Palcos da semana: de Alkantara à Terra Santa, com Devendra, Brecht e jazz

O Alkantara Festival mexe com certezas, Devendra Banhart traz Flying Wig e Guimarães enche-se de jazz. À Gulbenkian, chega O Tesouro dos Reis. Às tábuas, A Ascensão de Arturo Ui.

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Marco Mendonça em Blackface, um dos destaques do Alkantara Festival Joana Linda
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Devendra Banhart apresenta o novo álbum em dois concertos Dana Trippe
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O Teatro da Didascália estreia A Ascensão de Arturo Ui DR
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A big band de Kathrine Windfeld fecha o 32.º Guimarães Jazz Cat Munro
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Pormenor do baldaquino eucarístico e crucifixo exibido em O Tesouro dos Reis (Nápoles, 1754, 1756. Terra Sancta Museum, Jerusalém) Guillaume Benoit/ CTS
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Inquietações por Alkantara

Mais do que um lugar de intersecção entre artes performativas, o Alkantara Festival tem-se afirmado como “um espaço de encantamento ou inquietação, que nos faça chegar a outros pontos de vista, que mexam com as nossas certezas” – uma missão intensificada na carta de intenções da edição deste ano.

Logo a abrir, Rébecca Chaillon apresenta um Whitewashing subversivo. Milo Rau trará reflexões sobre poder e resistência com uma Antígona na Amazónia. Marco Mendonça evocará um desconfortável Blackface. Bárbara Bañuelos vem Fazer Noite a conversar sobre livros, trabalho, estigmas e outras matérias. E Nadia Beugré declara Profético (Nós Já Nascemos) com “corpos trans que encenam as suas próprias vidas”. Todos estes espectáculos têm aqui a sua estreia nacional.

Marcelo Evelin, Sónia Baptista, Gaya de Medeiros, Lukanu Mpasi, Alina Ruiz Folini, Calixto Neto, Aoaní Salvaterra & Joyce Souza e Chim↑Pom from Smappa!Group são outros criadores convocados.

Contemplemos (com) Banhart

Devendra Banhart, o músico (e pintor e poeta) norte-americano que está tão ligado a Portugal que um dia gravou uma canção chamada Santa Maria da Feira, regressa para alimentar o culto com duas datas dedicadas a Flying Wig, primeiro disco de estúdio em quatro anos.

Se no anterior, Ma (2019), se entregava a “um agradecimento à natureza maternal da música e uma celebração e homenagem às mães”, agora vem para “transmutar desespero em gratidão, feridas em perdão, dor em oração”, num tom de crooner a fluir por paisagens contemplativas e introspectivas.

Tesouros da Terra Santa

A Gulbenkian prepara-se para dar a ver “um tesouro artístico de valor incalculável”: dezenas de obras que viajaram de Jerusalém para Lisboa, numa parceria da fundação com o Terra Sancta Museum e com a Custódia da Terra Santa (missão franciscana que zela pelos lugares cristãos na região).

A exposição O Tesouro dos Reis, que está a ser preparada desde 2021, centra-se nas doações que vários monarcas europeus foram fazendo, ao longo dos séculos, a templos daquele território – sobretudo, a Basílica do Santo Sepulcro. É o caso da lâmpada de igreja em ouro, oferecida por D. João V, ou do grande baldaquino em ouro, lápis-lázuli e pedras preciosas, que ali chegou por vontade de Carlos VII de Nápoles.

No total, são exibidas cerca de cem obras, incluindo 40 que foram alvo de conservação e restauro já em Portugal e que podem agora, garante a folha de sala, “ser vistas com o brilho e o fulgor de outros tempos”. Pinturas, livros e documentos de outros emprestadores (como museus e bibliotecas nacionais) completam o panorama.

O percurso expositivo organiza-se em quatro temas: Jerusalém, “Cidade da Redenção”; De Constantino, o Grande, a Solimão, o Magnífico; “Theatrum Mundi”: Doações Régias aos Lugares Santos; e Calouste Sarkis Gulbenkian e Jerusalém.

Didascália em ascensão

Em 1941, exilado na Finlândia, Brecht escreveu A Resistível Ascensão de Arturo Ui, uma história de guerra entre mafiosos de Chicago que funcionava como parábola para as estratégias de ascensão do nazismo e que era atravessada pela ideia de que todos são corruptíveis.

Agora, o Teatro da Didascália, notando o despontar de autoritarismos e o quanto “a recente história do mundo tem revelado incríveis semelhanças com um passado sombrio”, pega na obra do dramaturgo alemão para perguntar “e se toda a acção da peça acontecesse na nossa casa da democracia?”

A encenação e a dramaturgia são de Bruno Martins. A interpretação, de Diana Sá, Eduardo Breda, Gonçalo Fonseca, Luísa Guerra, Pedro Couto e Valdemar Santos. Depois da estreia no Porto, A Ascensão de Arturo Ui segue para Coimbra (18 de Novembro), Famalicão (24 e 25) e Monção (2 de Dezembro).

Da raiz à vanguarda

No 32.º Guimarães Jazz, tanto o acto inaugural como o de encerramento estão entregues a big bands, uma delas icónica para a cena nova-iorquina e outra representativa “da nova vaga de orquestras europeias”, refere A Oficina organizadora do festival.

O pano sobe então com a Vanguard Jazz Orchestra, fundada na Nova Iorque dos anos 1960 por Thad Jones e Mel Lewis. Para o final, está reservada a actuação do grupo liderado pela dinamarquesa Kathrine Windfeld. Entre eles, há tempo para escutar um contrabaixista histórico como Buster Williams, mas também Michael Formanek, Aaron Parks e Landline Plus One, entre outros.

São destaques de um alinhamento particularmente atento “às expressões de tendência experimental”, sublinha o comunicado, mas que continua a primar “pelo equilíbrio entre a tradição e a inovação e pelo eclectismo estilístico e geracional”.

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