A PSP ameaça fazer um golpe de Estado: boicotar as eleições legislativas

Com a rebelião policial, Portugal começa a não ser um Estado de direito.

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O presidente do Sindicato Nacional da Polícia, Armando Ferreira, transformou-se este sábado numa ameaça à ordem pública, cuja defesa a sua profissão alegadamente o obriga. Como quem bebe um copo de água, Ferreira afirmou, na SIC Notícias, que as eleições legislativas de 10 de Março poderão não vir a realizar-se. “Julgo que pode haver essa possibilidade. Quem transporta os boletins de voto são as forças de segurança, quem transporta as urnas de voto são as forças de segurança, e se acontecer algo igual ao que está a acontecer agora…”, disse o sindicalista, depois de declarar “temer” que “o senhor primeiro-ministro, se calhar”, não venha a ficar “em funções só até dia 10 de Março”.

O que aconteceu neste sábado, com as baixas fraudulentas de polícias que se recusaram a trabalhar no jogo Famalicão-Sporting – e à porta do estádio houve confrontos entre adeptos dos dois clubes –, pode repetir-se. Foi isso que o presidente do sindicato tinha para comunicar ao país naquela memorável intervenção em que indiciou a possibilidade de golpe de Estado. A polícia, segundo o senhor Armando Ferreira, admite continuar a boicotar jogos de futebol, como fez neste sábado.

Havia uma frase habitual no século XX que era “nunca se encontra um polícia quando é preciso”. O problema é que, por estes dias, não se encontra um Presidente da República, um primeiro-ministro e um ministro da Administração Interna.

Neste sábado, enquanto o presidente do sindicato pronunciava a ameaça inadmissível num Estado de direito, os altos responsáveis nacionais deviam estar todos em dia de reflexão por causa das eleições legislativas regionais dos Açores. Devem ter achado que qualquer coisa que dissessem perante esta tentativa de atentado ao Estado de direito por parte do presidente do sindicato da polícia iria influenciar os eleitores do Pico ou de São Jorge a mudar o sentido de voto.

É um facto que o Governo está em gestão e não tem, neste momento, grande capacidade para resolver a justa reivindicação das polícias. Mas também é verdade que um governo de gestão conseguiu tomar uma decisão na questão dos agricultores. A latitude do governo de gestão já foi experimentada em Portugal noutras ocasiões, nomeadamente aquando da assinatura do memorando da troika.

Agora, foi um erro político lamentável satisfazer as reivindicações da Polícia Judiciária, deixando a PSP de fora. Aparentemente, nem o ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, sabia da decisão de António Costa, tomada apenas em conjunto com a ministra da Justiça.

Era fácil prever que resolver os problemas da PJ e deixar a PSP de lado iria inflamar o barril de pólvora. Por razões que não saberemos, Costa optou por usar os dois pesos e duas medidas. O Presidente da República já defendeu que “as polícias da PSP e GNR devem ter um regime compensatório equiparado ao da PJ”.

Tendo as polícias toda a razão, a carta da plataforma dos sindicatos é inaceitável ao ameaçar que os próximos protestos das forças de segurança poderão estar fora da lei. Ao afirmar que “não tem condições de enquadrar” os futuros protestos e que, doravante, estes “atingirão proporções indesejáveis”, está a dizer que as polícias ameaçam o Estado de direito que juraram defender. Mesmo sendo dia de reflexão para as eleições dos Açores, toda a gente está a perceber qual é a campanha que está a crescer com isto, sabendo-se a infiltração partidária em várias associações policiais.

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