Países Baixos. Partido de Mark Rutte rejeita coligação de Governo com Geert Wilders

Os liberais do VVD anunciaram a sua posição ainda antes do início das negociações formais, mas também disseram que admitem viabilizar um Governo minoritário da extrema-direita.

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Wilders disse que ficou "decepcionado" com a posição da líder do VVD, Dilan Yesilgoz-Zegerius EPA/SEM VAN DER WAL
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O difícil caminho de Geert Wilders para a liderança de um Governo maioritário nos Países Baixos ficou ainda mais estreito nesta sexta-feira, depois de o maior partido do centro-direita no país — o VVD, do primeiro-ministro demissionário, Mark Rutte — ter anunciado que não irá coligar-se com a extrema-direita.

A recém-eleita líder do VVD e sucessora de Rutte, Dilan Yesilgoz-Zegerius, disse que os resultados eleitorais de quarta-feira são um sinal de que o seu partido deve ficar de fora de uma coligação formal, embora não afaste a hipótese de apoiar "propostas construtivas" de um eventual Governo minoritário liderado por Wilders.

"Os grandes vencedores destas eleições são o PVV e o NSC", disse Yesilgoz-Zegerius, referindo-se ao partido de Wilders — o grande vencedor, com 37 deputados — e a um novo partido do centro-direita que conquistou 20 lugares na Câmara dos Representantes. "Mas não iremos bloquear a formação de um Governo do centro-direita", afirmou a líder do VVD.

A posição dos liberais, anunciada ainda antes do início das conversações com vista à formação de um Governo, levou Wilders a "lamentar" a decisão, numa declaração na rede social X.

"É decepcionante que o VVD diga que não quer participar num Governo de centro-direita antes de ter negociado um minuto que fosse", disse o líder do PVV. "Acho que não é isso que os eleitores do partido querem. É uma pena, mas espero que mudem de opinião."

A auto-exclusão do VVD das negociações põe ainda mais pressão sobre outro dos vencedores da noite eleitoral — o NSC, também do centro-direita — para aceitar coligar-se com o partido de extrema-direita de Geert Wilders.

Com os 37 lugares do PVV mais os 20 do NSC — e com os sete votos do Movimento dos Cidadãos Agricultores praticamente garantidos —, Wilders somaria 64 votos na Câmara dos Representantes, ficando a 12 de poder formar um Governo maioritário.

Nesse caso, a disponibilidade dos liberais para não bloquearem um Governo minoritário (numa inversão do que aconteceu em 2010, quando foi o PVV de Wilders que viabilizou o primeiro Governo liderado por Rutte) poderia ser uma solução para desbloquear um impasse que deverá arrastar-se por vários meses. Após as eleições de Março de 2021, por exemplo, só houve um acordo ao fim de 299 dias.

Em causa está o extremismo das posições do partido de Wilders em temas como a imigração e o combate às alterações climáticas, que o líder do VVD tentou moderar durante a última campanha eleitoral.

O líder do NSC, Pieter Omtzigt, chegou a dizer, durante a campanha eleitoral, que só aceitaria integrar um Governo com partidos "que não interfiram com o primado da lei", excluindo o partido de Wilders desse lote. No entanto, nunca fez uma declaração clara e inequívoca sobre qual seria a posição do seu partido após os resultados eleitorais.

Também nesta sexta-feira, a ministra das Finanças dos Países Baixos, Sigrid Kaag (dos Democratas 66, do centro), pediu aos partidos que não se esqueçam "dos mais de 20 anos de discriminação e de incitamento à exclusão de grupos da população e à demonização do outro" que estão na base das propostas do partido de Wilders.

"Ele pode fingir que é a Madre Teresa, mas ainda lhe falta muito para isso", disse Kaag, referindo-se à moderação do discurso extremista que marcou a campanha eleitoral de Wilders.

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