Hacker de Viseu que EUA querem extraditar promete colaborar com autoridades portuguesas

Diogo Santos Coelho conseguiu que o Ministério Público português pedisse a sua extradição ao Reino Unido, onde está preso desde Janeiro de 2022.

Foto
O hacker Diogo Santos Coelho, 23 anos, está preso preventivamente há mais de dois anos Daniel Rocha (arquivo)
Ouça este artigo
00:00
04:12

O Ministério Público português mandou há dias emitir mandados de detenção em nome do jovem português de 23 anos, que é suspeito de criar e administrar uma das maiores plataformas de venda de dados roubados do mundo, a RaidForums, encerrada numa operação policial internacional liderada pelo FBI em 2022.

Pode parecer estranho, mas isso foi uma vitória para Diogo Santos Coelho que está preso preventivamente no Reino Unido desde Janeiro de 2022, a pedido das autoridades norte-americanas. É que se for julgado nos Estados Unidos, o jovem, indiciado pelos crimes de conspiração, fraude no acesso a dispositivos e roubo de identidade agravado, arrisca uma pena de prisão que pode chegar aos 57 anos.

É para evitar este cenário que o defesa do hacker, natural de Viseu e que residia na zona de Braga, se opôs à extradição pedida pelos norte-americanos. Entretanto, conseguiu convencer as autoridades portuguesas a fazerem um pedido de extradição ao Reino Unido, como avançou esta terça-feira a CNN. “Em troca o meu cliente aceitou dar o seu consentimento à extradição e ofereceu-se para colaborar com as autoridades portuguesas para identificar ou tentar identificar quem transaccionou os dados”, explica ao PÚBLICO João Medeiros, advogado do hacker.

A plataforma que Diogo Santos Coelho terá criado com apenas 14 anos chegou a ter cerca de meio milhão de utilizadores. Funcionava como um fórum que transaccionava enormes quantidades de dados roubados online, como números de cartões de crédito, referências de contas bancárias, credenciais de acesso ou senhas e nomes de utilizadores.

O hacker português, que reconhece que criara e administrara a plataforma, é suspeito de ter actuado como intermediário em vários negócios de venda de dados roubados, recebendo comissões habitualmente pagas em criptomoedas. É estes vendedores e compradores que promete agora ajudar as autoridades portuguesas a identificar.

João Medeiros explica que, em Portugal, o inquérito contra Diogo Santos Coelho corre no Departamento Regional de Investigação e Acção Penal do Porto, já que o jovem vivia na zona de Braga, a partir de onde terá praticado parte dos crimes. Inicialmente uma procuradora deste departamento rejeitou fazer o pedido de extradição às autoridades inglesas, mas a decisão foi revertida há dias após uma reclamação hierárquica feita pela defesa.

Diagnosticado como autista

Perante o interesse de dois países diferentes em julgar o mesmo suspeito, caberá à Justiça inglesa decidir para onde enviar Diogo Santos Coelho, uma disputa que ainda se adivinha longa.

Neste momento, o jovem – que inicialmente esteve numa cadeia - está em prisão domiciliária numa casa comunitária que o Estado inglês tem para esse efeito. Foi já durante o processo judicial, explica João Medeiros, que, no âmbito de diversos exames médicos pedidos pela defesa, foi diagnosticado como autista.

Diogo Santos Coelho foi detido num aeroporto inglês numa altura em que entrava naquele país com o objectivo de visitar a mãe, que sofre de uma doença neurodegenerativa e se encontra internada num lar. Apesar de ser considerado um génio da informática, o jovem português não terá sequer terminado o ensino secundário.

Quando era pequeno os pais terão emigrado para o Reino Unido, onde viveu até aos pais se separarem. Quando isso aconteceu, a mãe ficou em Inglaterra e o jovem regressou com o pai a Portugal.

Numa entrevista dada em Janeiro de 2021, um ano antes de ser detido, Diogo Santos Coelho afirmou que não acreditava na tentativa de vender dados por centenas de milhares de dólares, como faziam outros hackers, e que quando criou o RaidForums o objectivo inicial não era ganhar dinheiro.

“A ideia nunca foi ganhar dinheiro, pois não havia opções para nos pagar no início. Começámos eventualmente a aceitar doações para ajudar na manutenção, tais como custos de servidor. À medida que o website evoluiu para o que é hoje em dia, oferecemos classificações como muitos outros websites, mas mesmo assim somos muito mais baratos e nunca exigimos assinaturas”, afirmou.

Confrontado com a comercialização de dados confidenciais obtidos ilicitamente, o hacker português disse que “não lhe cabia a si policiar o que os assinantes do site comercializavam naquilo que são uma espécie de sub-fóruns da plataforma que criou”.

“Não devo ser pessoalmente responsável pelo que as pessoas vendem ou não, pois não há forma de eu saber pessoalmente se estes utilizadores estão de facto na posse de quaisquer dados que afirmam estar a negociar. E não posso saber pessoalmente se obtiveram os referidos dados legal ou ilegalmente”, argumentou o hacker.

Sugerir correcção
Ler 4 comentários