Produção de combustíveis fósseis em 2030 será mais do dobro do prometido em Paris

Os planos de produção de combustíveis fósseis excedem os objectivos do Acordo de Paris, segundo a ONU. Análise a 20 países conclui que a produção em 2030 será 110% mais do que seria compatível.

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Relatório da ONU e de uma equipa de cientistas analisou os 20 principais produtores de combustíveis fósseis Reuters/STEPHANE MAHE
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A produção global de combustíveis fósseis em 2030 deverá ser mais do que o dobro dos níveis considerados consistentes com o cumprimento das metas climáticas estabelecidas no acordo climático de Paris de 2015, avisa esta quarta-feira um relatório das Nações Unidas, que contou com a colaboração de uma equipa de cientistas.

As conclusões do trabalho do Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA), que avalia a diferença entre os cortes na produção de combustíveis fósseis e o que é necessário para cumprir os objectivos climáticos, surgem antes da cimeira do clima COP28, que começa a 30 de Novembro no Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, ricos em petróleo.

"A eliminação progressiva dos combustíveis fósseis é uma das questões fundamentais que serão negociadas na COP28", afirmou Ploy Achakulwisut, cientista do Instituto do Ambiente de Estocolmo (SEI) e um dos principais autores do relatório, numa conferência de imprensa.

"Precisamos que os países se comprometam a eliminar gradualmente todos os combustíveis fósseis para manter vivo o objectivo de 1,5ºC", afirmou.

No âmbito do Acordo de Paris, as nações comprometeram-se a atingir o objectivo a longo prazo de limitar o aumento da temperatura média a menos de 2 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais e a tentar limitá-lo ainda mais a 1,5 graus Celsius.

Embora os cientistas afirmem que a utilização de combustíveis fósseis deva ser reduzida para atingir o objectivo, os países não conseguiram chegar a um acordo internacional sobre as datas de eliminação progressiva da utilização ininterrupta de carvão, gás ou petróleo.

O relatório analisou os 20 principais produtores de combustíveis fósseis e concluiu que estes planeiam produzir, no total, cerca de 110% mais combustíveis fósseis em 2030 do que seria compatível com a limitação do grau de aquecimento a 1,5 graus Celsius e 69% mais do que seria compatível com 2 graus Celsius.

Nenhum dos 20 países se comprometeu a reduzir a produção de carvão, petróleo e gás de acordo com a limitação do aquecimento a 1,5 graus Celsius, segundo o relatório.

Segundo o relatório, 17 dos países comprometeram-se a atingir a neutralidade carbónica, mas a maioria continua a promover, subsidiar, apoiar e planear a expansão da produção de combustíveis fósseis.

Os 20 países analisados representam 82% da produção mundial de combustíveis fósseis e 73% do consumo, segundo o relatório, e incluem a Austrália, a China, a Noruega, o Qatar, a Grã-Bretanha, os Emirados Árabes Unidos e os Estados Unidos.

O relatório foi produzido pelo PNUA, bem como por peritos do SEI, o Instituto Internacional para o Desenvolvimento Sustentável e o grupo de reflexão E3G e o instituto de políticas Climate Analytics.

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