IL e Chega vêem “tacticismo” na carta de Pedro Nuno. BE fala em “descoberta” do PS

A IL diz que a disponibilidade do PS, com um prazo, é um “exercício hipócrita”. O Chega vaticina um bloco central até ao OE. E o BE ironiza que o PS descobriu agora que “há condições orçamentais”.

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Rui Rocha, líder da IL, criticou PS por só pensar em "parte do país" Daniel Rocha
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A Iniciativa Liberal (IL) criticou a carta que Pedro Nuno Santos enviou ao primeiro-ministro, Luís Montenegro, por ignorar vários problemas e por ter "um prazo marcado", acusando-o de ser "tacticista". Na mesma linha, o Chega viu na carta a confirmação de que "vamos ter um bloco central em Portugal" até ao Orçamento. Já o Bloco de Esquerda (BE) considerou "curioso" que o PS se tenha apercebido agora de que "há condições orçamentais".

Numa conferência de imprensa realizada na tarde desta segunda-feira, a partir dos Passos Perdidos, na Assembleia da República, Rui Rocha assumiu as despesas da reacção à iniciativa socialista: "Porque é que vale só para o rectificativo? Porque não se resolvem essas questões de uma forma mais profunda, que inclua outras questões?", questionou.

Para o líder da IL, que acusou repetidamente o líder socialista de "tacticismo político", a "declaração de compromisso de prazo marcado [60 dias]", vinda "do partido que não quis resolver estas questões", retira "qualquer valor à disponibilidade manifestada", uma vez que o líder do PS quer discutir a valorização das carreiras antes do OE para 2025, de forma a não se sentir obrigado a viabilizar a proposta orçamental que será apresentada pelo Governo de Montenegro. A estratégia do PS não é bem vista pela IL.

"Não percebo como é que se acha que há um problema para resolver, mas que só existe, de acordo com a visão de Pedro Nuno Santos, se for no [orçamento] rectificativo", notou Rocha. "Se for depois disso, os mesmos problemas e as mesmas soluções já não valem. Isso parece-nos um exercício profundamente hipócrita", criticou Rui Rocha, horas depois de a carta ter sido conhecida.

Por outro lado, Rui Rocha considera que o repto lançado por Pedro Nuno Santos é pouco ambicioso. "É uma carta que deixa uma grande parte do país de fora." "Não está nessa carta o conjunto de famílias que não têm professores para os filhos, não está nessa carta o conjunto de utentes que esperam horas e dias para aceder a serviços de saúde. Não estão nessa carta as famílias e empresas asfixiadas em impostos", exemplificou.

O líder liberal quer saber se o Governo de Luís Montenegro estará disponível para resolver os problemas do país "ou se vai andar sempre atrelado a estas reivindicações, que são atendíveis". Ou se "irá esquecer os restantes problemas. A habitação não é prioridade do PS? Não está nesta carta", assinalou. "Parece tudo demasiado limitado, focado em duas ou três categorias profissionais. É um PS de visão curta", criticou.

Rui Rocha pede ao Governo que assuma de forma clara se irá aceitar a mão do PS ou se irá apostar numa resolução mais "profunda", "estruturada" e alargada. "É preciso perguntar ao primeiro-ministro se, além da carreira de professores, polícias e profissionais de saúde está, ou não, em condições de garantir uma descida de impostos para as famílias; uma reforma do Serviço Nacional de Saúde; se o próximo ano lectivo vai começar com todos os alunos com professores nas escolas ou se, por exemplo, o sistema eleitoral passa a não desperdiçar a quantidade de votos que tem desperdiçado", disse.

Questionado sobre o manifesto lançado nesta segunda-feira por Tiago Mayan Gonçalves, co-fundador da IL, em que o autarca portuense se mostra disponível para ser candidato à liderança dos liberais, Rui Rocha quis fazer apenas "um comentário": "Nós somos liberais e damos sempre as boas-vindas à concorrência. É o único comentário que farei em relação a questões internas do partido."

PS num "beco", PSD em "recuos"

Já o líder do Chega defendeu que, "a partir de agora e até Setembro, vamos ter um bloco central em Portugal". André Ventura falava aos jornalistas, à porta do sub-destacamento territorial da GNR do concelho de Sintra, onde argumentou que, "a partir da tomada de posse, ficou claro que o PSD quer que o PS seja o seu interlocutor e, portanto, é com ele que tem de falar".

O presidente do Chega disse ainda esperar que PS e PSD "criem essas condições de convergência para se entenderem". Mas considerou que o PS "meteu-se a ele próprio num beco do qual não consegue sair". "Quis ser disponível para mostrar que é o adulto na sala e agora já percebeu que a Aliança Democrática lhe disse, "então vais ter que ser tu a aprovar o orçamento", quer despachar a coisa em Junho ou Julho, para não ter que aprovar o Orçamento do Estado".

Do lado do BE, a deputada Marisa Matias optou por salientar que o PSD foi "muito célere a apresentar promessas" para as carreiras da função pública durante a campanha eleitoral e, agora que é Governo, "já não há tanta certeza". "Assistimos a alguns recuos e expressões vagas sobre a intenção de cumprir essas promessas", atirou, numa conferência de imprensa no Parlamento, lembrando que o BE "já apresentou propostas para que todas estas promessas sejam cumpridas".

Quanto à carta do PS, considerou "curioso que haja uma descoberta de que agora há condições orçamentais para dar resposta". Mas não foi taxativa sobre se considera a carta de Pedro Nuno Santos positiva: "O que faz sentido é resolver estes problemas, não faz sentido continuar a arrastá-los", disse apenas. com Lusa

Notícia actualizada com a posição do Chega e do Bloco de Esquerda

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