Quando é que chega a alegria?
O que nos une, enquanto humanos, é muito mais do que o que nos separa, e a alegria pode mesmo estar nas mais belas e simples coisas da vida.
Pandemia, guerra na Ucrânia, conflito israelo-palestiniano, uma sucessão infinita de mal-estar servida à mesa, à hora das refeições pelos telejornais. Assim têm sido estes últimos quase quatro anos. E o mínimo de sensibilidade faz refletir e pensar no mundo que temos e no mundo que queremos.
Vivem-se dificuldades diversas e a alegria que devia ser espelho de uma geração, sentada nos bancos da faculdade, acaba por se imiscuir. Os jovens não andam alegres e levam as tristezas e preocupações para as salas de aulas. Falam das dificuldades económicas, do desassossego para arranjar quarto, seja em Lisboa ou na Guarda, e comentam ainda as imagens violentas nos media.
Sentem-se desesperançados. Quem ensina perceciona esse ambiente, que certamente terá lastro em casa. É preciso transmitir esperança, fé num mundo melhor. E, por isso, a crónica de hoje é uma tentativa de enumerar o que nos faz sorrir, sem gastar muitos tostões, sem ilusões.
Há dias, um amigo comentava que não é uma boa altura para relações amorosas. Falta dinheiro para promover encontros, jantares, viagens, escapadinhas. E se o dinheiro não traz felicidade, o meu amigo dava por garantido de que ajuda muito quando se tem uma relação. Depois de o ouvir, dei comigo a pensar nos momentos, nas oportunidades e nas pessoas, que me trazem alegria, sem que seja necessário temer pelo plafond da conta bancária.
Aqui ficam alguns desses exemplos:
- Pão com manteiga a molhar no café.
- Massa com frango (à moda "tuga").
- O conforto de uma botija de água quente.
- Ir à biblioteca e ler um livro sem pagar por ele.
- Passear de mão dada com a cara-metade.
- Reencontrar um velho amor.
- Dormir de conchinha.
- Encontrar uma nota perdida num bolso.
- Receber um elogio inesperado.
- Ser surpreendido por um amigo que não via há muito tempo.
- Beijar um cachorrinho.
- Ouvir o ronronar de um gato.
- Rir até doer a barriga.
- Partilhar reels com a melhor amiga.
- Ter irmãos.
- Estar bem de saúde. Não ter dor de dentes.
- Ter os pais vivos.
- Chegar a casa.
- Acordar e perceber que é feriado.
- Ter alguém que nos oiça e compreenda.
- Receber um postal pelo correio.
- Solucionar um conflito.
- Aprender algo novo.
- Fazer pipocas em casa.
- Ajudar alguém.
- Encontrar algo que queria muito por uma pechincha.
- Passear na serra.
- Respirar a brisa marítima.
- Ter oportunidade de recomeçar.
- Sábados de manhã a conversar num café.
- Tardes de domingo no sofá, com chuva lá fora.
- Ligar a rádio e estar a passar a música preferida.
- Receber convite para almoçar fora.
- Aperceber-se de que seguiu um conselho e foi bem-sucedido.
- Tomar banho.
- Deslumbrar-se com um filme ou série.
- Lençóis lavados e casa arrumada.
- Memórias de infância felizes.
- Perceber que se tem uma boa amizade.
- A gargalhada das/os filhas/os.
E se partilhar esta crónica, não se esqueça de acrescentar mais alguns pontos, que serão sempre diferentes consoante a faixa etária. O que nos une, enquanto humanos, é muito mais do que o que nos separa, e a alegria pode mesmo estar nas mais belas e simples coisas da vida. É bom recordar e não esquecer que, até nos momentos em que tudo nos parece negro, algo ou alguém há de surgir para nos trazer alegria. Talvez seja fé. Mas a alegria há de chegar.
A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990