É preciso redireccionar para o clima os biliões que vão para combustíveis fósseis na UE

Actualmente, a UE gasta 359 mil milhões de euros por ano em subsídios aos combustíveis fósseis. É preciso investir 1,52 biliões de euros por ano na transição climática, quase 10% do PIB da União.

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É necessário um reforço dos investimentos nos transportes públicos, na renovação de edifícios e na expansão das energias renováveis Nelson Garrido
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A União Europeia vai precisar de 1,52 biliões de euros por ano de investimentos para atingir o seu objectivo de neutralidade de emissões até 2050, de acordo com um estudo apoiado por eurodeputados do Grupo dos Verdes.

A maior parte do financiamento necessário para o objectivo de emissões líquidas nulas — 1,52 biliões de euros por ano, em vez dos actuais 1,16 biliões — poderia ser assegurada através da reafectação dos gastos actuais, grande parte dos quais em actividades poluentes, de acordo com o estudo do think tank Institut Rousseau, encomendado pelos eurodeputados dos Verdes.

A Comissão Europeia deverá recomendar, na próxima semana, que a UE reduza as emissões líquidas em 90% até 2040, em relação aos níveis de 1990, e definir o enorme aumento inicial dos investimentos necessários para colocar a Europa no caminho da neutralidade climática até 2050.

Em termos de investimento total, descreve o relatório, cerca de 75% do investimento teria de estar concentrado em dois sectores: transportes (45% do investimento total, 689 mil milhões de euros por ano) e edifícios (29%, com 434 mil milhões de euros por ano).

Divisão política

De acordo com a proposta dos mais de 150 investigadores que contribuíram para o estudo, um dos caminhos mais promissores para a neutralidade climática passa por um enorme desinvestimento em áreas como os automóveis com motor de combustão, a produção de combustíveis fósseis e os novos aeroportos. Por outro lado, é preciso um reforço do investimento em 37 "acções-chave" de descarbonização em diversos sectores, como a energia (produção de electricidade e expansão das renováveis), os transportes (automóveis e camiões, mas também transportes públicos) ou a renovação de edifícios, com potencial para reduzir significativamente as emissões.

"A maior parte do dinheiro necessário já existe, mas precisamos de um desinvestimento maciço em projectos que destruam o clima", afirmou o eurodeputado Philippe Lamberts, co-presidente do grupo dos Verdes no Parlamento Europeu.

Numa altura em que as alterações climáticas desencadeiam fenómenos meteorológicos extremos com custos cada vez mais elevados, os responsáveis políticos da UE estão a preparar-se para as eleições europeias, nas quais a política climática será uma questão fundamental.

Alguns governos estão a rejeitar a agenda ecológica europeia, invocando os seus custos, enquanto os agricultores que protestam em França pediram a revogação de algumas regras ambientais comunitárias. As sondagens de opinião sugerem que as eleições europeias poderão dificultar a aprovação de políticas climáticas ambiciosas, se houver mais eurodeputados de partidos populistas e de direita.

359 mil milhões ainda vão para fósseis

Uma versão preliminar dos modelos da Comissão Europeia para calcular o caminho para o objectivo climático de 2040, a que a Reuters teve acesso, sugere uma escala de investimento semelhante, de cerca de 1,5 biliões de euros por ano, em sistemas energéticos menos poluentes.

Segundo os investigadores, os investimentos necessários para atingir o objectivo de neutralidade climática viriam sobretudo do sector privado, mas a despesa pública com a transição ecológica também teria de quase duplicar, de 260 mil milhões para 490 mil milhões de euros por ano.

A título de comparação, a UE gasta actualmente 359 mil milhões de euros por ano em subsídios aos combustíveis fósseis. Para a recuperação da crise causada pela pandemia da covid-19, foram investidos 338 mil milhões de euros por ano.

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