Inflação baixa e mercado de trabalho forte baralham contas dos bancos centrais

Taxa de inflação na zona euro desceu para 2,4%. Mas desemprego baixo e persistência das pressões inflacionistas nos serviços fazem o BCE ainda hesitar em relação a uma descida dos juros.

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Christine Lagarde, presidente do BCE EPA/RONALD WITTEK
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Na discussão sobre quando e a que velocidade é que os principais bancos centrais mundiais vão começar a baixar as taxas de juro, os indicadores económicos divulgados esta quarta-feira continuaram a apontar em sentidos diversos, tanto na zona euro como nos Estados Unidos, continuando a dar argumentos quer a quem defende um corte forte e imediato das taxas, quer a quem considera ser melhor não ter pressa a declarar o fim da guerra contra a inflação.

Na zona euro, confirmou-se aquilo que os dados publicados nos dias anteriores em países como a Alemanha já indiciavam: a taxa de inflação registou em Março uma descida maior do que o esperado, aproximando-se rapidamente da meta de 2% definida pelo Banco Central Europeu (BCE).

De acordo com a estimativa rápida do Eurostat, a taxa de inflação homóloga na zona euro passou de 2,6% em Fevereiro para 2,4% em Março, um valor que ficou abaixo da expectativa dos analistas que, num inquérito realizado pela Reuters, apontavam para uma estabilização deste indicador nos 2,6%.

Confirma-se assim a tendência, que se tem vindo a verificar desde o final do Outono do ano passado, de um retrocesso da inflação mais rápido do que o esperado na zona euro. Algo que tem vindo a contribuir para que, dentro do Banco Central Europeu, ganhe força a ideia de que já é possível suavizar a política monetária, dando início a uma descida das taxas de juro.

Para além disso, apesar de a descida dos preços da energia ter contribuído para o resultado de Março, também ao nível da inflação subjacente o indicador seguido muito atentamente pelo BCE pelo facto de retirar da análise os preços mais voláteis dos alimentos e da energia se registou uma evolução positiva, passando de 3,3% para 3,1%. Neste caso, a expectativa dos analistas era, em média, de uma descida para 3%.

Espiral salários-preços

No entanto, ao mesmo tempo, há dados que continuam a preocupar, por poderem indiciar uma maior persistência das pressões inflacionistas.

Na zona euro, a taxa de inflação no sector dos serviços manteve-se inalterada em Março, nos 4%. Neste sector de actividade, a evolução dos salários desempenha um papel ainda mais importante e o facto de os preços não estarem a desacelerar faz com que os responsáveis do banco central fiquem com receio de que se esteja perante a criação de uma espiral salários-preços difícil de quebrar.

Também esta quarta-feira, o Eurostat revelou que a taxa de desemprego se manteve no mínimo de 6,5% em Fevereiro. Um mercado de trabalho tão forte é um motivo para pensar que os salários vão continuar a subir e, por isso, a exercerem uma pressão ascendente sobre os preços.

Nos Estados Unidos da América (EUA), o problema é o mesmo. Apesar de a taxa de inflação também estar já perto da meta dos 2%, os sinais de força no mercado de trabalho fazem os responsáveis da Reserva Federal hesitar em avançar rapidamente para descidas das taxas de juro.

Esta quarta-feira, não só voltaram a ser conhecidos indicadores que apontam para um aumento forte dos salários, como Jerome Powell, o presidente da Reserva Federal dos EUA (Fed), reconheceu que “os dados recentes da criação de emprego e da inflação foram mais altos do que o esperado”, concluindo por isso que a autoridade monetária “tem tempo” para decidir uma descida de taxas de juro.

Esta maior hesitação nos EUA constitui também para o Banco Central Europeu um motivo para ser prudente nas suas próprias decisões, uma vez que cortar as taxas de juro mais cedo e mais rápido do que a Fed cria o risco de um enfraquecimento do euro face ao dólar, algo que faz subir os preços dos bens importados, criando mais inflação.

É neste cenário ainda de alguma incerteza que, na próxima semana, os membros do conselho do BCE se irão reunir em Frankfurt. A expectativa, neste momento, é a de que deste encontro não saia ainda uma descida das taxas de juro, mas que, apesar disso, Christine Lagarde, a presidente da autoridade monetária, abra ainda mais a porta à possibilidade de na reunião agendada para 6 de Junho isso vir a acontecer.

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