Milhares de moçambicanos marcharam contra a “fraude” eleitoral

Renamo organizou manifestações em várias cidades do país para contestar os resultados intermédios das eleições autárquicas de 11 de Outubro, que deram a vitória ao partido no poder, a Frelimo.

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Manifestação promovida pela Renamo em Maputo LUSA/LUÍSA NHANTUMBO
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Milhares de moçambicanos responderam ao apelo da Renamo e manifestaram-se esta terça-feira em várias cidades do país para contestar os resultados intermédios das eleições autárquicas realizadas a 11 de Outubro, que deram a vitória à Frelimo em 64 dos 65 dos municípios. Na capital, Maputo, a polícia chegou a disparar gás lacrimogéneo contra os manifestantes, enquanto na cidade de Manica, no centro de Moçambique, as forças policiais impediram a realização da marcha.

Em Maputo, o presidente da Renamo, Ossufo Momade, anunciou “o início de uma revolução” que não vai parar até que a justiça devolva a “verdade eleitoral”. O maior partido da oposição reclamou vitória em várias autarquias do país, incluindo Maputo, com base na contagem paralela que realizou a partir das atas e editais das assembleias de voto e várias organizações da sociedade civil já vieram a público apontar várias irregularidades ao processo eleitoral.

Dois tribunais distritais já decidiram mesmo recursos a favor da oposição e ordenaram a repetição das eleições nos municípios de Cuamba, província do Niassa, e em Chókwè, província de Gaza.

"Chega de fraude, chega de sermos dirigidos por corruptos, chega de dívidas ocultas, chega de tudo o que é de mal para a sociedade”, afirmou, durante a marcha em Maputo, Bento Carlos Mavia, membro da Comissão Política Nacional da Renamo.

A Comissão Nacional de Eleições (CNE) admitiu esta terça-feira que “os relatos de irregularidades avolumaram-se” na contagem de votos das eleições autárquicas de 11 de Outubro e assegurou que “será implacável” com os agentes eleitorais responsáveis por ilícitos.

O porta-voz da CNE, Paulo Cuinica, afirmou que a primeira instância de julgamento dos ilícitos cometidos nas assembleias de voto são os tribunais distritais, podendo as decisões destas instâncias ser alvo de recurso junto do Conselho Constitucional (CC) pelos concorrentes contestatários.

“Compreendemos que todos estamos tensos e sob pressão, mas nos devemos manter serenos e calmos”, referiu Cuinica num comunicado que leu à imprensa, na sede da instituição, em Maputo, mas sem direito a perguntas.

Na segunda-feira, o consórcio “Mais Integridade”, que congrega sete organizações da sociedade civil moçambicana, relatou “episódios abusivos, arrepiantes e vergonhosos que descredibilizam” os resultados anunciados pelas autoridades eleitorais.

“Num ano em que Moçambique assinala 33 anos de democratização, as autoridades de gestão eleitoral, os partidos políticos e demais intervenientes mostraram, mais uma vez, a sua falta de ética, transparência e maturidade democrática”, acusou o consórcio, sublinhando que contou com observadores ao processo eleitoral em todos os 65 municípios que foram a votos em 11 de Outubro.

Numa reacção internacional, os Estados Unidos reconheceram a “credibilidade” dos relatórios sobre “irregularidades” nas eleições autárquicas, pedindo que as autoridades do país considerem todas as queixas apresentadas.

“Com base nos relatórios da Embaixada dos EUA e de outros observadores, dos meios de comunicação social locais, dos delegados dos partidos, dos funcionários eleitorais e das organizações da sociedade civil, o dia da votação nos 65 municípios foi, de um modo geral, pacífico, mas existem muitos relatórios credíveis de irregularidades no dia da votação e durante o processo de apuramento dos votos”, referiu a embaixada dos EUA, numa nota divulgada na segunda-feira.

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