Membros da OPEP opõem-se à inclusão do fim gradual dos combustíveis fósseis no acordo da COP28

Após uma semana de conversações técnicas, os países lutam para agora para chegar a um consenso sobre a inclusão do fim dos combustíveis fósseis no texto final da COP28, que acaba na terça-feira.

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A inclusão dos combustíveis fósseis no texto final da COP28 tem sido um tema controverso, ainda que se saiba que são dos principais responsáveis pela crise climática DADO RUVIC/REUTERS
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Os membros da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) estão a insurgir-se contra as tentativas de incluir palavras sobre a "eliminação progressiva" dos combustíveis fósseis num acordo sobre o clima no âmbito da COP28, sublinhando a luta sobre se a cimeira poderá, pela primeira vez em 30 anos, abordar o futuro do petróleo e do gás.

Os negociadores e observadores das negociações anuais das Nações Unidas sobre o clima, que procuram chegar a um acordo para enfrentar os piores impactos das alterações climáticas, afirmaram que vários membros da OPEP parecem ter dado ouvidos aos apelos do grupo de produtores de petróleo para vetar qualquer acordo que vise a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis.

Numa carta datada de quarta-feira, o secretário-geral da OPEP, Haitham Al Ghais, apelou aos membros que rejeitassem a linguagem que visa os combustíveis fósseis, afirmando que "a pressão indevida e desproporcionada contra os combustíveis fósseis pode atingir um ponto de viragem com consequências irreversíveis".

Contactado pela Reuters, Al Ghais não quis comentar a carta, mas disse que a OPEP queria manter o foco das conversações na redução das emissões, em vez de se focar nas fontes de energia.

"O mundo precisa de grandes investimentos em todas as energias, incluindo os hidrocarbonetos", afirmou. "As transições energéticas devem ser justas, equitativas e inclusivas."

Pelo menos 80 países estão a exigir um acordo para a COP28 que apele a um eventual fim do uso de combustíveis fósseis, a principal fonte de emissões de aquecimento do planeta, para tentar entrar no caminho certo para alcançar o objectivo de limitar o aquecimento global a 1,5 graus Celsius em relação aos níveis pré-industriais.

Mas enfrentam dificuldades em persuadir os países que dependem do petróleo e do gás para obter receitas, muitos dos quais estão a promover tecnologias como a captura de carbono, que é cara e ainda não foi testada à escala.

Tina Stege, enviada para as questões climáticas da República das Ilhas Marshall – um dos locais mais afectados pelas alterações climáticas –, afirmou que qualquer recuo na inclusão de uma eliminação progressiva dos combustíveis fósseis põe em risco a prosperidade do mundo.

"Nada coloca mais em risco a prosperidade e o futuro de todos os povos da Terra, incluindo todos os cidadãos dos países da OPEP, do que os combustíveis fósseis", afirmou Stege, cujo país preside à Coligação de Alta Ambição, um grupo de nações que defende objectivos e políticas de emissões mais ambiciosos.

"É por isso que a Coligação de Alta Ambição está a insistir na eliminação progressiva dos combustíveis fósseis, que estão na origem desta crise. A meta de 1,5 graus não é negociável e isso significa o fim dos combustíveis fósseis", afirmou num comunicado.

Fase crítica

Após uma semana de conversações técnicas, as negociações têm agora um contributo ministerial antes do final da cimeira, previsto para terça-feira a última fase em que os países lutam para chegar a um consenso sobre a redacção do texto relativo aos combustíveis fósseis.

A última versão do texto de negociação inclui uma série de opções desde concordar com uma "eliminação progressiva dos combustíveis fósseis de acordo com os melhores dados científicos disponíveis", passando pela eliminação progressiva dos "combustíveis fósseis ininterrupta", até não incluir qualquer referência aos mesmos.

A secretária de Estado alemã e enviada para a acção climática, Jennifer Morgan, afirmou que os países estão agora "a entrar na fase crítica das negociações".

"É altura de todos os países se lembrarem do que está em jogo e estarem prontos para enviar o sinal de que o mundo precisa neste momento crítico da crise climática global. Preocupa-me que nem todos estejam a participar de forma construtiva."

Questionado sobre a carta da OPEP, o director-geral da COP28, Majid Al Suwaidi, evitou o termo "combustíveis fósseis", mas afirmou que os Emirados Árabes Unidos, na qualidade de presidentes da cimeira, pretendem um acordo para que o mundo atinja o objectivo do limite de 1,5 graus de aquecimento.

"O nosso presidente da COP tem sido muito claro desde o primeiro dia de que quer alcançar um resultado que nos coloque claramente no caminho para 1,5 graus", disse numa conferência de imprensa. "Quer claramente ver um resultado que seja o mais ambicioso possível e nós acreditamos que o vamos conseguir."

Os negociadores têm uma tarefa difícil pela frente. Wael Aboulmagd, representante especial da presidência egípcia da COP27, afirmou que existem demasiadas opções no texto sobre os combustíveis fósseis, acrescentando que se verifica também um impasse nas negociações sobre as medidas para ajudar as nações a adaptarem-se aos eventos meteorológicos extremos e a outros impactos das alterações climáticas.

"Ainda temos alguns problemas sérios com a adaptação. Ainda estamos muito atrasados nesta matéria."

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