Pedro Nuno e Luís Montenegro alimentam tabu sobre localização do futuro aeroporto

O líder do PS admite que a sua preferência para a nova infra-estrutura pode não ser revelada até às legislativas. Já o presidente do PSD promete tomar uma decisão final se liderar o Governo.

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A localização do futuro aeroporto promete ser tema de campanha eleitoral Miguel Manso
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Com legislativas marcadas para 10 de Março, a decisão sobre a localização do novo aeroporto está a ser gerida com pinças por PSD e por PS, até porque há o risco de se tornar um dos temas fortes da campanha eleitoral. O secretário-geral eleito do PS, Pedro Nuno Santos, escusa-se a revelar qual será a sua escolha face às opções apontadas pela Comissão Técnica Independente (CTI), mas afasta o cenário de avançar para o Montijo de forma transitória, a solução que defendeu quando era ministro das Infra-estruturas.

As declarações do líder socialista, feitas em entrevista à SIC esta quarta-feira à noite, surgem um dia depois de Luís Montenegro ter excluído, neste momento, “pontes de entendimento prévio”, com Pedro Nuno Santos sobre a mesma matéria. Para já, mantém-se o tabu nos dois partidos sobre a localização da infra-estrutura.

A criação de uma pista complementar no Montijo para aliviar a Portela – que chegou a ser anunciada oficialmente pelo ministério então liderado por Pedro Nuno Santos – é um cenário “ultrapassado”, segundo o ex-ministro. Questionado sobre se a sua escolha é então Alcochete, Pedro Nuno Santos escusa-se a avançar com uma solução.

“Não quero fechar aqui a decisão porque o relatório da CTI ainda está em discussão pública, mas posso dar a segurança de que vamos partir das conclusões da CTI, sendo que Alcochete e Vendas Novas são aquelas que estão mais bem classificadas”, disse num excerto da entrevista dada à SIC.

Pedro Nuno Santos também não se compromete com uma decisão antes das eleições legislativas: “Se tivermos condições para ter essa questão fechada antes das eleições assim será. Vamos ver.”

A mesma posição tem sido mantida pelo PSD. Luís Montenegro defende que não é obrigado a acatar as conclusões da CTI e assumiu que tomará uma decisão final sobre a localização da infra-estrutura caso venha a vencer as eleições e a formar Governo. Seria a sua primeira grande decisão à frente do executivo.

Até lá, o dossier está fechado num grupo de trabalho interno do PSD criado para analisar as conclusões da CIT. Para já, não há consensos com o PS. “Não vamos estar a estabelecer pontes de entendimento prévios, excepto naqueles aspectos inadiáveis”, afirmou, também em entrevista à SIC transmitida na terça-feira à noite, depois de questionado sobre se vai falar sobre o aeroporto com o secretário-geral eleito do PS.

Tema para a campanha

Com as conclusões do grupo de trabalho do PSD a poderem vir a ser reveladas nas próximas semanas, o dossier promete vir a contaminar a campanha eleitoral, até porque a matéria é considerada no PSD uma das maiores fragilidades de Pedro Nuno Santos, por causa do despacho em que anunciou uma decisão (Montijo com Portela, e depois Alcochete) e que foi revertido pelo primeiro-ministro.

Aliás, Montenegro aproveitou a entrevista à SIC para ensaiar críticas à “precipitação” do então ministro – considerando que é até um traço de carácter - e também à forma “deturpada” como o novo líder do PS tem comentado os resultados da CTI.

Por seu turno, Pedro Nuno Santos tem apontado a decisão do PSD de criar um grupo de trabalho em cima da CTI como um “arrastar os pés” sobre esta matéria. O primeiro-ministro demissionário, António Costa, veio reforçar a pressão ao dizer que o respeito pelo acordo feito com o Governo é um “teste de credibilidade” ao PSD.

Se o compromisso vier a ser quebrado, o caminho já foi sendo preparado. Desde Outubro, ainda antes da crise política de 7 de Novembro, que a direcção social-democrata admitia romper o compromisso com o Governo por estar descontente com a forma como decorria o trabalho da CTI.

Além da questão do aeroporto, o PSD está também pressionado a decidir a sua posição sobre o lançamento do concurso para o primeiro troço do TGV. Como está em gestão, o Governo quer o conforto do apoio do PSD para lançar o concurso anunciado no último Conselho de Ministros em plenitude de funções, mas alega que a decisão tem de ser tomada em Janeiro para que Portugal não perca fundos comunitários na ordem dos 750 milhões de euros.

Os sociais-democratas têm outra versão. “A informação que tenho não é exactamente essa. Aquilo que terminaria em Dezembro e ficou para Janeiro é a candidatura aos fundos”, disse Luís Montenegro, há uma semana, em entrevista à CMTV. O líder do PSD admitiu que pode tomar uma decisão em Janeiro “se for preciso”, mas ao mesmo tempo deixou críticas ao traçado previsto na zona de Vila Nova de Gaia, o que indicia um difícil consenso com o Governo.

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