Bolsonaro passou dois dias na embaixada húngara depois de ficar sem passaporte

Justiça deu 48 horas ao ex-Presidente para que explique a visita. Defesa nega que Bolsonaro tenha pedido asilo político para escapar a uma potencial detenção.

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Jair Bolsonaro está envolvido em várias investigações policiais Reuters/Amanda Perobelli
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Quatro dias depois de ter o seu passaporte confiscado pela Polícia Federal (PF), o ex-Presidente brasileiro Jair Bolsonaro deslocou-se até à embaixada da Hungria em Brasília, onde permaneceu duas noites. As autoridades brasileiras estão a investigar se a visita constituiu uma tentativa de fuga e deram 48 horas ao ex-chefe de Estado para se explicar.

A 8 de Fevereiro, a PF realizou uma grande operação que incluiu buscas na residência de Bolsonaro e intimou-o a entregar o passaporte. As buscas estavam integradas nas investigações a uma alegada tentativa de golpe de Estado que as autoridades policiais acreditam ter partido do ciclo mais próximo do ex-Presidente. Bolsonaro nega todas as suspeitas e diz que é vítima de uma perseguição política.

O jornal norte-americano New York Times (NYT) publicou na segunda-feira imagens captadas pelas câmaras de videovigilância da embaixada húngara que mostram a chegada de Bolsonaro ao fim do dia 12 de Fevereiro. As imagens mostram o ex-Presidente a ser recebido pelo embaixador Miklós Halmai, que parece conduzi-lo numa visita guiada pelas instalações.

Acompanhado por dois seguranças, Bolsonaro fica hospedado numa ala da embaixada com quartos e é possível ver nos vídeos funcionários a transportar lençóis, almofadas e água.

Horas antes de entrar na embaixada, Bolsonaro publicou um vídeo nas redes sociais em que reafirmava a sua inocência e apelava aos seus apoiantes para que se concentrassem a 25 de Fevereiro na Avenida Paulista, em São Paulo.

Não há muitas imagens dos dois dias que Bolsonaro passou na embaixada da Hungria, mas só ao fim da tarde de dia 14 é que se vê o ex-Presidente a entrar num carro para abandonar o edifício. Por se tratar de uma embaixada, as autoridades policiais brasileiras não têm competência para efectuar diligências, como deter Bolsonaro.

O período em que o ex-chefe de Estado permaneceu na embaixada coincidiu com a principal semana do Carnaval e, por isso, a maioria dos funcionários e diplomatas estava de férias. Mas, segundo um funcionário citado sob anonimato pelo NYT, no dia 14 foi enviado a todo o staff da embaixada um email com instruções para que trabalhassem a partir de casa o resto da semana sem que tenha sido dada qualquer justificação.

É conhecida a proximidade entre Bolsonaro e o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán. Uma das poucas visitas que Bolsonaro fez à Europa enquanto Presidente foi à Hungria e, em Dezembro, os dois tinham estado juntos durante a cerimónia de tomada de posse do Presidente argentino, Javier Milei.

Em declarações ao jornal Metrópoles, Bolsonaro admitiu ter visitado a embaixada húngara, mas não esclareceu porque permaneceu dois dias no local. “Não vou negar que estive na embaixada, sim. Não vou falar onde mais estive”, afirmou o ex-Presidente, já depois de o NYT ter publicado as imagens de videovigilância. “Mantenho um círculo de amizade com alguns chefes de Estado pelo mundo. Estão preocupados.”

Os advogados de Bolsonaro disseram que o ex-Presidente “conversou com inúmeras autoridades do país amigo actualizando os cenários políticos das duas nações” e negaram que se tenha tratado de qualquer tentativa de procurar asilo político. "Quaisquer outras interpretações que extrapolem as informações aqui repassadas se constituem em evidente obra ficcional, sem relação com a realidade dos factos, e são, na prática, mais um rol de fake news", afirmam os advogados num comunicado.

Bolsonaro é alvo de várias investigações e recentemente a PF recomendou que fosse acusado formalmente pelo Ministério Público de crimes relacionados com a alegada falsificação de certificados de vacinação contra a covid-19. Se a justiça brasileira considerar que existe perigo de fuga, Bolsonaro poderá ser preso preventivamente.

O juiz do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, responsável pelas investigações em que Bolsonaro está envolvido, deu ao ex-chefe de Estado 48 horas para que explique a visita à embaixada da Hungria.

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