Descobertas três novas plantas muito raras no extremo norte de Trás-os-Montes

Foram descobertas três novas espécies para a flora portuguesa de Trás-os-Montes. São elas: um tipo de malmequer, uma planta parasita e uma erva dos bosques sombrios.

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Achillea pyrenaica, um tipo de malmequer Miguel Porto
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No extremo norte de Trás-os-Montes, em locais resguardados como orlas de florestas naturais, foram encontradas três espécies de plantas que ainda não eram conhecidas em Portugal. Uma delas é um tipo de malmequer, a segunda é uma planta parasita que se enrola nas outras e a terceira é uma erva dos bosques sombrios. A apresentação destas três novas espécies para a flora portuguesa é feita num artigo científico recentemente publicado na revista Acta Botanica Malacitana.

Essas três novas espécies são plantas herbáceas nomeadas como Achillea pyrenaica, Cuscuta europaea e Epilobium montanum. Todas elas foram encontradas no extremo norte de Trás-os-Montes, nos vales de alguns rios mais remotos. As primeiras observações destas pequenas ervas têm sido feitas desde 2021. Se a Achillea pyrenaica e a Cuscuta europaea foram vistas em apenas um local, a Epilobium montanum já foi detectada em vários.

É mais aquilo que as separa do que aquilo que as une – as três são plantas de famílias botânicas distintas. O habitat é mesmo o que liga essas ervas: vivem em locais associados a rios e protegidos como as orlas de florestas naturais, numa pequena área do extremo norte de Trás-os-Montes. “Num dia bem cheio, podemos vê-las todas a pé. Não obstante tal facto, não aparecem juntas. Hão-de ter as suas particularidades e preferências específicas”, indica ao PÚBLICO Miguel Porto, investigador da associação Biopolis/Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (Cibio-InBio) da Universidade do Porto.

Vejamos como é cada uma destas plantas.

Um tipo de malmequer

Não há nenhuma outra planta parecida com a Achillea pyrenaica. Apesar de existirem mais duas espécies do mesmo género, essas plantas são diferentes da que foi agora encontrada. “A razão pela qual ainda não era conhecida, sendo tão diferente, é certamente porque só existe numa área pequeníssima, menos de dois metros quadrados”, justifica Miguel Porto. “Sem uma boa dose de sorte – e na época do ano certa –, não se encontra o local.”

A Achillea pyrenaica é um tipo de malmequer. Se se olhar apenas para a flor, é possível que não se distinga de outros que já conhecemos, indica Miguel Porto. Mas, acrescenta, se olharmos para as folhas e o aspecto da planta, consegue perceber-se a diferença.

A Achillea pyrenaica, um tipo de malmequer Miguel Porto
A Achillea pyrenaica, um tipo de malmequer Miguel Porto
A Achillea pyrenaica, um tipo de malmequer Miguel Porto
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A Achillea pyrenaica, um tipo de malmequer Miguel Porto

Uma parasita de urtigas

A Cuscuta europaea não é nada fácil de identificar. As suas flores são muito pequenas, tem “um emaranhado de caules finos” e praticamente nem tem folhas. “Todas as outras espécies de Cuscuta já conhecidas são também assim e para a distinguir com segurança tem mesmo de se olhar atentamente para o interior das flores – à lupa”, aconselha o botânico.

Esta é uma planta parasita. O seu modo de acção é o seguinte: enrola-se nas outras plantas e suga-lhes a seiva com umas “agulhas especializadas”, descreve Miguel Porto, indicando que vive à custa do seu hospedeiro. A sua grande preferência para parasitar são as urtigas, o que ajuda na sua identificação. “As outras espécies de Cuscuta, ainda que muito parecidas, geralmente parasitam outro tipo de plantas”, nota o botânico. Além disso, não tem clorofila, acabando por não ser bem verde e não fazer a fotossíntese.

Cuscuta europaea, uma planta parasita que se enrola nas outras Miguel Porto
Cuscuta europaea, uma planta parasita que se enrola nas outras Miguel Porto
Cuscuta europaea, uma planta parasita que se enrola nas outras Miguel Porto
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Cuscuta europaea, uma planta parasita que se enrola nas outras Miguel Porto

Uma erva dos bosques sombrios

A Epilobium montanum é uma erva encontrada em bosques sombrios. Tem folhas bastante largas, tendo em conta o seu género, o Epilobium. “Há que confirmar várias características para ter alguma segurança na sua identificação”, aconselha Miguel Porto, que é autor do artigo que apresenta as três plantas, juntamente com Sara Lobo Dias, da Escola Superior Agrária de Santarém, e Paulo Alves, da empresa de consultoria Floradata-Biodiversidade, Ambiente e Recursos Naturais.

Epilobium montanum, uma erva dos bosques sombrios Miguel Porto
Epilobium montanum, uma erva dos bosques sombrios Miguel Porto
Epilobium montanum, uma erva dos bosques sombrios Miguel Porto
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Epilobium montanum, uma erva dos bosques sombrios Miguel Porto

Quanto às duas últimas plantas, Miguel Porto indica que são espécies parecidas com as que já eram conhecidas em Portugal. “Talvez isso seja uma das razões por que não tinham sido ainda sido encontradas ou confirmadas – por possível confusão com espécies semelhantes”, suspeita.

Miguel Porto não tem dúvidas quanto à importância da descrição destas três plantas: “Portugal tem mais três espécies silvestres conhecidas, as três muito raras!” Para si, estas descobertas confirmam a “extrema riqueza da flora transmontana”, e que há muito por descobrir. “Trás-os-Montes é uma região absolutamente formidável em termos de flora e estas três espécies vêm confirmar novamente esse elevadíssimo – e frágil – valor que temos cá em Portugal e que parece não se esgotar”, declara. E questiona: quantas mais espécies de plantas haverá por descobrir?

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