Depois de sete descidas, inflação voltou a subir na zona euro em Dezembro

Comparação com período do ano anterior em que os preços da energia começaram a descer torna menos favorável a evolução actual da taxa de inflação homóloga na zona euro.

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Inflação na zona euro subiu em Dezembro FABRIZIO BENSCH
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Cumprindo as expectativas dos analistas, a inflação na zona euro interrompeu em Dezembro a série de sete descidas consecutivas da taxa homóloga que registava desde Abril, confirmando que a aproximação à meta de 2% definida pelo Banco Central Europeu (BCE) deverá ser agora feita de forma mais lenta.

De acordo com a primeira estimativa para o mês de Dezembro publicada esta sexta-feira pelo Eurostat, a variação dos preços na zona euro face ao mesmo mês do ano anterior foi de 2,9%, um valor que representa uma subida face aos 2,4% registados em Novembro. Desde Abril, mês em que este indicador se cifrou em 7%, que não se registava uma subida da taxa de inflação homóloga na zona euro.

A principal explicação para o resultado agora registado está não tanto no que está a acontecer agora nos preços, mas mais àquilo que aconteceu há um ano. A base de comparação para o cálculo da inflação homóloga de Dezembro de 2023 são os preços registados em Dezembro de 2022 e foi nesse mês que se começou a sentir com mais força um recuo dos custos da energia, que tinham disparado a seguir ao início da guerra na Ucrânia, em Fevereiro de 2022.

Este efeito de base faz com que, mesmo no actual cenário de relativa moderação dos preços, a variação anual dos preços se tenha agravado de forma significativa. De acordo com o Eurostat, entre Novembro e Dezembro, os preços da energia baixaram mesmo 1,5%, mas isso não impediu que a taxa de inflação homóloga neste tipo de produtos passasse dos -11,5% para os -6,7%.

Este efeito foi particularmente forte na Alemanha, uma vez que em Dezembro de 2022 foram tomadas no país diversas medidas para conter os preços da energia, o que torna agora ainda mais significativo o efeito de base negativo na taxa de inflação homóloga alemã, que disparou de 2,3% para 3,8% em Dezembro.

Portugal, contudo, está no grupo de países em que a taxa de inflação homóloga continuou a recuar em Dezembro, com a variação do índice de preços harmonizado a passar de 3,2% para 2,2% (no caso do índice de preços calculado com a metodologia própria para Portugal, a descida foi de 1,5% para 1,4%).

A continuação da descida da inflação homóloga em Portugal encontra a sua explicação, por um lado, na trajectória descendente dos preços ao longo do mês de Dezembro, com uma variação mensal negativa de 0,8%. Mas também é o resultado de, em Portugal, ao contrário da Alemanha, por exemplo, não ter sido em Dezembro de 2022 que se registou a maior descida de preços na energia, mas sim em Janeiro e Fevereiro seguintes.

É possível, portanto, que, nos próximos meses, a evolução da taxa de inflação homóloga em Portugal se venha a revelar mais negativa do que a que se irá registar no resto da Europa.

A principal consequência desta recuperação da inflação na zona euro em Dezembro é que dá mais argumentos aos que, dentro do Banco Central Europeu, defendem que a batalha contra a inflação não está ganha, que o objectivo de 2% ainda está longe de ser atingido e que, por isso, é necessário manter as taxas de juro ao actual nível elevado em que actualmente se encontram durante bastante mais tempo.

Uma vez que o efeito de base ainda se fará sentir durante pelo menos mais alguns meses, parece provável que a aproximação à meta de 2% na inflação se faça de forma mais lenta ao longo de 2024 e especialmente durante o primeiro trimestre. Isto torna mais difícil a concretização das expectativas existentes no mercado de uma descida das taxas de juro por parte do BCE já na reunião de Março.

O próximo encontro do conselho de governadores do BCE será realizado a 25 de Janeiro, com a reunião seguinte agendada para 7 de Março.

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