Ouro volta a bater recorde com expectativa de corte nos juros

O ouro tocou nos 2164 dólares por onça nesta quinta-feira, um novo máximo histórico. Incerteza geopolítica e expectativa de corte de juros levam investidores a apostar neste activo de refúgio.

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Ricardo Lopes
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O ouro continua a valorizar nos mercados internacionais e bateu novo recorde na sessão desta quinta-feira, numa altura em que a instabilidade geopolítica e as expectativas de uma decisão de corte nas taxas de juro por parte da Reserva Federal norte-americana (Fed) estão a levar a uma maior aposta neste activo de maior estabilidade.

Por esta altura, o ouro segue a valorizar 0,4% e a negociar nos 2158 dólares por onça (31,10 gramas), mas, esta manhã, chegou a tocar nos 2164,09 dólares por onça, um novo recorde. O metal precioso acumula, assim, a sexta sessão consecutiva a negociar em alta, ao mesmo tempo que vai renovando máximos históricos.

Na origem deste movimento está a antecipação de um corte nas taxas de juro de referência da maior economia mundial, que já desde o Verão do ano passado se mantêm inalteradas, num intervalo entre 5,25% e 5,5%.

Isto depois de, na quarta-feira, o presidente da Fed, Jerome Powell, ter reafirmado que o banco central norte-americano espera cortar as taxas de juro ainda este ano, embora ressalvando que o progresso desejado na inflação não está assegurado.

"Estamos à espera de ter maior confiança de que a inflação está a caminhar de forma sustentada para os 2%. Quando tivermos essa confiança, e não estamos longe disso, será apropriado começar a recuar na restritividade da política monetária [que tem mantido as taxas de juro em níveis elevados], para que não levemos a economia para uma recessão", disse Jerome Powell, ouvido por um comité do Senado norte-americano.

As declarações do presidente da Reserva Federal surgem depois de, no comunicado divulgado em Janeiro, após a última reunião de política monetária, a Fed ter alertado para a incerteza das perspectivas económicas, salientando ao mesmo tempo que o comité de política monetária "continua muito atento aos riscos de inflação". Em Janeiro, a inflação nos Estados Unidos registou uma variação de 3,1% face a igual período do ano passado, valor que representa um abrandamento face à taxa de 3,4% que tinha sido verificada em Dezembro, mas que ainda está longe do objectivo de 2%.

O discurso de Jerome Powell no Congresso norte-americano foi, ainda assim, suficiente para manter as expectativas de um corte nas taxas de juro já em Junho, um cenário que, a confirmar-se, deverá levar a um enfraquecimento do dólar e consequente desvalorização de activos indexados à moeda norte-americana. Na sessão desta quinta-feira, o dólar recuou contra a generalidade das suas contrapartes, com o euro a valorizar em torno de 0,35% contra a moeda norte-americana.

A isto, acresce um cenário de instabilidade a nível geopolítico, com as atenções a virarem-se não só para as eleições que vão decorrer este ano em vários países, Estados Unidos incluídos, mas, sobretudo, para as tensões no Médio Oriente.

Nas últimas sessões, os receios dos investidores têm vindo a agravar-se com os ataques de rebeldes houthis do Iémen no mar Vermelho, uma resposta aos ataques de Israel à Faixa de Gaza que tem feito disparar os preços do petróleo e de outras matérias-primas transportadas naquela rota. Ainda esta semana, o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros do Governo liderado pelos houthis anunciou que "o Iémen continuará a afundar navios britânicos".

O ouro apresenta-se, assim, como um activo de refúgio e as expectativas são de que a tendência de ganhos venha a prolongar-se nas próximas sessões. "Temos um grupo restrito de activos a que os investidores podem de facto chamar refúgio – e o ouro é o número um entre eles", comenta um analista do HSBC à Reuters.

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