Reino Unido vai (afinal) deixar entrar orquestra de afegãs com asilo em Portugal

Grupo está actualmente sediado em Portugal e integra 47 jovens que fugiram aos taliban em 2021. Orquestra teve vistos inicialmente recusados, mas pressão pública reverteu decisão.

Foto
Orquestra viu entrada no Reino Unido proibida Reuters/Ahmad Masood
Ouça este artigo
00:00
02:33

Uma orquestra de jovens refugiadas afegãs com asilo em Portugal vai poder, afinal, entrar no Reino Unido para dar quatro concertos. As autoridades tinham proibido a entrada das jovens em território britânico, alegando que as informações dadas sobre as estudantes eram escassas. Em causa estavam dúvidas sobre se as jovens pertenciam efectivamente a uma escola e se tinham meios financeiros para fazer a viagem. Esta recusa originou uma maré de críticas que levou a que os responsáveis repensassem a decisão e concedessem os vistos necessários para a entrada da orquestra.

“Tocámos por todo o mundo desde que saímos [do Afeganistão], mas nunca tínhamos enfrentado isto”, lamentou o director da orquestra, Ahmad Sarmast, em declarações ao jornal The Guardian. A “nega” das autoridades britânicas seria um “golpe significativo” na digressão internacional Breaking the Silence [Quebrar o Silêncio, em português], iniciativa que tem como objectivo alertar para a negação dos direitos culturais das mulheres no Afeganistão sob o regime dos taliban.

A orquestra reúne 47 jovens com idades entre os 14 e os 22 anos e está actualmente sediada em Portugal, país que concedeu asilo ao grupo incorporava o Instituto Nacional de Música do Afeganistão desde 2010. Quando os taliban tomaram o poder, este instituto foi transformado num centro de comando do novo Governo. Os gabinetes foram pilhados, as contas bancárias congeladas e os instrumentos deixados ao abandono.

Depois de fugirem para o Qatar em 2021 após a tomada de Cabul, as jovens foram acolhidas em Portugal, local onde têm acesso ao estatuto de imigrantes e acesso à escola e serviço de saúde públicos. Foi após a chegada a Portugal que se materializaram os ensaios que culminam agora na digressão internacional. Para o Reino Unido, estão marcados espectáculos em Londres, Birmingham, Manchester e Liverpool. Antes, a orquestra já tinha actuado em França, Itália, Suíça e Alemanha, entre outros países – factor que causou ainda mais estranheza quando recebida a proibição.

“O principal propósito da orquestra é não só partilhar a música afegã enquanto esta é proibida e suprimida [sob o regime dos taliban], mas atingir diplomacia cultural – pessoa a pessoa – um pouco por todo o mundo”, relata o director da orquestra.

Depois da proibição, a orquestra redobrou apelos à sensibilidade das autoridades britânicas. A esta voz juntaram-se muitas outras, incluindo a da deputada Diana Johnson, do Partido Trabalhista. Numa publicação na rede social X (antigo Twitter) a responsável felicitou a reversão da proibição, agradecendo a todos os que se uniram em prol da realização dos concertos no Reino Unido.

Sugerir correcção
Comentar