Fabricantes de roupa da Turquia enfrentam aumentos devido a apoio ao sector têxtil

Os novos impostos estão a pressionar a indústria, que é uma das maiores empregadoras da Turquia, uma vez que fornece marcas europeias de peso como a H&M, Mango, Adidas, Puma e Inditex.

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Na Turquia, as exportações de têxteis e vestuário caíram mais de 8% até Outubro deste ano Adriano Miranda/Arquivo

Os fabricantes de vestuário da Turquia, o terceiro maior fornecedor de vestuário para a Europa, enfrentam custos de produção mais elevados e correm o risco de ficar ainda mais para trás face aos rivais asiáticos, depois de o Governo ter aumentado os impostos sobre as importações de têxteis, dizem os líderes do sector.

Na semana passada, Ancara aumentou os direitos aduaneiros em 30 a 100% sobre centenas de produtos têxteis importados, com o objectivo de apoiar os fabricantes locais de fios e tecidos, depois de estes terem pedido apoio contra uma vaga de importações mais baratas.

Mas, dizem os responsáveis pelo sector do vestuário, os novos impostos estão a pressionar a indústria, que é uma das maiores empregadoras da Turquia, uma vez que fornece marcas europeias de peso como a H&M, Mango, Adidas, Puma e Inditex.

Os representantes do sector afirmam que poderão ocorrer cortes de trabalhadores, à medida que os custos de importação aumentam e os produtores turcos perdem quota de mercado para rivais como o Bangladesh e o Vietname.

Tecnicamente, os exportadores podem solicitar isenções de impostos, mas fontes do sector afirmam que o regime de isenção é dispendioso e moroso e, na prática, não funciona para muitas empresas.

O sector já estava a lutar contra a subida da inflação, a diminuição da procura e a redução das margens de lucro, devido ao que os exportadores consideram ser uma moeda sobrevalorizada, bem como aos efeitos da experiência de anos da Turquia com a redução das taxas de juro à medida que a inflação subia, uma política recentemente revista.

Actualmente, o preço de uma T-shirt fabricada na Turquia é 40% mais elevado para um comprador europeu do que uma do Bangladesh, declara Seref Fayat, presidente da Assembleia Turca para a Indústria de Vestuário (TOBB é a sigla local). Há alguns anos, a diferença era de 15-20%, acrescenta outra fonte. “As marcas de moda podem suportar preços mais elevados até 20%, mas qualquer valor superior conduz a perdas de mercado”, afirma.

Timur Bozdemir, presidente da DF Manhattan Inc., que fabrica vestuário de mulher para os mercados europeu e americano, afirmou que a nova tarifa aumentará o custo de uma T-shirt de dez dólares em apenas 50 cêntimos. Por isso, não espera perder clientes, mas diz que as mudanças reforçam a necessidade de a indústria de vestuário da Turquia passar da produção em massa para o valor agregado. “Se insistirmos em competir com o Bangladesh ou o Vietname por uma T-shirt de três dólares, sem dúvida que perderemos”, declara.

Vantagem competitiva

A Turquia exportou 9,57 mil milhões de euros em têxteis e 19,51 mil milhões de euros em vestuário no ano passado, o que a torna o quinto e sexto maior exportador mundial, respectivamente. É o segundo maior fornecedor de têxteis e o terceiro maior fornecedor de vestuário da União Europeia, segundo dados da Confederação Europeia do Vestuário e dos Têxteis (Euratex).

Mas a sua quota no mercado europeu desceu de 13,8% em 2021 para 12,7% no ano passado.

Durante a pandemia de covid-19, os clientes ocidentais recorreram à Turquia para reduzir os custos de transporte de mercadorias devido às perturbações no abastecimento. Quando a pandemia terminou, a combinação da descida dos custos de transporte e do aumento da inflação interna enfraqueceu a sua vantagem competitiva.

Segundo dados do sector, as exportações de têxteis e vestuário caíram mais de 8% até Outubro deste ano, enquanto as exportações globais se mantiveram estáveis. Já o sector têxtil, que se confronta com um aumento de tecidos e fios importados mais baratos — o que, em parte, provocou a necessidade de aplicar as tarifas —, viu o seu número de empregados registados cair 15% até Agosto.

A sua taxa de utilização da capacidade foi de 71% no mês passado, em comparação com 77% na indústria transformadora em geral, e os responsáveis do sector dizem que a taxa está perto dos 50% para muitos fabricantes de fios. “Quase parei a produção e cortei a maior parte dos postos de trabalho na minha fábrica de fios, e não sou o único nesta situação”, lamenta Fatih Bilici, que gere uma fábrica de fios sediada em Osmaniye que abastece os mercados locais e estrangeiros.

Há alguns meses, a sua empresa reduziu a produção diária de 50 para cinco toneladas. Segundo ele, os direitos aduaneiros são vitais para uma indústria que luta pela sobrevivência. “Custa-me 2,94 euros/kg para fabricar, enquanto o meu rival uzbeque o vende a 2,48 euros. Como é que posso competir?”

A lira perdeu 35% do seu valor em relação ao dólar este ano e 80% em cinco anos. Mas os exportadores afirmam que a moeda turca deveria desvalorizar-se ainda mais para reflectir melhor a inflação, que se situa acima dos 61% e atingiu os 85% no ano passado.

Seref Fayat, da TOBB, informa que o sector têxtil e do vestuário cortou 170 mil postos de trabalho este ano. Com o aperto monetário a arrefecer uma economia sobreaquecida, espera-se que atinja os 200 mil postos de trabalho até ao final do ano.

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