Como usar nossas fábricas de energia para regenerar o cérebro
Nos anos 60, descobriu-se que novos neurónios são gerados a partir de células estaminais neurais em locais específicos do cérebro.
Ao longo dos últimos anos muitos investigadores têm tentado encontrar estratégias para restabelecer os neurónios que morrem em diferentes doenças neurodegenerativas. No caso da doença de Alzheimer, a perda de neurónios reflete-se na falta de memória, enquanto na doença de Parkinson surgem problemas motores como tremores.
Nas últimas décadas, os neurocientistas mostraram que o cérebro, ao contrário do que se defendia no início do século XX, é um órgão dinâmico, em que novos neurónios são gerados continuamente. Mais tarde, nos anos 60, descobriu-se que estes novos neurónios eram gerados a partir de células estaminais neurais em locais específicos do cérebro. Estas células têm sido objeto de grande estudo para o tratamento de doenças neurodegenerativas.
Para além de neurónios, as células estaminais neurais também originam outras células cerebrais como os astrócitos e oligodendrócitos. Deste modo, as células estaminais no cérebro poderão ter três destinos diferentes. O destino das células estaminais neurais poderá ser influenciado por diversos fatores desde a ação de fármacos, alterações genéticas e inclusive a regulação de compartimentos celulares.
O papel das mitocôndrias
Há pouco mais de uma década que a investigação científica tem mostrado que um compartimento, designado de “mitocôndria”, é capaz de alterar a produção de neurónios quando manipulado. A mitocôndria desempenha muitas funções nas células, sendo uma delas a produção de energia. Este compartimento é de extrema importância nas células cerebrais visto que, apesar do cérebro adulto pesar apenas 2% do peso do nosso corpo, este órgão consome 20% do oxigénio total.
Tendo em conta o papel promissor da mitocôndria em alterar o destino das células estaminais, bem como o potencial destas células em tratar doenças neurodegenerativas, no meu doutoramento estudei a função da mitocôndria nas células estaminais neurais e nos três tipos de células a que dão origem: astrócitos, oligodendrócitos e neurónios. Cientistas já mostraram que as mitocondriais são essenciais para um bom funcionamento do nosso cérebro.
Os resultados do meu trabalho revelaram que o número de mitocôndrias, bem como a sua forma se alteram de modo diferente consoante o tipo de células que é originado das células estaminais neurais. Mostrámos também que as mitocôndrias presentes nos neurónios têm uma maior capacidade de adaptação do que as mitocôndrias presentes nos astrócitos e nos oligodendrócitos. Tendo em conta que os neurónios formam redes extensas que comunicam entre si, esta adaptação energética é muito relevante.
A nossa investigação complementa os estudos anteriores mostrando o potencial da mitocôndria em direcionar o destino das células estaminais neurais. Este conhecimento poderá ser aplicado no desenvolvimento de terapêuticas para o restabelecimento das células do cérebro que são perdidas em doenças neurodegenerativas.
A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico
Aluna de doutoramento no Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes, Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa