Guitarrista Elodie Bouny lança Luares: “Uma fotografia muito pessoal do meu trabalho”

Guitarrista com formação clássica, Elodie Bouny lança esta sexta-feira o seu segundo álbum como compositora, retratando “uma evolução de uma década”.

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Elodie Bouny Alfredo Matos
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O primeiro álbum a solo, fruto de anos de trabalho como guitarrista clássica, lançou-o no Brasil, em 2012. Chamava-se Terra Adentro e fixou o nome de Elodie Bouny num campo algures entre a música erudita e a popular. Agora, passados onze anos, e há quatro a viver em Portugal, Elodie lança Luares, apresentado como “um álbum íntimo e emotivo”, que, em entrevista ao PÚBLICO, ela diz retratar “uma evolução de uma década”, constituindo “uma fotografia muito pessoal” do seu trabalho. Entre o primeiro disco e o actual, além de muitos concertos e composições para vários projectos, Elodie participou em discos de parcerias, como Novas 2 (com Pedro Iaco, 2014), Rama Trio (EP, 2020, onde Elodie se juntou a Gaia Wilmer, sax alto; e Mayo Pamplona, contrabaixo) e Caravana do Amanhã (com Iara Ferreira, 2023). Luares, porém, está noutro patamar no que respeito à sua afirmação pessoal. “Como compositora e guitarrista, é este o meu segundo disco”, diz.

Nascida na Venezuela, em 1982, de mãe boliviana e pai francês, Elodie Bouny cresceu em Paris, aí iniciando estudos clássicos focados na guitarra clássica no Conservatório de Boulogne, obtendo, no ano 2000, “o diploma com menção mais alta por unanimidade”. Passa depois por outros conservatórios (Estrasburgo, Buenos Aires) e fixa-se no Brasil, casada com o também violonista Yamandú Costa. Desde há quatro anos, passou a residir em Portugal, para onde se mudou por vários factores: “Eu sou francesa, mas estava com a família no Brasil, no Rio de Janeiro, os meus filhos são brasileiros, e depois de treze anos lá, a gente [ela e Yamandú] estava com vontade de vir para a Europa. Ele, na verdade, estava muito por aqui, então era difícil ter essa relação de família.” A mudança foi, pois, “um projecto familiar e também de oportunidades de trabalho, de tentar outras coisas”. O que resultou, porque passaram a actuar mais pela Europa. “O número de concertos aumentou, sim. Teve essa pandemia, mas depois que o mundo voltou, ficou mais fácil porque é tudo muito perto, a Europa é pequena. Realmente facilitou bastante.”

O álbum que agora chega às plataformas digitais tem dez composições, oito assinadas apenas por ela (A espera, Que lo diga la luna, Cena brasileira, Figura ímpar, Conversa das flores, Anjo, Duas almas e Chant d’espoir) e duas em parceria: Le pli du temps, com Sérgio Assad, e Luares, com Yamandú Costa. “É um apanhado bastante amplo”, diz Elodie. “Tem peças antigas, com mais de dez anos, e peças inéditas. As antigas, escolhi-as mais pensando no que as pessoas gostam das minhas composições. As mais recentes, foram composições que fiz ao longo da pandemia e mesmo depois dela. É uma fotografia da minha composição para guitarra, um disco que retrata uma evolução de uma década.”

O tema feito em parceria com o também violonista ou guitarrista clássico e compositor Sérgio Assad tem uma história tão curiosa quanto conturbada: “Ele me mandou essa música há muitos anos”, recorda Elodie. “Só que eu me mudei, perdi o e-mail dele, as partituras impressas, e fiquei com muita vergonha de falar com ele. Passados muitos anos, achei a música (as folhas impressas) na cave da casa dos meus pais em Paris. Aí, mandei uma foto pra ele, a ver se se lembrava e ele disse ‘claro!’, mas também ele tinha perdido a música.” Combinaram, então, que Elodie completaria a música, o que acabou por fazer, para este disco. “Foi uma parceria num lapso de tempo muito grande, por isso a gente deu à música esse nome, Le pli du temps.” E ficou a abrir o disco, que fecha com outro tema também titulado em francês, o único gravado em quarteto: Chant d’espoir, com Pedro Iaco (voz), André Siqueira (baixo fretless) e Thiago Lamattina (percussão).

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A capa do disco

Quase todos os temas do disco são tocados apenas por Elodie, à excepção do já citado Chant d’espoir e de mais dois: A espera, com Francesco Valente no contrabaixo; e Cena brasileira, onde Pedro Iaco participa com vocalizos na sua voz admirável. Com Pedro Iaco, a parceria começou há “uns poucos anos”, explica Elodie: “É uma parceria intensa. A gente adora trabalhar juntos, temos umas parcerias de composição, gravações, acho que provavelmente deve até surgir um álbum nosso, de duo, em algum momento. É um músico excepcional, com um talento vocal fora do comum. Tem uma voz instrumental.”

Gravado em Lisboa, em Março deste ano, e masterizado no Brasil, em São Paulo, Luares é visto por Elodie Bouny como o disco que melhor representa o seu trabalho de guitarrista e compositora: “É muito pessoal, muito íntimo. Eu tenho um jeito talvez mais antigo de ver a gravação. Hoje em dia é uma coisa mais acelerada, todo o mundo grava, mas a concepção de um álbum é para mim uma coisa muito pessoal, exige uma entrega muito especial. E este disco é uma fotografia muito pessoal do meu trabalho, sem dúvida.”

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