Chegadas de migrantes às Canárias aumentaram 470% este ano face a 2023

Entre 1 de Janeiro e 15 de Março deste ano, chegaram 12.393 migrantes às ilhas Canárias.

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Migrantes resgatados esta semana em Lanzarote, nas Canárias EPA/Adriel Perdomo
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O número de migrantes que chegaram este ano às ilhas Canárias de forma irregular aumentou 469% em relação ao ano passado, segundo dados do Governo espanhol conhecidos esta segunda-feira.

Entre 1 de Janeiro e 15 de Março, chegaram 12.393 migrantes às Canárias (arquipélago no Atlântico) a bordo de 190 embarcações precárias (conhecidas em Espanha como "pateras"), face a 2178 pessoas no mesmo período de 2023.

Já às costas espanholas do Mediterrâneo (Espanha continental e ilhas Baleares), chegaram, no mesmo período, 2011 migrantes, mais 54% do que em 2023.

O ministro da Administração Interna, Fernando Grande-Marlaska, disse esta segunda-feira numa audição do Senado espanhol que, apesar destes números, "suavizou-se" a chegada de embarcações e migrantes às Canárias nas primeiras semanas de Março.

Segundo um balanço anterior, feito há um mês, as chegadas de migrantes de forma irregular às Canárias entre 1 de Janeiro e 15 de Fevereiro (11.700 pessoas) tinham aumentado 630% em relação a 2023.

O ministro sublinhou que, nos últimos meses, foram reforçados meios de resposta nas Canárias e intensificadas as medidas de cooperação com a Mauritânia, de onde saem mais de 80% das "pateras" que chegam ao arquipélago espanhol.

Espanha está a lidar com um pico inédito de chegadas de migrantes às Canárias, sobretudo desde meados do ano passado. O Governo atribui esse aumento, sobretudo, à instabilidade na região do Sahel.

No mês passado, a Agência Europeia da Guarda de Fronteiras e Costeira (Frontex) revelou que quase todas as rotas migratórias para a União Europeia (UE) registaram uma descida em Janeiro, que variou entre recuos de 71% no Mediterrâneo Central e de 30% nos Balcãs Ocidentais, mas a rota da África Ocidental contrariou a tendência de descida.

A agência europeia explicou que, “nos últimos meses, os grupos criminosos envolvidos no tráfico de seres humanos na Mauritânia aproveitaram rapidamente as oportunidades oferecidas pelo aumento da procura por parte dos migrantes subsarianos que transitam pelo seu país para entrar na União Europeia através das ilhas Canárias”, onde chegam em pequenas embarcações de pesca, quase sempre sobrelotadas.

A 8 de Fevereiro, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, foram à Mauritânia, onde anunciaram ajudas de centenas de milhões de euros ao país africano, para gestão de fluxos migratórios e apoio a refugiados, entre outros objectivos.

A presidente da Comissão lembrou a “situação muito precária” que vive a região do Sahel, com golpes de Estado e violência nos países vizinhos da Mauritânia, que assume “um papel primordial" na garantia da estabilidade nesta zona.

A Mauritânia, sublinhou, além de ser um país de origem de fluxos migratórios para a Europa, está também a acolher centenas de milhares de pessoas de outros Estados próximos, como o Mali, que fogem da violência.

Segundo a organização espanhola Caminando Fronteras, 6618 pessoas morreram no ano passado no mar quando tentavam chegar a Espanha, quase o triplo das vítimas de 2022 e o maior número desde que há registos (2007). Dessas, mais de 6000 morreram na "rota das Canárias".

Além da situação no Sahel, as ONG atribuem o aumento do número de chegadas a Espanha e de mortos no mar aos acordos do Governo de Madrid com Marrocos, passando ao país africano responsabilidades no controlo de fronteiras, que levam os migrantes para as rotas mais longas e perigosas do Atlântico.

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