Biden elogia discurso de Schumer que falava em afastamento de Netanyahu

Presidente diz que “foi um bom discurso”. As palavras do líder da maioria do Senado foram recebidas como um “terramoto”.

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O navio Open Arms, com ajuda humanitária, chegou a Gaza EPA/MOHAMMED SABER
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O Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse que não ia comentar mais as palavras do líder democrata do Senado, Chuck Schumer, mas disse que este “fez um bom discurso”, e que “expressou graves preocupações, que são partilhadas por muitos americanos”.

A afirmação de Biden em relação a palavras que causaram “um terramoto”, segundo o diário israelita Haaretz, e que estão a ser vistas como marcando um momento decisivo na relação entre os Estados Unidos e Israel, foi mais um passo num tom crescente de incómodo e crítica vindo da Administração de Joe Biden.

Chuck Schumer é, sublinha o Haaretz, o político judeu no mais alto cargo eleito da História dos Estados Unidos e um forte defensor de Israel nos seus 25 anos no Senado. Schumer esteve contra o então Presidente, Barack Obama, na assinatura do acordo nuclear com o Irão, a que Israel se opunha. Não é um democrata da ala progressista, mas sim, “provavelmente, o aliado democrata mais importante que Israel já conheceu a seguir a Joe Biden”, escreve Ben Samuels, o correspondente do jornal em Washington D.C..

“As palavras de Schumer solidificaram de imediato uma tendência que tem estado em curso desde a ascendência de Netanyahu, com altos e baixos na intensidade ao longo dos anos mas constantemente a ir na mesma direcção: Netanyahu é agora persona non grata no Partido Democrata, quer para apoiantes quer para críticos de Israel”, escreve ainda Samuels.

Schumer disse que era importante que houvesse “um debate novo sobre o futuro de Israel”, e que para isso acontecer eram precisas eleições. E criticou duramente o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, dizendo que este “perdeu o norte ao permitir que a sua sobrevivência política tivesse precedência sobre o interesse de Israel”.

“Ele tem estado demasiado disposto a tolerar as mortes de civis em Gaza, o que está a levar o apoio global a Israel para níveis historicamente baixos, disse ainda Schumer. “Israel não conseguirá sobreviver se se tornar um pária.”

De Israel e do Partido Republicano as reacções foram ferozes. Israel não é “uma república das bananas”, disse uma fonte do Likud citada pela BBC, enquanto o republicano Lindsey Graham classificou o discurso como “tremendamente mau” ao “pedir ao povo de Israel que derrube o próprio Governo”.

Os Estados Unidos têm vindo a mostrar cada vez mais desagrado com a falta de ajuda humanitária na Faixa de Gaza, levando a cabo entrega de ajuda através de aviões, o que é um modo muito pouco eficaz, caro, e perigoso. Nesta sexta-feira, os EUA levaram a cabo a 11.ª operação de ajuda lançada por via aérea, no mesmo dia em que chegou a Gaza, ainda pela primeira vez, a ajuda por via marítima a partir de Chipre, com 37 milhões de refeições, considerado um “teste-piloto” para um corredor humanitário marítimo entre Chipre e Gaza.

No entanto, esta ajuda é considerada apenas uma gota que não chega para suprir consideravelmente a enorme necessidade.

Ofensiva em Rafah

Além disso, Israel voltou a anunciar uma ofensiva em Rafah. Ainda que esteja a ser feito desde o início de Fevereiro com níveis diferentes – e levando de imediato a avisos dos EUA ao Egipto –, desta vez foi anunciada a aprovação, por Netanyahu, de um plano do Exército para uma operação em Rafah, com, segundo o Haaretz, a indicação de que os militares estão a preparar-se para retirar civis da cidade, não sendo claro para onde, já que Rafah é onde está a maior parte dos deslocados, cerca de 1,4 milhões de pessoas (de uma população total de cerca de 2,2 milhões).

O secretário de Estado Antony Blinken repetiu que os Estados Unidos não tinham ainda visto um plano credível e “concretizável” para a operação em Rafah que “assegure não só que os civis não ficam em perigo, mas que, uma vez que não estejam em perigo, sejam devidamente assistidos”.

Enquanto isso, uma avaliação dos serviços secretos feita antes da recente escalada do mal-estar entre EUA e Israel, citada pelo New York Times, questionava quão realista era o objectivo israelita de “erradicar” o Hamas (que faz parte da justificação para atacar Rafah).

“Israel irá, provavelmente, encontrar resistência armada do Hamas durante anos e anos, e o Exército irá ter dificuldades em neutralizar a infra-estrutura subterrânea do Hamas, que permite aos insurrectos esconder-se, ganhar força e surpreender as forças israelitas”, diz o documento.

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