já em sete títulos, e, num deles, anunciado em 2013 – The Black-Eyed Blonde (A Ruiva de Olhos Negros, cuja edição em Portugal está já anunciada pela Gradiva) –, o escritor ousou mesmo ressuscitar o detective Philip Marlowe de Raymand Chandler (com autorização da família deste).

“Silencioso, discreto, prudente, pausado, incisivo, elegante… Banville é um narrador que não apenas acredita no encantamento que é contar uma história, mas também, e de uma forma crucial, considera que a beleza da escrita é essencial”, escreve o jornalista do El País Winston Manrique Sabogal na notícia relativa ao Prémio Príncipe das Astúrias das Letras 2014.

O jornal espanhol recorda também declarações do escritor irlandês num chat com os leitores, no ano passado: “O único dever de um autor é escrever boa ficção. Se se tentar misturar arte e política, pode acontecer que disso resulte má arte e má política”.

O Prémio Príncipe das Astúrias das Letras 2014 foi a quinta das oito distinções que a fundação sediada em Oviedo – e que tem como patrono o futuro rei de Espanha, Felipe VI – atribui todos os anos. O júri foi presidido pelo director da Real Academia Espanhola, Jose Manuel Blecua, tendo a candidatura de John Banville – uma das 24 apresentadas, de 14 países – sido proposta pelo vice-director da Real Academia Espanhola, José Antonio Pascual Rodríguez, e pelo embaixador de Espanha na Irlanda, Javier Garrigues.

Antonio Muñoz Molina, Philip Roth, Leonard Cohen, Amin Maalouf, Ismaíl Kadaré e Margaret Atwood são alguns dos autores distinguidos em anos anteriores.

Sugerir correcção
Comentar