Quando é que chega a alegria?

O que nos une, enquanto humanos, é muito mais do que o que nos separa, e a alegria pode mesmo estar nas mais belas e simples coisas da vida.

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"É preciso transmitir esperança, fé num mundo melhor" Alina Kurson/pexels
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Pandemia, guerra na Ucrânia, conflito israelo-palestiniano, uma sucessão infinita de mal-estar servida à mesa, à hora das refeições pelos telejornais. Assim têm sido estes últimos quase quatro anos. E o mínimo de sensibilidade faz refletir e pensar no mundo que temos e no mundo que queremos.

Vivem-se dificuldades diversas e a alegria que devia ser espelho de uma geração, sentada nos bancos da faculdade, acaba por se imiscuir. Os jovens não andam alegres e levam as tristezas e preocupações para as salas de aulas. Falam das dificuldades económicas, do desassossego para arranjar quarto, seja em Lisboa ou na Guarda, e comentam ainda as imagens violentas nos media.

Sentem-se desesperançados. Quem ensina perceciona esse ambiente, que certamente terá lastro em casa. É preciso transmitir esperança, fé num mundo melhor. E, por isso, a crónica de hoje é uma tentativa de enumerar o que nos faz sorrir, sem gastar muitos tostões, sem ilusões.

Há dias, um amigo comentava que não é uma boa altura para relações amorosas. Falta dinheiro para promover encontros, jantares, viagens, escapadinhas. E se o dinheiro não traz felicidade, o meu amigo dava por garantido de que ajuda muito quando se tem uma relação. Depois de o ouvir, dei comigo a pensar nos momentos, nas oportunidades e nas pessoas, que me trazem alegria, sem que seja necessário temer pelo plafond da conta bancária.

Aqui ficam alguns desses exemplos:

  • Pão com manteiga a molhar no café.
  • Massa com frango (à moda "tuga").
  • O conforto de uma botija de água quente.
  • Ir à biblioteca e ler um livro sem pagar por ele.
  • Passear de mão dada com a cara-metade.
  • Reencontrar um velho amor.
  • Dormir de conchinha.
  • Encontrar uma nota perdida num bolso.
  • Receber um elogio inesperado.
  • Ser surpreendido por um amigo que não via há muito tempo.
  • Beijar um cachorrinho.
  • Ouvir o ronronar de um gato.
  • Rir até doer a barriga.
  • Partilhar reels com a melhor amiga.
  • Ter irmãos.
  • Estar bem de saúde. Não ter dor de dentes.
  • Ter os pais vivos.
  • Chegar a casa.
  • Acordar e perceber que é feriado.
  • Ter alguém que nos oiça e compreenda.
  • Receber um postal pelo correio.
  • Solucionar um conflito.
  • Aprender algo novo.
  • Fazer pipocas em casa.
  • Ajudar alguém.
  • Encontrar algo que queria muito por uma pechincha.
  • Passear na serra.
  • Respirar a brisa marítima.
  • Ter oportunidade de recomeçar.
  • Sábados de manhã a conversar num café.
  • Tardes de domingo no sofá, com chuva lá fora.
  • Ligar a rádio e estar a passar a música preferida.
  • Receber convite para almoçar fora.
  • Aperceber-se de que seguiu um conselho e foi bem-sucedido.
  • Tomar banho.
  • Deslumbrar-se com um filme ou série.
  • Lençóis lavados e casa arrumada.
  • Memórias de infância felizes.
  • Perceber que se tem uma boa amizade.
  • A gargalhada das/os filhas/os.

E se partilhar esta crónica, não se esqueça de acrescentar mais alguns pontos, que serão sempre diferentes consoante a faixa etária. O que nos une, enquanto humanos, é muito mais do que o que nos separa, e a alegria pode mesmo estar nas mais belas e simples coisas da vida. É bom recordar e não esquecer que, até nos momentos em que tudo nos parece negro, algo ou alguém há de surgir para nos trazer alegria. Talvez seja fé. Mas a alegria há de chegar.


A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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