Ataques israelitas a escolas “não se podem tornar comuns”

Chefe da UNRWA, Philippe Lazzarini, reage a “imagens de dezenas de pessoas mortas e feridas” em ataque israelita que atingiu escola da ONU. Israel volta a bombardear o Sul de Gaza.

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Funcionários e familiares das vítimas rezam no hospital Nasser, em Khan Youni EPA/HAITHAM IMAD
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Israel levou a cabo vários ataques aéreos no Sul da Faixa de Gaza – para onde aconselhou repetidamente a população a ir – incluindo em zonas residenciais, que fizeram, segundo paramédicos, 47 mortos, enquanto no Norte, onde decorre a operação terrestre, um ataque a uma escola fez “dezenas de mortos e feridos”, segundo Philippe Lazzarini, o chefe da organização da ONU que apoia os refugiados palestinianos (UNRWA) que geria a escola, onde muitos civis procuraram abrigo.

“Estes ataques não se podem tornar comuns”, declarou Lazzarini na rede social X (antigo Twitter), dizendo que recebeu imagens “terríveis” do ataque. O ministério da Saúde de Gaza, do Hamas, diz que morreram mais de 80 pessoas em dois ataques no campo de refugiados de Jabalia, no Norte de Gaza, sendo um deles o que atingiu a escola.

“Estamos a ver imagens horríveis de crianças e civis mortos em Gaza – de novo – depois de procurarem refúgio numa escola que deve ser sempre protegida”, declarou pelo seu lado a chefe da Unicef, o Fundo das Nações Unidas para a Infância. “Esta mortandade tem de acabar. O sofrimento tem de acabar.”

Se no Norte continuava a operação terrestre levada a cabo pelo Exército, que informou este sábado sobre a morte de mais seis soldados, elevando o total de baixas para 56, no Sul houve vários ataques que deixaram pelo menos 47 mortos.

Um ataque aéreo atingiu dois apartamentos num bloco com vários andares numa zona residencial de Khan Younis na madrugada de sábado, fazendo 26 mortos, disseram responsáveis dos serviços de saúde citados pela agência Reuters.

A agência ouviu um sobrevivente, Eyad Al-Zaeem, contar que a sua tia, os filhos e netos dela morreram no ataque. Todos tinham saído do Norte da Faixa de Gaza após o aviso de evacuação israelita.

Outro ataque em Khan Younis, perto de um centro para pessoas deslocadas, fez 15 mortos, e em Deir Al-Balah um ataque a uma casa matou seis pessoas.

Operação terrestre no Sul

Especula-se entretanto que Israel pode estar a preparar-se para uma operação terrestre também no Sul, o que levaria a uma nova deslocação em massa, juntando o mais de um milhão que saiu do Norte aos residentes de Khan Younis, que terá uma população de mais de 400 mil habitantes.

Ainda antes desta potencial deslocação, já várias agências da ONU avisaram para o risco imediato de fome aguda e a OMS dizia que os números de doenças respiratórias graves e outras que se devem à falta de condições nos centros para pessoas deslocadas são já mais altos do que o previsto.

Com um maior número de pessoas numa zona ainda mais confinada, estes problemas multiplicar-se-iam, fazendo aumentar as mortes devidas a doenças e outros factores que não os ataques propriamente ditos.

“Vai provavelmente haver mais vítimas civis”, disse Giora Eiland, antigo chefe do conselho de segurança nacional, à Reuters. “Isso não nos vai impedir de avançar.”

Segundo o diário britânico The Guardian, em 40 dias de guerra, 3676 pessoas foram mortas em zonas do Sul que Israel tinha declarado serem seguras – um terço, acrescentam, de todas as mortes, segundo um mapa das Nações Unidas usando números das autoridades de Saúde de Gaza.

Apesar de serem tuteladas pelo Hamas, estas têm funcionários da Fatah e em conflitos anteriores não houve grandes discrepâncias de dados, muitos observadores e até a mais alta representante do Departamento de Estado dos EUA para o Médio Oriente, Barbara Leaf, dizem que a errar, os números pecarão por defeito.

O ministério da Saúde deixou de apresentar listas com base em casos confirmados quando as falhas nas comunicações e a falta de electricidade no hospital Al-Shifa, o maior de Gaza, deixaram de permitir funcionar em rede, e apresenta agora estimativas. Neste sábado indicaram que o número de mortes ultrapassou as 12.300, das quais 5000 eram crianças.

O hospital Al-Shifa está há dias a ser alvo de uma operação militar israelita – as autoridades de Israel dizem que há um centro de controlo do Hamas sob o hospital e que o grupo islamista escondeu combatentes, armas e reféns no hospital; os funcionários do hospital negam.

Responsáveis palestinianos, incluindo o director do hospital, acusam ainda Israel de ter obrigado à retirada da maior parte do pessoal de saúde, doentes e deslocados do complexo hospitalar de Al-Shifa, com um anúncio por altifalantes que todas as pessoas teriam de deixar o hospital, segundo a France 24.

O exército de Israel negou que fosse esse o caso, dizendo que tinham acedido a um pedido do director do hospital para mais saídas voluntárias através de uma “via segura”.

Responsáveis de saúde palestinianos disseram que as pessoas que saíram estavam a deslocar-se por estradas perigosas, que estavam a ser sujeitas a ataques aéreos.

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