Mark Zuckerberg pede desculpa por falhas na protecção de crianças nas redes sociais

Directores executivos da Meta, TikTok, X e Snapchat estiveram presentes numa audiência no Senado norte-americano e ouviram depoimentos de jovens vítimas de abuso e exploração nas redes sociais.

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Pais que perderam filhos por suicídio seguraram as suas fotografias durante toda a audiência EPA/TASOS KATOPODIS
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Directores da Meta, TikTok e X testemunharam esta quarta-feira no comité judiciário do Senado dos Estados Unidos, em Washington, perante legisladores e pais preocupados com os efeitos das redes sociais em crianças e jovens. Mark Zuckerberg, fundador e líder da Meta (detentora do Facebook, Instagram e WhatsApp), pediu desculpa às famílias de algumas vítimas de incidentes resultantes do uso de redes sociais.

Predadores sexuais, recursos viciantes, suicídio e transtornos alimentares, padrões de beleza irrealistas ou assédio moral — são apenas algumas das questões com que os jovens lidam nas redes sociais. Defensores dos direitos das crianças e legisladores dizem que as empresas não estão a fazer o suficiente para proteger os mais jovens.

Os directores executivos da Meta, TikTok, X (antigo Twitter), além de outras empresas de redes sociais, compareceram esta quarta-feira numa audiência do comité judiciário do Senado, que começou com a divulgação de depoimentos gravados de pais e crianças, que disseram que os seus filhos ou os próprios foram explorados nas redes sociais.

Durante toda a audiência, que durou horas, pais que perderam filhos por suicídio seguraram, em silêncio, fotos das crianças e jovens.

“Eles são responsáveis por muitos dos perigos que os nossos filhos enfrentam online”, disse Dick Durbin, da maioria democrata no Senado dos EUA, que preside ao comité, no seu discurso de abertura. “As suas escolhas de design, a ausência de investimento adequado em confiança e segurança, a busca constante por aliciamento e lucro em detrimento da segurança básica, colocaram os nossos filhos e netos em risco."

Numa acalorada sessão com Mark Zuckerberg, o senador republicano do Missouri Josh Hawley perguntou ao CEO da Meta se compensou pessoalmente alguma das vítimas e respectivas famílias pelo que passaram. “Acho que não”, respondeu Zuckerberg.

O senador referiu que estavam presentes familiares de vítimas e questionou o fundador do Facebook se gostaria de lhes dirigir um pedido de desculpas público. Enquanto os pais se levantavam e mostravam as fotos dos filhos, Zuckerberg pediu-lhes desculpa pelo que passaram, relatou a agência Associated Press.

O senador republicano continuou a pressionar Zuckerberg, perguntando se assumiria responsabilidade pessoal pelos danos que a sua empresa causou. Em resposta, o CEO reafirmou que o trabalho da Meta é “construir ferramentas líderes do sector” e capacitar os pais. “Para ganhar dinheiro”, interrompeu Hawley.

É hora de lidar com "o lado negro" das redes sociais

O senador da Carolina do Sul Lindsay Graham, principal republicano no comité judiciário, fez eco dos sentimentos de Durbin e disse estar preparado para trabalhar com os democratas para resolver a questão.

“Depois de anos a trabalhar neste assunto, cheguei à seguinte conclusão: as empresas de media sociais, tal como são projectadas e operam actualmente, são produtos perigosos”, afirmou Graham.

O senador disse aos executivos que as suas plataformas enriqueceram vidas, mas que é hora de lidar com “o lado negro”.

A aplicação Snapchat antecipou-se e apoia um projecto de lei para atribuir responsabilidades legais a plataformas que recomendem a menores conteúdo considerado prejudicial.

O empresário Shou Zi Chew, director executivo do TikTok, afirmou que a empresa está vigilante quanto ao cumprimento da política que proíbe menores de 13 anos de usar a aplicação.

Linda Yaccarino, sucessora de Elon Musk na direcção executiva do X, alegou que a rede social não se destina a crianças: “Não temos um ramo de negócio dedicado às crianças”. Avançou ainda que a empresa também apoiará o Stop CSAM Act, um projecto de lei federal que torna mais fácil processar empresas do sector tecnológico por casos de exploração infantil.

No entanto, defensores dos direitos das crianças consideram que as empresas de redes sociais falharam sistematicamente na protecção dos menores.

“Quando estão perante decisões realmente importantes de segurança e privacidade, o lucro não pode ser o primeiro factor considerado pelas empresas”, apontou Zamaan Qureshi, co-presidente da Design It For Us, organização liderada por jovens, que defende redes sociais mais seguras.

Senadores republicanos e democratas uniram-se numa rara demonstração de concordância durante a audiência, embora ainda não seja claro se esse apoio será suficiente para aprovar legislação como a Lei de Segurança Online para Crianças, proposta em 2022 pelos senadores Richard Blumenthal (democrata) e Marsha Blackburn (republicana).

A Meta está a ser processada por dezenas de estados norte-americanos que afirmam que lança deliberadamente recursos no Instagram e no Facebook que viciam crianças nas suas plataformas e que falhou em proteger os jovens de predadores online.

A Meta reforçou os seus recursos de segurança infantil nas últimas semanas, tendo anunciado no início deste mês que começará a ocultar conteúdo impróprio de contas de adolescentes no Instagram e no Facebook, incluindo publicações sobre suicídio, automutilação e distúrbios alimentares. Também restringiu a possibilidade de menores receberem mensagens de qualquer pessoa.

O YouTube, da Google, está ausente da lista de empresas convocadas para a audiência do Senado, embora o YouTube seja mais usado pelas crianças do que qualquer outra plataforma, de acordo com o Pew Research Center, à frente do TikTok.

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