Utilizadores do cartão Porto vão ter 22 viagens gratuitas por ano em transportes

Câmara vai canalizar três milhões de euros com que financiava gratuitidade de passes até 18 anos, agora que o Governo lançou um programa que aplica o mesmo tipo de medida até aos 23 anos.

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Câmara do Porto que "induzir procura” em pessoas que não tenham o hábito de utilizar transporte público Paulo Pimenta
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Quem for portador ou aderir ao cartão Porto vai ter direito a 22 viagens gratuitas por ano em transportes públicos. A medida foi anunciada pelo presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, na assembleia municipal que decorreu na noite de segunda-feira e é uma forma de “induzir procura” em pessoas que não tenham o hábito de utilizar transporte público.

Ao PÚBLICO fonte da Câmara Municipal do Porto refere que a medida está a ser estudada com a entidade gestora do Andante, a empresa pública Transportes Intermodais do Porto, esperando que possa estar “em pleno funcionamento até o final do primeiro trimestre.

As 22 viagens serão carregadas no cartão criado em 2021 que, entre outras valências, dá descontos em serviços municipais de cultura e desporto. Podem ser utilizadas tanto no metro do Porto como nos autocarros dos STCP, desde que se desloquem apenas na zona Z2, que abrange o Porto e algumas zonas de Gaia.

A medida é posta no terreno, uma vez que o Governo avançou este ano com a gratuitidade dos passes para estudantes até aos 23 anos, tornando redundante o programa do município do Porto que disponibilizava transportes gratuitos para jovens entre os 13 e os 18 anos. A autarquia gastava três milhões com esta medida, explicou Moreira, que serão agora canalizados para assegurar as 22 viagens gratuitas por ano – menos de duas por mês – aos 67.075 portadores do cartão Porto.

Abaixo do pré-pandemia

Os STCP ainda não recuperaram dos números dos anos pré-pandemia. O presidente da autarquia anunciou que, apesar de um aumento de passageiros de 7,5% relativo a 2022, os 73,2 milhões de utilizadores registados são ainda 96,3% dos de 2019.

Rui Moreira, que respondia ao deputado da CDU, Rui Sá, sobre a “estagnação” da actividade dos STCP, relaciona a demora na recuperação com o impacto das obras do metro. Refere também que houve uma quebra de procura no centro da cidade (onde há mais trabalhos de construção das linhas de metro), ao contrário do que se verificou nas coroas.

Na mesma assembleia municipal, que teve a mobilidade como tema único de discussão, foram feitas propostas mais abrangentes de gratuitidade de transportes que ficaram pelo caminho. A CDU defendia que pessoas com 65 anos ou mais não pagassem para andar nos STCP e no Metro do Porto. O mesmo sugeriu o Bloco de Esquerda, que propôs ainda que os jovens até aos 25 anos, pessoas com mobilidade condicionada, pessoas em situação de desemprego e trabalhadores dos transportes tivessem o mesmo benefício.

As duas forças políticas de esquerda concordam que é preciso aumentar a extensão da faixa bus, para dar mais qualidade ao transporte público. O Bloco, pela voz da deputada Susana Constante Pereira, fez notar que a soma dos corredores bus já teve 33 quilómetros e entende que é possível fazer crescer os 20,9 quilómetros hoje existentes. No mesmo sentido, a CDU quer que a câmara elabore um estudo tendo como objectivo duplicar a actual extensão destas faixas.

Bicicleta e peões marcam passo

Na discussão centrada em torno das vias rodoviárias que servem o Porto e dos transportes públicos houve espaço para falar sobre as condições que a cidade tem para andar a pé, de bicicleta e de outros modos activos. Das propostas que foram a votos, houve mais chumbos do que aprovações e só o PS viu passar a sua proposta sobre mobilidade.

No entanto, o documento recomenda apenas ao município que promova a utilização da bicicleta, que aumente o número de estacionamentos para velocípedes e que “desenvolva novas pistas para que exista uma verdadeira ciclovia na cidade”.

Mas não quantifica. Não pede ao executivo de Rui Moreira que cumpra a instalação da rede de ciclovia que anunciou em 2020, que crie um sistema de bicicletas partilhadas que integre o sistema Andante ou que altere o limite máximo de circulação de 50 para 30 quilómetros por hora em zonas da cidade onde o tráfego é partilhado com peões e bicicletas, como fez o Bloco que Esquerda, que viu as suas recomendações chumbadas.

Passava da meia-noite quando a assembleia foi aberta às intervenções do público. Pelo Mubi Associação para a Mobilidade Urbana em Bicicleta, Gonçalo Rosas defendeu que é preciso dar mais opções às pessoas. E por opções, especificou, queria dizer condições para que as pessoas escolham outro modo de transporte que não o carro, como uma rede de ciclovias em condições de segurança, confortáveis e com um mapa coerente.

Entre os vários pontos, sugeriu a criação de um programa para recuperar vias cicláveis em mau estado e criticou a falta de alternativa segura para pedalar na Avenida da Boavista, onde está a ser instalado o canal de metrobus, mas é mantido o espaço para circulação dos carros. Todavia, era tarde e as propostas dos partidos já tinham sido votadas.

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