Para além do aeroporto, vai ser necessário criar “um bocado de cidade”

Num debate organizado pela Ordem dos Arquitectos, com o apoio do PÚBLICO, foi-se além da questão da localização do novo aeroporto e defendeu-se a importância de um bom ordenamento do território.

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Além da discussão sobre a localização, oradores frisam a importância de um bom ordenamento do território Nuno Ferreira Santos
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Quis o destino que Aeroporto, para lá da localização, conversa organizada pela Ordem dos Arquitetos (OA), em parceria com o PÚBLICO, acontecesse no dia seguinte à apresentação do relatório da Comissão Técnica Independente. Avelino Oliveira, bastonário, abriu por isso “um debate diferente”. Acompanharam-no na sede da OA Cláudia Guedes, jurista e mestre em direito de planeamento, ordenamento do território e de urbanismo; Fernando Nunes da Silva, antigo professor no Instituto Superior Técnico; Francisco Pinto Bastos, arquitecto envolvido na construção do aeroporto da Cidade do Panamá; e João Moutinho, que além de comandante e presidente da associação portuguesa de pilotos, é também arquitecto. A moderação foi feita por David Pontes, director do PÚBLICO.

Todos estão de acordo quanto à premissa da discussão. Fruto da “consciencialização da necessidade de uma nova oferta aeroportuária”, que João Moutinho descreve como “inadiável” e “incontornável”, o comandante destacou a absoluta importância daquele investimento para o “desenvolvimento estratégico do país”. Mas há muito mais a discutir que apenas a necessidade e a geografia da instalação.

Face a um debate público que tem acontecido à margem da OA, assinala Avelino Oliveira, emerge o incipiente tratamento dado ao ordenamento de território no processo de decisão. “Quer-se um aeroporto bem integrado na paisagem”, frisa Cláudia Guedes. Na opinião de Nunes da Silva, “começámos pelo telhado”. O antigo professor universitário focou-se nas “estratégias a longo prazo”, já que “um aeroporto não sobrevive sem boas ligações terrestres.”

Também Pinto Bastos mencionou a falta de estudo sobre o impacto no destino a eleger, além da necessidade de “criar condições” ou até “um bocado de cidade”. O arquitecto com experiência no sector aeroportuário referiu a futura necessidade de hotelaria na região circundante ao novo investimento. Já Cláudia Guedes acrescentou também o incremento necessário para as boas condições laborais dos trabalhadores a deslocar, como creches, clínicas e outros serviços. Afinal, “a experiência não é só para as [pessoas] que passam, mas para as que vivem cá”, tal como sublinhou o presidente da associação portuguesa de pilotos.

E se “não podemos estar constantemente a apagar fogos”, palavras de Fernando Nunes da Silva, é necessário “simplificar o processo de planeamento”, realça Cláudia Guedes. “Ainda só estamos a discutir um bocadinho do problema, mas todas as implicações a seguir estão longe de estarem estabilizadas”, realça a jurista.

O investimento que superará os oito mil milhões de euros visa alargar a capacidade do Humberto Delgado, mas não ficará pronto antes de 2031. O reacender desta discussão dá-se na mesma semana em que o actual aeroporto foi considerado o quarto pior do mundo, de acordo com o ranking anual da AirHelp.

Além de uma sala bem composta, o debate contou com alta adesão via streaming. Pode assistir aqui.

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