Sarampo: posso contrair a doença? E como funciona a vacinação?

A Organização Mundial de Saúde registou um aumento do número de casos de sarampo na Europa. Em Portugal, esta semana, somou-se o terceiro caso do ano.

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Em Portugal, registaram-se 224 casos de sarampo entre 2015 e 2022 Manuel Roberto
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A Organização Mundial de Saúde (OMS) registou mais de 30 mil casos em 40 dos 53 países da região europeia, entre Janeiro e Outubro de 2023. Em comparação com 2022, em que se contabilizaram 941 casos, em 2023 houve um aumento anual de mais de 30%. O aumento pode ser justificado com a quebra de adesão às vacinas utilizadas para prevenir a doença.

Segundo a OMS, em declarações ao jornal The Guardian, o “aumento [do número de casos] acelerou nos últimos meses” e prevê-se que “esta tendência se mantenha se não forem tomadas medidas urgentes”.

Este ano, em Portugal, já se contabilizaram três casos de sarampo. O mais recente, registado na região norte, foi confirmado nesta terça-feira, 23 de Janeiro, pela Direcção-Geral da Saúde (DGS).

Quais são os sintomas do sarampo?

O sarampo é uma infecção gerada por um vírus. Este vírus pode ser transmitido quando uma pessoa contacta com gotículas infecciosas, que podem ser propagadas directamente, através de um beijo, por exemplo, ou pelo ar, quando uma pessoa infectada tosse ou espirra. A infecção manifesta-se com febre, mal-estar, corrimento nasal, tosse e conjuntivite. Por sua vez, de acordo com a informação partilhada pela DGS, as pessoas infectadas começam a apresentar “pontos brancos no interior da bochecha”. Um a dois dias depois do aparecimento destes pontos brancos, aparece uma erupção cutânea (manchas) no rosto, que acaba por transitar para o resto do corpo (tronco e membros), a febre aumenta e os doentes sentem-se mais cansados.

Como prevenir a infecção?

Segundo a DGS, “a vacinação é a principal medida de prevenção do sarampo”. Em Portugal, a vacina contra o sarampo está disponível gratuitamente para todas as pessoas. Quem nunca teve sarampo e nunca se vacinou contra a doença “tem uma elevada probabilidade de contrair a doença" se for exposto ao vírus.

Durante quantos dias uma pessoa infectada pode transmitir o vírus?

O período de transmissão do vírus depende do princípio dos sintomas. O contágio inicia-se quatro dias antes do aparecimento das primeiras manchas no rosto e termina quatro dias depois das primeiras manchas surgirem. Este período pode alargar-se se o doente for imunocomprometido, ou seja, se apresentar uma resposta imunitária insuficiente perante doenças ou infecções.

Como funciona a vacinação contra o sarampo em Portugal?

As pessoas com menos de 18 anos tomam duas doses da vacina: uma aos 12 meses e outra aos cinco anos. Os adultos nascidos antes de 1970 ou nesse mesmo ano não têm necessidade de serem vacinados, excepto se contactarem com alguém infectado ou se viajarem para países onde foram registados casos da infecção. Isto porque, muito provavelmente, já terão tido esta doença. Já os adultos que nasceram depois de 1970 e que não foram infectados com sarampo deveriam ter tomado, pelo menos, uma dose da vacina.

Não é recomendado que as crianças sejam vacinas com a primeira dose antes dos 12 meses. Ainda assim, segundo a DGS, se a criança contactou com casos de sarampo ou se vai viajar para locais onde se registam casos de infecção, é recomendada a vacinação entre os seis e os 12 meses, com a primeira dose, ou a antecipação da segunda dose.

Os profissionais de saúde devem estar vacinados com duas doses, independentemente da idade.

O que fazer se tiver contactado com uma pessoa com sarampo?

Se esteve com alguém que foi diagnosticado com a infecção, a DGS recomenda vacinar-se, “de preferência nas primeiras 72 horas pós-exposição, se aplicável”. Se a vacinação não for recomendada, irá receber imunoglobulina (anticorpos).

Em caso de sintomas, o que fazer?

Se tiver sintomas da infecção, deve isolar-se e evitar contactar com outras pessoas até ao quarto dia depois da primeira erupção cutânea. Para confirmar o diagnóstico, tem de fazer análises ao sangue, urina e secreções orais. Tem ainda de dar a conhecer aos profissionais de saúde que o estão a acompanhar o nome das pessoas com quem interagiu durante o período de infecção para que estas possam ser notificadas.

Qual é o tratamento para o sarampo?

Se for confirmado o diagnóstico de sarampo, normalmente, tal como explica a DGS, “a maioria das pessoas recupera apenas com o tratamento dos sintomas”. Os antibióticos não são prescritos para tratar a infecção porque não são eficazes contra o vírus que origina o sarampo. No entanto, os médicos podem passar estes medicamentos se surgirem outras “complicações” associadas à doença, como otite e pneumonia.

Depois da vacinação, quando é que as pessoas ficam protegidas contra a infecção?

Os utentes ficam protegidos cerca de duas semanas depois de tomarem a vacina. Ainda assim, tal como relembra a DGS, “cerca de 5% a 10% das pessoas vacinadas não respondem adequadamente à primeira dose, motivo pelo qual se recomenda uma segunda até aos 18 anos”. A segunda dose é, por isso, uma nova "oportunidade" para que jovens e crianças desenvolvam imunidade e não funciona como um "reforço".

Portugal pode ter uma “grande” epidemia de sarampo?

Para a DGS, “não há razões para temer uma grande epidemia de sarampo”, já que “a maioria das pessoas está protegida”. Isto, porque, segundo a informação partilhada, a maior parte das pessoas nascidas antes de 1970 desenvolveu a doença e as que nasceram depois desse ano acabaram por se vacinar.

Durante o surto, pessoas vacinadas podem ficar infectadas porque a protecção conferida pela vacina pode diminuir ao longo do tempo. Ainda assim, o sarampo é “mais ligeiro” e as “probabilidades de haver complicações clínicas são muito menores e o doente é menos contagioso para os outros”.

Texto editado por Ana Maria Henriques

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