Fernando Medina atingido com tinta por activistas da Greve Climática Estudantil

Ministro das Finanças falava sobre OE2024 quando foi atingido. Greve Climática justifica protesto com “recusa do Governo em fazer a transição justa”. Marcelo diz que se perdeu “efeito surpresa”.

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Fernando Medina, ministro das Finanças LUSA/ANTONIO COTRIM
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O ministro das Finanças, Fernando Medina, foi atacado com tinta verde durante uma conferência sobre a proposta de Orçamento do Estado na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (FDUL), por activistas da Greve Climática Estudantil, o mesmo movimento que protagonizou uma acção semelhante contra o ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, no final de Setembro.

A tinta foi atirada com uma bisnaga por uma jovem, que foi prontamente retirada do local. "Sem futuro não há paz", ouviu-se no auditório, repetindo-se as palavras de ordem de protestos recentes de activistas do clima.

Medina prosseguiu a palestra depois do incidente, ironizando: "Pelo menos sei que tenho uma apoiante relativamente à subida do IUC." À saída da sessão, cerca das 18h, o ministro não quis prestar declarações.

Num vídeo enviado ao Azul, vê-se a jovem activista Beatriz Xavier a ser levada pelo corredor por dois agentes da PSP. De acordo com a RTP, os activistas já foram conduzidos para a esquadra da PSP dos Olivais.

"Não há paz até ao último Inverno de gás"

Em comunicado, o movimento Greve Climática Estudantil reivindicou a acção, justificando o protesto com a "recusa do Governo em fazer a transição justa que garante que temos futuro".

"O Governo continua a dar pequenos passos como se tivéssemos décadas para realizar a transição energética. Temos até 2030", afirma a activista Beatriz Xavier, porta-voz da acção, que critica a proposta de Orçamento do Estado por não garantir o fim dos combustíveis fósseis até 2030 e a electricidade de fontes 100% renováveis, de forma acessível, até 2025.

"Dissemos que não há paz até ao último Inverno de gás", refere a estudante que atingiu o ministro com tinta. "O orçamento não contempla um plano de como vamos parar de usar o gás fóssil. Este é um passo essencial para nos mantermos dentro dos limites ditados pela ciência. Não é negociável, é uma necessidade existencial", alerta Beatriz Xavier.

"Este orçamento é o espelho deste Governo: negacionista e criminoso", alega ainda a activista, que questiona: "Estamos em plena crise climática, como é possível o principal foco deste orçamento não ser uma transição justa para energias renováveis?"

Detidas por "protestar pacificamente"

As imagens da televisão mostram ainda cinco jovens retidas por um grupo de agentes da PSP que gritam palavras de ordem: "Não há paz até ao último Inverno de gás." Entre elas, não se encontra Beatriz Xavier, que atirou tinta ao ministro. Ao fundo, vê-se o corredor da FDUL sujo com tinta cor-de-rosa.

"Estávamos a protestar pacificamente e neste momento cerca de dez estudantes estão retidos numa faculdade de Direito, que é uma coisa inadmissível num estado democrático", diz Leonor Chicó, uma das porta-vozes desta acção, barrada por agentes da PSP.

Ao seu lado, a estudante Matilde Ventura afirma que "este Orçamento do Estado não nos garante o futuro": "Vivemos em estado de emergência e o nosso Governo não está a agir como tal", acusa a activista da Greve Climática, que foi porta-voz de um protesto em que, no final de Setembro, atingiu Duarte Cordeiro com tinta verde num evento da CNN patrocinado pela EDP e pela Galp. "Nós somos jovens e não temos futuro."

O grupo anunciou ainda para Novembro uma nova onda de protestos, que começa a 13 de Novembro com ocupação de escolas e outras instituições. A 24 de Novembro, prometem a ocupação do Ministério do Ambiente, que, nas palavras da activista Beatriz Xavier, "representa a inacção geral do nosso governo em lidar com esta crise".

“Repetição retira efeito surpresa”, diz Marcelo

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, considera que este tipo de acção directa protagonizada por activistas climáticos são “pouco efectivas” e que já se perdeu o “efeito surpresa”.

Sublinhando que há países onde os protestos climáticos têm pertinência, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que, “no caso português”, este tipo de acções é pouco eficaz: “Não é efectiva porque para dar passos há outras maneiras de luta, de proposta e de crítica”, defende o Presidente da República.

Além disso, afirma Marcelo, “a repetição retira o que era o efeito surpresa”. “Às tantas é vista como uma manifestação de um grupo que não adere à realidade”, lamenta o Presidente da República.

“O que é preciso em Portugal é que a maioria dos portugueses esteja de acordo com a mudança na energia”, defendeu o chefe de Estado. “Para isso é preciso conquistá-los, explicando porque é que a energia é melhor. Vai ser muito bom quando tivermos 100% de electricidade produzida com fontes limpas, o vento, o mar, a biomassa, o hidrogénio verde, por aí em diante.”

Também o PS reagiu ao protesto, considerando-o “pouco edificante”. João Torres, secretário-geral adjunto socialista, citado pela Lusa, defendeu que “há actos que não são os mais edificantes e que acabam por ter um efeito diferente daquele que é pretendido por quem os pratica".

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