Zero diz que Bruxelas tem de redefinir planos para cumprir Acordo de Paris

Relatório da Climate Analytics mostra que planos de Bruxelas sobre clima não são compatíveis com metas do Acordo de Paris - mas ainda há janela para limitar aumento de temperatura a 1,5 graus

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Centrais de energia solar em Alcoutim, no Algarve Nuno Ferreira Santos

A associação ambientalista Zero alertou, esta quinta-feira, para o facto de a janela para limitar o aumento da temperatura a 1,5 graus Celsius estar a fechar-se. Ainda assim, a União Europeia (UE) pode cumprir o objectivo do Acordo de Paris se redefinir as metas.

“A janela para os 1,5.°C ainda está aberta, mas está a fechar-se rapidamente, pelo que é necessária acção climática urgente”, refere a associação em comunicado, citando um relatório da Climate Analytics divulgado recentemente.

De acordo com o documento, as políticas europeias, incluindo a recente estratégia “REPowerEU”, não são suficientes. Contudo, se a UE alterar algumas metas, ainda pode cumprir o Acordo de Paris e alguns dos seus objectivos mesmo antes do prazo previsto.

“Para limitar o aumento de temperatura média em 1,5°C, a UE deveria ter como meta a redução das suas emissões líquidas entre 66% e 77% até 2030, relativamente aos níveis de 1990, em vez dos actuais 55%”, refere o comunicado.

De acordo com a Zero, essa ambição é “técnica e economicamente possível” se houver também um aumento rápido da energia renovável, assente sobretudo nas energias eólica e solar, nas próximas décadas.

No caso de Portugal, a redução de emissões teria de ser de pelo menos 61% até 2030 relativamente aos níveis de 2005, em vez dos actuais 55% previstos na Lei de Bases do Clima.

A associação ambientalista sublinha ainda que “a transição para um sistema energético mais electrificado e eficiente permite a rápida eliminação dos combustíveis fósseis do sistema energético”.

O objectivo é que as energias renováveis forneçam entre 48% a 54% da procura de energia final até 2030, e entre 92% a 100% da procura de energia final até 2050.

A Zero refere também a introdução de hidrogénio verde para descarbonizar sectores de difícil redução de emissões, como o transporte a longas distâncias, aéreo e marítimo, como uma das mudanças compatíveis com o objectivo de 1,5°C para cumprir o Acordo de Paris.

Outro elemento-chave é a “rápida electrificação dos processos industriais, de aquecimento e dos transportes, baseada num rápido aumento da capacidade solar fotovoltaica e eólica, e atingindo um sistema energético completamente renovável até 2040”. Segundo o relatório da Climate Analytics, citado pela Zero, seria suficiente aumentar em 25% a actual capacidade instalada para a UE implementar estas medidas.

No entanto, a associação insiste que, apesar já haver ferramentas disponíveis e prontas a ser postas em prática, “a acção climática da UE não está em linha com o nível de ambição que é necessário para cumprir o Acordo de Paris”. Referindo em concreto a estratégia “REPowerEU”, afirmam que as acções previstas se mantêm entre 280 e 770 milhões de toneladas de dióxido de carbono e que teriam de ser reduzidas.

A Zero refere ainda que todos os cenários compatíveis com esse objectivo previstos no relatório foram desenvolvidos antes da guerra na Ucrânia e da consequente crise energética. “No contexto actual, as energias renováveis são ainda mais custo-eficazes do que nos cenários analisados, e a lógica para o seu rápido desenvolvimento é ainda mais forte”, sublinham.

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