Representantes de Sinéad O’Connor querem que Trump pare de usar a sua música

Ex-Presidente americano usou Nothing compares 2 u em dois comícios na semana passada. Sinéad “teria ficado enojada”, dizem os gestores do seu legado.

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Sinéad O'Connor em 2011 MARIO ANZUONI/Reuters
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Depois de na semana passada a versão de Sinéad O’Connor de Nothing compares 2 u ter sido reproduzida em comícios de Donald Trump nos estados norte-americanos de Maryland e da Carolina do Norte, os gestores do legado da artista falecida em Julho passado estão a exigir que o ex-Presidente dos Estados Unidos e possível candidato do Partido Republicano nas eleições deste ano deixe de utilizar a música da cantora irlandesa.

“É sabido que, ao longo da sua vida, Sinéad viveu de acordo com um código moral feroz, definido pela honestidade, amabilidade, justiça e decência para com os outros. Foi, portanto, com indignação que soubemos que Donald Trump tem usado a sua versão icónica de Nothing compares 2 u nos seus comícios”, escrevem os representantes de Sinéad num comunicado.

“Não é exagero dizer que ela teria ficado enojada, magoada e insultada” com a utilização do seu trabalho por parte de “alguém a quem ela própria se referiu como um ‘demónio bíblico’”, acrescentam. Foi em 2020, numa entrevista à revista irlandesa Hot Press, que Sinéad descreveu Trump nesses termos.

Esta não é a primeira vez que artistas ou os seus representantes condenam o uso da sua música por parte de Trump. Há um ano, o guitarrista britânico Johnny Marr, co-fundador dos Smiths, manifestou o seu desagrado com a utilização de Please, please, please let me get what I want, tema da histórica banda inglesa que escreveu com o vocalista Morrissey. Há quase 15 anos, Marr já havia deserdado anos de elogios de David Cameron, ex-líder do Partido Conservador britânico (2005-2016) e primeiro-ministro (2010-2016). “Pare de dizer que gosta dos Smiths. Não, não gosta. Eu proíbo-o de gostar”, escreveu numa publicação no antigo Twitter (actual X).

Tal como Johnny Marr, também Bruce Springsteen já rejeitou associações indesejadas a Trump. Em 2016, na altura da primeira campanha presidencial de Trump, o emblemático músico norte-americano mostrou a sua oposição ao uso de Born in the USA, quando apoiou a candidatura de Hillary Clinton após a comitiva de Trump ter reproduzido o clássico tema num comício. A música já foi muitas vezes considerada tragicamente mal-interpretada: ouça-se o refrão fora de contexto e não se compreenderá que a canção é uma reflexão crítica sobre as dificuldades enfrentadas pelos veteranos da guerra do Vietname após o seu regresso a casa. Springsteen também já se opusera à sua apropriação por parte do conservador Ronald Reagan, na sua campanha presidencial de 1984.​

Adele, a banda Aerosmith, os Beatles, Elton John, os Guns n’ Roses, Neil Young, Phil Collins, Prince, os R.E.M., Rihanna, os Rolling Stones ou os White Stripes também fazem parte de uma lista razoavelmente comprida de artistas que contestaram (ou eles próprios ou, no caso de artistas já falecidos, os seus representantes) a utilização da sua música em comícios de Trump.

Escrita originalmente por Prince e gravada pelo seu grupo paralelo The Family em 1985, Nothing compares 2 u tornou-se popular com Sinéad O’Connor, que registou a sua versão em 1990. O tema tornar-se-ia a música mais emblemática do repertório da artista irlandesa, que se notabilizou igualmente pela sua denúncia corajosa dos crimes da Igreja Católica.

A cantora, compositora e activista foi encontrada sem vida na sua residência em Londres a 26 de Julho de 2023. Tinha 56 anos. A autópsia declarou que morreu de causas naturais.

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