Algarve já pede uma segunda dessalinizadora e transvase da água do Alqueva

Autarcas e CCDR querem que água do Norte dê de beber ao Sul. A Agência Portuguesa do Ambiente lembra que primeiro é preciso fazer a obra de projectos que foram recentemente aprovados.

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Plano para usar águas residuais tratadas para regar os campos de golfe no Algarve já está a levantar reservas de autarcas Rui Gaudencio
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A Agência Portuguesa do Ambiente prepara-se fazer baixar o nível da barragem do Lindoso, para acomodar os eventuais efeitos das cheias. A região algarvia, em sentido oposto, continua em situação de seca extrema. “Temos de romper com preconceitos e fazer os transvases de norte para sul”, reclamou o presidente da Comunidade Intermunicipal do Algarve – Amal, António Pina, na abertura de uma conferência sobre “Água e Sustentabilidade”, esta quinta-feira, na Universidade do Algarve. A central dessalinizadora, cuja conclusão está prevista para daqui a três ou quatro anos, ainda nem sequer tem projecto aprovado, mas já se pensa em construir outra.

A sessão era sobre “Água e Sustentabilidade” e o local não podia ser mais certeiro: a região do Algarve que (tal como o Alentejo) actualmente sofre com a escassez de água e a seca que ainda não atingiu o turismo, mas já afectou a agricultura. Várias propostas foram discutidas, desde o transvase do Alqueva para o Algarve até à construção de uma segunda central dessalinizadora para servir a região e, pelo meio, sobraram reservas sobre a possível utilização de águas residuais tratadas para regar os vários campos de golfe no Sul do país.

O presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR do Algarve), José Apolinário, defendeu uma ligação do Alqueva ao Algarve, lembrando que esta medida está prevista há 16 anos. O Plano Regional de Ordenamento, revisto em 2007, já apontava como necessidade “urgente” a viabilidade da construção da nova barragem da Foupana – o estudo só agora começou a ser feito –, bem como a ligação da barragem de Odeleite ao Alqueva, argumentou. “Estamos a falar da mesma bacia hidrográfica [do Guadiana]”, enfatizou José Apolinário.

“Temos de pensar numa segunda dessalinizadora”, disse ainda o presidente da CCDR, alinhado com a posição de António Pina, presidente da Comunidade Intermunicipal do Algarve (Amal), que expressou a mesma opinião. À margem do seminário, Pimenta Machado, vice-presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), questionado pelos jornalistas sobre as revindicações dos autarcas e da CCDR, respondeu: “Temos de focar as nossas energias na execução dos projectos, mas estamos abertos a outras soluções. Na APA não há tabus.”

Para executar projectos que tornem o Algarve menos dependente das contingências climáticas, a CCDR dispõe de 340 milhões para investir até 2029. Além do projecto já aprovado da construção de uma dessalinizadora no concelho de Albufeira, que pode suprir um terço das necessidades urbanas de água na região sul, está prevista uma ligação ao rio Guadiana, no Pomarão, e a reutilização das águas residuais para rega dos campos de golfe.

Na questão da reutilização das águas residuais, António Pina mostrou reservas: “A água que sai das proximidades de uma ETAR tem excesso de sal, não dá para regar os campos de golfe e para a agricultura vai ser muito difícil.” Este mês, o presidente da Águas do Algarve, António Eusébio, anunciou um investimento de 23 milhões de euros que pode permitir que águas residuais tratadas reguem, em 2025, metade dos cerca de 40 campos de golfe no Algarve. O objectivo é poupar a água das barragens.

[A continuar a situação de stress hídrico,] corremos o risco de começar a racionar água no próximo ano durante o mês de Agosto”, dramatizou o presidente da Amal. Em relação ao ano passado, ao contrário do que se passa na maior parte do território nacional com as reservas hídricas com saldo positivo, o Algarve dispõe actualmente de apenas 8% do volume de água disponível nas suas barragens.

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