Mudanças no acesso à urgência em Gaia/Espinho “beneficiarão não só os urgentes”

“Com esta medida não estamos a abandonar ninguém. Dar-se-á uma alternativa certa, com hora e sítio marcados, mas primeiras 24 horas”, explica administrador da unidade de saúde.

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Hospital de Vila Nova de Gaia/Espinho é uma das ULS com novos critérios de admissão à urgência LUSA/ESTELA SILVA
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A mudança no modelo de atendimento nas urgências do Hospital de Vila Nova de Gaia/Espinho, que a partir da próxima terça-feira só atenderá utentes referenciados, vai beneficiar todos os doentes e não só os realmente urgentes, considerou hoje o presidente do conselho de administração daquela unidade de saúde.

"É importante explicar às pessoas que a urgência trata coisas que mais ninguém pode tratar: AVC, acidentes de viação, enfartes (...). Quando um dos nossos precisar, também não vai querer esperar. Ninguém nos vai perdoar se deixarmos uma pessoa com um enfarte na sala de espera uma ou duas horas (...). Com esta medida não estamos a abandonar ninguém. Dar-se-á uma alternativa certa, com hora e sítio marcados, nas primeiras 24 horas", disse Rui Guimarães.

Em declarações à agência Lusa, o presidente da Unidade Local de Saúde Gaia/Espinho (ULSGE) mostrou-se "entusiasmado" com o alargamento do projeto-piloto Ligue Antes, Salve Vidas, que foi testado na Póvoa de Varzim e em Vila do Conde e que implica que o atendimento nas urgências tem de ser sempre precedido pela referenciação através da linha SNS 24, do CODU/INEM, de cuidados de saúde primários, de médicos ou de outra instituição de saúde.

Além da ULSGE, este alargamento estende-se à Unidade Local de Saúde de Entre Douro e Vouga, indica a portaria publicada na terça-feira em Diário da República.

"Estamos a tentar provar que as pessoas têm vantagens se, antes de saírem de casa – não é quando entram na urgência –, procurarem saber pela linha SNS 24 qual é a melhor solução: a urgência, o acesso em proximidade com a equipa de saúde familiar ou os autocuidados", referiu.

Recorrendo a um exemplo de um paciente que se queixa de uma dor no joelho, Rui Guimarães apontou que na urgência o doente será classificado como verde, podendo esperar duas, três ou quatro horas, para depois ser tratado de forma paliativa, dando privilégio ao alívio das dores e à sintomatologia, enquanto nos cuidados de saúde primários será estudado o caso.

"A pessoa tem de perceber que se ligar para a linha, pode conseguir uma consulta no médico de família para dali a duas horas, por exemplo. A pessoa vai lá estar 15/20 minutos, que é o tempo que demora uma consulta aguda, e sairá com medicação recomendada, exames pedidos e é iniciado o estudo de caso (...). Este modelo vai beneficiar todos os doentes e não só os realmente urgentes", disse Rui Guimarães.

À Lusa, o presidente daquela ULS frisou uma outra dimensão como "vantagem" deste modelo, a dos profissionais.

"Numa altura em que se fala de retenção de talentos e motivação dos profissionais, esta é também uma forma de respeitarmos as equipas que fazem urgência. Na pandemia houve muitos aplausos à janela (...), a população reduziu drasticamente a ida à urgência, só iam por coisas graves. Era uma fase de respeito pelos profissionais e agora é isso que voltamos a pedir. Enfermeiros, assistentes operacionais e médicos que trabalham na urgência estão cansados de, noite após noite, verem casos que não são urgentes e que consomem recursos e o tempo de pessoas que deviam estar a fazer coisas realmente urgentes", disse.

Sobre o papel dos cuidados de saúde primários, Rui Guimarães destacou a importância deste nível de cuidados à população e o facto de os concelhos de Vila Nova de Gaia (distrito do Porto) e de Espinho (distrito de Aveiro) terem, disse, "uma cobertura de médicos de família muito próxima dos 100%". "Aqui não há nenhum atirar de responsabilidade de um sítio para outro. A articulação é mais simples e ganham todos", concluiu.

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