Guinga & Maria João, o “sublime músico” e a “cantora rara” ao vivo em Lisboa

A cantora portuguesa Maria João e o cantor e compositor brasileiro Guinga sobem este domingo ao palco do Museu do Oriente para mostrarem o muito que valem em duo.

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Guinga e Maria João num ensaio no Brasil DR
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Ela descreve-o como um “sublime músico”, ele vê nela uma “cantora rara”. Maria João e Guinga, cantor e compositor brasileiro que actuou pela primeira vez em Portugal em 2010, cantam juntos desde 2012, no Brasil e noutros palcos do mundo. Este domingo, estarão no Museu do Oriente, num concerto marcado para as 19h30. A voz de ambos e o violão dele.

O encontro entre ambos ocorreu devido a um acaso, como recorda Maria João ao PÚBLICO: “Ele ouviu-me num concerto que eu fiz com o Gilberto Gil, na praia de Copacabana, num evento que se chamava Pão Music, do Pão de Açúcar. Os músicos brasileiros convidavam portugueses e o Gil convidou-me a mim e ao Mário Laginha. E por acaso, um tal Guinga, que eu não conhecia, ouviu e ficou curioso acerca desta cantora esquisita, que sou eu.”

Guinga também se lembra bem desse momento, como diz ao PÚBLICO, por telefone, ainda no Brasil: “Eu ia passando pela rua e vi aquela pessoa cantando, no palco, com um público enorme na beira do mar. Fiquei muito impressionado e fui procurar saber algo sobre ela. Vi gravações dela, de música brasileira, como Beatriz [de Edu Lobo e Chico Buarque, gravada no álbum Fábula, de 1996] com arranjo do Mário Laginha, e tomei conhecimento dessa fera. Depois, vi ela cantando num programa, Atlântico, que acho que era o Nelson Motta que fazia [com Eugénia Melo e Castro, na sequência dos encontros Portugal-Brasil na Expo’98], confirmei o talento dessa mulher, e tive a felicidade de me encontrar com ela e trabalharmos juntos.”

O que só sucedeu depois de Maria João receber um telefonema totalmente inesperado: “Uma aluna minha, da ESML, fez um dia um recital de meia hora, com música de um tal Guinga, que eu não conhecia, e fiquei absolutamente maravilhada com aquela música. Ora passado um mês, liga-me o produtor do Guinga a dizer-me que ele tinha gostado de me ouvir e que me queria convidar para cantar a sua obra no Brasil e onde fosse. As coisas que nos acontecem!”

Carioca, nascido Carlos Althier de Souza Lemos Escobar, a 10 de Junho de 1950, no Rio de Janeiro, tornou-se Guinga porque uma tia, que o achava demasiado branco de pele, começou a chamar-lhe “gringo”. E ele, ainda criança, repetia: “guinga”. E assim ficou, até hoje. Compôs a primeira canção aos 14 anos, mas só começou a gravar aos 41. Formado em odontologia, exerceu a profissão de dentista, com êxito e proveito monetário, durante anos, até se dedicar em exclusivo à música, largando o consultório cerca do ano 2000. O primeiro álbum que gravou foi Simples e Absurdo, em 1991, seguindo-se mais uns 20, dois dos quais com Maria João.

Uma “dança” a dois

Depois do tal telefonema formulando o convite, Guinga e Maria João encontraram-se pela primeira vez, em São Paulo. “Ele achava que eu só tinha aprendido umas duas músicas, mas tinha aprendido umas dez”, diz ela. Tiveram um ensaio para uma primeira actuação conjunta, num dos Sesc (Maria João julga ter sido no Sesc Pompeia) e depois actuaram noutros Sesc e também fora do Brasil, em palcos europeus. E gravaram juntos dois discos, ambos datados de 2015: um colectivo, Porto da Madama, que além de Guinga e Maria João, contava com as cantoras Esperanza Spalding, Maria Pia de Vito e Mônica Salmaso; e Mar Afora, este apenas em duo, onde gravaram 14 canções de Guinga, na sua maioria parcerias com Aldir Blanc.

Em Portugal, Guinga e Maria João já tinham actuado no Porto, na Casa da Música, e em Lisboa, num espaço mais pequeno. Desta vez, acolhe-os o Museu do Oriente, num concerto marcado para este domingo, às 19h30. “Fico muito espantada”, diz Maria João, “como é que as pessoas não conhecem mais este sublime músico e violonista.” O facto de já terem trabalhado juntos em vários palcos, faz com que este concerto derive naturalmente desses encontros.

“Ele chega no próprio dia, eu também, vamos encontrar-nos na Fundação Oriente, dar uma volta nas coisas e vamos ‘dançar’ os dois”, brinca Maria João. “Ele gosta muito de ensaiar, eu é que gosto mais dessa aventura de estar absolutamente desperta para a música do outro e para o outro, adoro isso. Gosto até das imperfeições e dos erros, porque isso leva-nos para caminhos para onde não iríamos se a coisa fosse toda ensaiadíssima até ao pormenor.” Guinga também não parece intimidar-se com esses ensaios em cima da hora. “É muito simples, porque a Maria João é muito musical, aprende tudo muito rápido e sai cantando em qualquer tom. É muito dotada, é uma cantora rara, uma grande intérprete. Confio muito no talento dela.”

Depois do concerto com Maria João em Lisboa, Guinga vai tocar e cantar com a Orquestra de Jazz de Matosinhos, a convite desta, no dia 25 de Novembro. Será na Casa da Música, na Sala Suggia, onde a orquestra será dirigida por Pedro Guedes. O espectáculo chama-se Suburbano e os arranjos orquestrais, segundo a jazz.pt, serão de Pedro Guedes, Nuno Guedes de Campos, Rafael Martini, Catarina Ribeiro, Samuel Gapp, José Pedro Coelho e Guillermo Klein.

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