Empresários querem adquirir títulos da Global Media. Três administradores renunciaram

Maioritariamente da zona Norte, grupo de empresários destaca importância de publicações para a democracia. Diogo Freitas, líder da empresa que detém as icónicas bolachas belgas, assina a proposta.

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Trabalhadores da Global Media fizeram greve esta quarta-feira Paulo Pimenta/Arquivo
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Um grupo de empresários “predominantemente do Norte do país” apresentou esta sexta-feira uma possível solução para o futuro do Global Media Group (GMG). De acordo com a proposta de intenção consultada pelo PÚBLICO, existe interesse na aquisição dos principais títulos do GMG, à excepção do Diário de Notícias. No caso da TSF, os empresários mostram-se “também disponíveis para ser solução”, sublinhando o “valor informativo e relevância editorial” desta rádio.

A notícia no mesmo dia em que se sabe que renunciaram dois administradores não executivos do GMC. O PÚBLICO apurou que Carlos Beja renunciou ao cargo, e o Expresso noticiou esta sexta-feira a renúncia deste gestor e de Victor Menezes, que terá invocado como motivos as notícias sobre o grupo nas últimas semanas e razões de indisponibilidade pessoal. Sabia-se já que, a 23 de Dezembro, o administrador executivo Diogo Agostinho também tinha renunciado ao seu cargo. São agora três as baixas na administração do grupo.

A proposta de aquisição apresentada pelos empresários do Norte do país abrange então o Jornal de Notícias, o desportivo O Jogo e ainda as revistas Notícias Magazine, Evasões e Volta ao Mundo. Além da compra destes títulos, o grupo quer ainda adquirir a maioria do capital da sociedade Notícias Direct. Parte do capital seria cedida a “uma cooperativa de jornalistas e demais trabalhadores”.

Para que a aquisição destas marcas possa ir em frente, os empresários exigem a criação de uma nova sociedade para a transferência destes títulos, bem como dos seus profissionais e dos direitos que lhe são afectos. É ainda garantido que todos os profissionais vão fazer a transição para este novo projecto, colocando-se de parte cortes de pessoal ou despedimentos. “Asseguramos a manutenção da antiguidade e direitos dos trabalhadores, na transferência dos contratos”, pode ainda ler-se na proposta de intenção.

Este grupo de empresários é encabeçado por Diogo Freitas, natural de Ponte de Lima, e líder da empresa Officetotal Food Brands, que detém as icónicas bolachas Belga, da marca Saborosa. Formada em 2008, a empresa limiana emprega cerca de seis dezenas de trabalhadores, tendo conseguido assegurar a aquisição da linha de produção destas bolachas, reconhecidas internacionalmente.

Dez milhões pela maioria do capital

Ainda antes de ser tornada pública a proposta dos empresários nortenhos, foi avançada pelo Jornal Económico a intenção de Ricardo da Silva Oliveira, actual líder da Federação Portuguesa de Padel, do investimento de dez milhões de euros para um aumento de capital do grupo de media.

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DN ficou de fora de proposta dos empresários MIGUEL A. LOPES/Lusa

A publicação económica refere que a empresa de Ricardo Oliveira, a Nobias European Studio, está ainda disponível para investir mais dois milhões de euros adicionais, destinados à estabilização da tesouraria da empresa. A concretização deste investimento está dependente de uma due dilligence ao GMG, atingido por severas dificuldades financeiras.

A proposta de Ricardo Oliveira contempla também a manutenção do número de trabalhadores e pretende evitar o desmembramento dos títulos da Global. A aposta no digital e respectivo aumento de receitas são a estratégia apontada na proposta, adianta o Jornal Económico.

Além destas duas propostas, o antigo presidente da Comissão Executiva do GMG, Marco Galinha, confirmou esta quinta-feira ao PÚBLICO que apresentou "uma oferta de compra do Jornal de Notícias e do desportivo O Jogo de 12 milhões de euros", que terá ficado sem resposta.

Fim de prazo para rescisões no GMG

O actual administrador do GMG José Paulo Fafe admitiu na Assembleia da República que se não forem cumpridas as metas para o programa de rescisões, o próximo passo poderá implicar o despedimento colectivo. O PÚBLICO tentou perceber junto do grupo quantos trabalhadores se tinham apresentado voluntariamente para esta rescisão, mas não foi possível obter dados.

Na última quarta-feira, registou-se uma paralisação total dos trabalhadores do grupo, com os principais títulos a não chegarem às bancadas no dia seguinte. Já na TSF, o dia foi preenchido com programação musical, retomando-se a emissão normal à meia-noite.

Os trabalhadores queixam-se dos atrasos salariais e da ameaça de despedimento colectivo que poderá abranger até 200 pessoas. De acordo com as mais recentes informações, os vencimentos na TSF já foram processados, mas o mesmo não se verificou no Jornal de Notícias ou no Diário de Notícias.

Entretanto, o conselho de redacção do Jornal de Notícias informou que enviou à Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) uma exposição a alertar para situações de possível ingerência editorial por parte do GMC. Entre estas estão a dispensa de colaboradores, a perda de um estúdio de vídeo, as mudanças dos sites e a falta de condições de armazenamento do arquivo do JN, "encaixotado num armazém, o que constitui um severo risco para a sobrevivência deste património cultural e histórico de Portugal", cita a Lusa.

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