Petição com mais de duas mil assinaturas pede regresso dos manuais em papel

O programa dos livros digitais é voluntário e conta com cada vez mais estabelecimentos de ensino: envolve 23.159 alunos.

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O abaixo-assinado defende que os livros em papel são "recursos mais saudáveis" paulo pimenta
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Mais de duas mil pessoas assinaram uma petição a pedir o fim do projecto-piloto de manuais digitais nas escolas, apontando atrasos na aprendizagem e riscos de acesso a conteúdos indevidos, como pornografia ou violência.

O Ministério da Educação decidiu levar a cabo um projecto de substituição de manuais em papel por livros digitais, que começou de forma gradual em 2020/2021. O programa é voluntário e conta com cada vez mais estabelecimentos de ensino: este ano envolve 23.159 alunos do 3.º ao 12.º anos em cerca de 160 escolas de todo o país, segundo dados avançados à Lusa pela tutela.

No entanto, há pais e professores que estão contra o projecto e pedem a sua suspensão. Há três meses, Catarina Prado e Castro lançou uma petição "Contra a excessiva digitalização no ensino e a massificação dos manuais escolares digitais: Petição Pública (peticaopublica.com)", que conta agora com 2219 assinaturas.

O abaixo-assinado defende que os livros em papel são "recursos mais saudáveis e eficazes para todas as crianças" e por isso pede o "fim imediato do projecto-piloto" dos manuais digitais, lembrando que as crianças e adolescentes já passam tempo excessivo em frente a ecrãs, com consequências negativas para a sua saúde.

"Especialistas das mais variadas áreas, desde a neurociência, à oftalmologia, psicólogos ou professores, têm alertado para a exposição e o uso excessivo de ecrãs, mas a escola decidiu aumentá-lo, sem perguntar aos pais nem aos professores", criticou Catarina Prado e Castro, em declarações à Lusa.

"Aprender através de um ecrã prejudica as aprendizagens, porque diminui a capacidade de leitura, de atenção e de memorização". Alem disso, acrescentou, os computadores onde as crianças têm os livros para estudar são os mesmos "onde estão os jogos e as redes sociais".

A mãe de dois rapazes conta que já percebeu que por vezes os filhos estão a estudar no computador, mas têm também os jogos abertos ou estão a ver vídeos.

Catarina Prado e Castro disse ainda estar preocupada com a navegação online sem supervisão, contando que na escola dos filhos já houve alunos apanhados a ver pornografia ou outros sites inapropriados nos telemóveis.

A mãe alerta que "os riscos nos computadores são precisamente os mesmos, caso os mesmos não tenham filtros, o que nem sempre é garantido na entrega dos computadores e nem sequer é ensinado aos pais".

Além disso, com este projecto-piloto, o acesso à Internet "deixa de ser uma opção dos pais e passa a ser obrigatório em crianças logo a partir dos 7 ou 8 anos", salientou a mãe que defende um acesso controlado à Internet.

"Não quero que os meus filhos passem demasiado tempo a olhar para ecrãs e que em vez de estudarem estejam num registo multitasking a envolver tarefas escolares e recreativas simultaneamente. As crianças usam ecrãs para fins meramente recreativos e não têm capacidade de se auto-regularem no momento em que devem estudar por um dispositivo que oferece inúmeras possibilidades de distracção", disse à Lusa.

A autora do abaixo-assinado revelou que a petição será entregue no início do próximo mês na Assembleia da República.

Mais de 80% dos pais abrangidos por um inquérito que está a ser realizado pelo "Movimento Menos Ecrãs, Mais Vida" querem a suspensão do projecto-piloto. "Temos mais de 200 inquéritos respondidos, envolvendo mais de nove agrupamentos de escolas em Coimbra, Lisboa, Ponte de Lima, Almada, Paço de Arcos, Ponta Delgada e até na Madeira. Apesar de os dados ainda serem preliminares, temos mais de 80% de pais descontentes, que querem que o projecto acabe", garante Catarina Prado e Castro.

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