Morreu Giorgio Albertazzi, “divo” do teatro italiano

Tinha 92 anos e uma das suas últimas grandes interpretações foi a de imperador em Memórias de Adriano , de Marguerite Yourcenar.

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Giorgio Albertazzi dedicou a vida toda ao teatro e ao cinema, sobretudo na televisão dr

“Um grande actor”, “uma das figuras mais importantes do teatro italiano do século XX”, “um artista clássico e contracorrente”, “um sedutor”, um “divo” – é assim que a imprensa italiana recorda Giorgio Albertazzi, que morreu este sábado aos 92 anos, na Toscana.

“Com Giorgio Albertazzi desaparece um dos maiores intérpretes do teatro e do cinema italiana contemporâneo”, disse o Presidente da República, Sergio Mattarella. “As suas interpretações dos grandes clássicos são marcos na história do espectáculo. Albertazzi, que dedicou ao teatro toda a sua existência, é uma referência e um mestre para gerações de actores e encenadores.”

As últimas vezes que Albertazzi subiu aos palcos foi para interpretar O Mercador de Veneza e A Tempestade, de William Shakespeare, e Memórias de Adriano, de Marguerite Yourcenar (um espectáculo com mais de mil apresentações, dentro e fora de Itália), naquele que foi o culminar de uma grande carreira iniciada em 1949, já com Shakespeare, numa grande produção: Troilo e Créssida, sob a direcção de Luchino Visconti, com cenografia de Franco Zeffirelli e actores como Vittorio Gazzman e Marcello Mastroianni.

Durante os anos seguintes, o actor, nascido em Fiesole em 1923, dividiu-se entre o teatro e o cinema, este sobretudo na televisão. Foi, aliás, a televisão que o tornou famoso, primeiro como actor, com Crime e Castigo, em 1954, e depois com uma emissão em que se tornou um verdadeiro “divo”, como dizem os italianos – chamava-se Encontro com um Livro e nela Albertazzi lia todas as semanas um excerto de uma obra.

O La Repubblica recorda como, “até 1961, Albertazzi participou em todos os grandes sucessos produzidos pela televisão pública Rai, como O Rei Lear, O Idiota ou O Tio Vânia, entre muitos outros”. Na passagem da década de 60 para a de 70, estreou-se na realização, tendo, nomeadamente, realizado e interpretado Jekyll, adaptação de O Estranho Caso do Dr. Jekyll e Mr. Hyde, de Robert L. Stevenson. A partir da segunda metade dos anos 70 dedicou-se exclusivamente ao teatro, apresentando-se várias vezes em Londres, onde se tinha estreado em 1964, no Teatro Old Vic, com um Hamlet dirigido por Franco Zeffirelli, nas celebrações do 400.º aniversário da morte de Shakespeare. 

Em meados da década de 90 tenta uma breve passagem pela política, candidatando-se a deputado pelo centro-direita, mas obtendo apenas 31% das preferências de voto. A política tinha já atravessado, de forma dramática, a sua juventude, quando, na Segunda Guerra Mundial, aderiu à fascista República de Saló, tendo, em 1945, sido preso sob a acusação de ter comandado um pelotão de execução (foi amnistiado e libertado em 1947).

É ainda na década de 90 que assume a direcção do Laboratorio Arti Sceniche Cittá de Volterra, que ele próprio tinha fundado. Em 2003 torna-se director do Teatro de Roma e no ano seguinte faz com o dramaturgo Dario Fo uma série de espectáculos sobre a história do teatro em Itália.

O grande sedutor que, escreve o La Stampa, “viveu sempre rodeado de mulheres”, casou em 2007 com Pia de’ Tolomei, 36 anos mais jovem do que ele (ele tinha 84 e ela 48 quando casaram), que esteve ao seu lado até ao fim. Conta ainda o jornal que Albertazzi “não tinha medo da morte”. Dela, dizia: “É o absoluto, é um mistério. Não precisamos ter medo porque só o não saber o que acontece depois já é excitante. E, se de facto existe o inferno […], os pecadores estão todos nus e talvez ainda nos possamos divertir.”

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