Ainda longe de ser primeiro-ministro, Tusk já faz promessas a Bruxelas

As reuniões entre os partidos e o Presidente para a formação de um novo governo na Polónia começaram. Tusk encontrou-se com Von der Leyen e pediu o fim ao bloqueio dos fundos europeus.

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Menos de duas semanas depois das eleições, Tusk encontrou-se com Von der Leyen em Bruxelas EPA/OLIVIER HOSLET
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Os partidos da oposição polaca confirmaram a intenção de se coligarem para formar um novo governo e pediram ao Presidente, Andrzej Duda, para que acelere o processo. Em Bruxelas, o líder da Coligação Cívica, Donald Tusk, já se apresentou como putativo primeiro-ministro e disse esperar reconstruir os laços com a União Europeia.

Na sequência das eleições legislativas em que o Partido Lei e Justiça (PiS, na sigla original) perdeu a maioria – e não tem qualquer via parlamentar para se manter no poder –, os três partidos da oposição querem fazer avançar rapidamente o processo de formação do novo governo.

“Hoje, em conjunto com os líderes dos partidos democráticos, confirmamos a nossa disponibilidade para cooperar na totalidade e formar uma nova maioria no futuro Parlamento”, afirmou Tusk, que lidera o maior partido da oposição e já foi primeiro-ministro.

O próximo governo deverá nascer de uma coligação entre a Coligação Cívica, a Terceira Via, de centro-direita, e a Nova Esquerda, unidos com o propósito de pôr fim à governação do PiS, no poder há oito anos. Durante esse período, o partido ultraconservador pôs em causa a independência do sistema judicial, apertou o controlo sobre os meios de comunicação social e restringiu o acesso ao aborto.

Apesar de o PiS ter sido o mais votado nas eleições de 15 de Outubro, o seu resultado não lhe permite manter a maioria de lugares no Parlamento. A aritmética parlamentar não permite sequer que o partido actualmente no poder possa coligar-se com o Confederação, uma formação de extrema-direita. Assim, a única fórmula para assegurar uma governação estável assenta nos três partidos da oposição.

O calendário para que a Polónia possa vir a ter um novo governo está dependente de Duda. O Presidente polaco – um aliado do PiS – começou esta semana a receber os líderes partidários e é a si que cabe a decisão sobre quem chamar em primeiro lugar para tentar formar governo. Durante a campanha eleitoral, Duda sugeriu que o mais certo seria seguir a regra de convocar o líder do partido mais votado.

No entanto, os dirigentes da oposição têm apelado a Duda para acelerar o processo. Acusando o PiS de ter “gasto oito anos” das vidas dos polacos, o dirigente da Terceira Via, Szymon Holownia, pediu a Duda que “não gaste nem mais um segundo”.

Se for dado ao PiS a possibilidade de tentar formar governo, a indefinição do futuro político da Polónia poderá prolongar-se até meados de Dezembro, pelo menos. Os críticos do partido dizem que os seus líderes poderão tentá-lo de qualquer forma para ocultar quaisquer rastos de provas incriminatórias de abusos de poder ou corrupção, ou simplesmente para dificultar a transição de poder.

Na terça-feira, o chefe de Estado começou por receber o actual primeiro-ministro, Mateusz Morawiecki, em representação do PiS, para se reunir de seguida com Tusk, que lhe confirmou a disponibilidade das três forças de oposição em se unir para formar governo.

Já esta quarta-feira Tusk não esclareceu se Duda irá nomeá-lo de imediato, mas apresentou-se “cautelosamente optimista”. “Tudo indica que a cooperação deverá ser tão harmoniosa quanto possível”, afirmou o ex-primeiro-ministro, citado pela Reuters.

Num forte sinal de que uma mudança política na Polónia é já dada como irreversível, Tusk, que também foi presidente do Conselho Europeu, encontrou-se esta quarta-feira com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, com o objectivo declarado de “reconstruir a posição” da Polónia no seio da UE.

A prioridade de Tusk é que sejam desbloqueados os mais de 30 mil milhões de euros em fundos comunitários, actualmente congelados por Bruxelas por causa das violações das regras do Estado de direito pelo Governo polaco. Durante a campanha, a oposição ao PiS prometeu reverter todas as medidas questionadas pelas instituições europeias e reaproximar Varsóvia dos padrões da UE.

“Estou aqui como líder da oposição, não como primeiro-ministro, mas o tempo está a passar”, afirmou Tusk, ao lado de Von der Leyen à margem de um encontro de dirigentes do Partido Popular Europeu. “Tive de tomar esta iniciativa antes de serem tomadas decisões finais [sobre a formação do governo polaco], porque todos os métodos, incluindo os incomuns, devem ser usados para garantir o dinheiro que a Polónia merece”, acrescentou.

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