Bildu e Partido Nacionalista Basco empatados nas eleições autonómicas bascas

Aliança independentista de esquerda teve resultado histórico, mas o Partido Nacionalista Basco obteve mais votos e deverá chefiar o executivo autonómico.

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O parlamento do País Basco terá a maior representação de partidos independentistas de sempre Vincent West / REUTERS
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O Partido Nacionalista Basco (PNB) e a aliança independentista de esquerda Euskal Herria Bildu (EH Bildu) ficaram em situação de empate técnico nas eleições autonómicas do País Basco este domingo. Trata-se de um resultado histórico para o Bildu, que confirma o crescimento que lhe era atribuído pelas sondagens.

O Bildu e o PNB acabaram com o mesmo número de deputados (27), mas os independentistas de esquerda alcançaram um crescimento assinalável, conseguindo acrescentar mais seis deputados à sua bancada. Por outro lado, os nacionalistas bascos, que perderam quatro parlamentares face a 2020, receberam mais votos, tendo sido prejudicados pelo sistema eleitoral que atribui o mesmo número de deputados a todas as regiões da província.

Estes resultados representam uma mudança histórica na política basca. Só por uma vez, em 1986, os nacionalistas bascos não foram a principal força política no parlamento autonómica, e nunca haviam ficado atrás dos herdeiros do Batasuna, o braço político da ETA nunca reconhecido como tal (em 1986, ficaram atrás do Partido Socialista do País Basco, o PSE-EE).

Apesar do resultado histórico, a governação do País Basco deverá manter-se nas mãos do PNB que, ao que tudo indica, deverá reeditar a coligação com os socialistas, que voltaram a ser a terceira força política, tendo até conseguindo aumentar a sua bancada ao eleger mais dois deputados. Fica, desta forma, o caminho aberto para que Imanol Pradales, do PNB, se torne no próximo lehendakari, o presidente do País Basco.

O Partido Popular juntou mais um deputado à sua bancada, passando a ter sete, e o Vox, de extrema-direita, conseguiu manter o único que tinha. O Sumar, de esquerda radical, também garantiu um deputado no parlamento basco.

O cenário de empate acaba por ser menos penalizador para o PNB do que aquilo que a generalidade das sondagens pré-eleitorais apontava, que ia no sentido de o Bildu ultrapassar os nacionalistas, tanto em deputados como no número de votos. Cerca de 30 mil votos separaram os dois partidos representantes do independentismo, com vantagem para o PNB.

Na antecipação das eleições deste domingo, o El País escrevia que “a perda da hegemonia” do PNB teria sobretudo um “poderoso valor simbólico” e pode ser interpretado como a concretização de uma “mudança social importante”.

Quase 13 anos depois do abandono da via armada pela ETA e seis anos desde a sua dissolução, o espectro do terrorismo e da sua identificação com o Bildu parece estar a desvanecer-se junto das gerações mais novas, nas quais a aliança independentista tem uma importante base de apoio. Mais do que a questão independentista, foram temas transversais, como a qualidade do sistema de saúde, a falta de habitação ou o emprego, que mais preocuparam os eleitores bascos.

O próximo parlamento basco será também o mais nacionalista de sempre, com a eleição de pelo menos 54 deputados divididos entre os dois partidos independentistas, superando o patamar de 52 nas últimas eleições e em 1986.

O Bildu deverá intensificar a pressão para que seja fechado um acordo com o PSE, mas, segundo a imprensa espanhola, esse é um cenário que choca de frente com o cenário político nacional. Uma quebra da coligação com o PNB a nível autonómico teria como consequência mais provável a perda do apoio dos cinco deputados nacionalistas bascos no Congresso nacional, que são vitais para manter a frágil maioria que suporta o Governo de Pedro Sánchez.

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