Só a Beira escapa à vitória generalizada da Frelimo nas autárquicas em Moçambique

Nas 46 autarquias onde os resultados já foram anunciados, a Frelimo só perdeu o município da Beira, onde o MDM voltou a ganhar. Comissão política da Renamo reúne-se para ver o que vai fazer a seguir.

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O Presidente moçambicano e líder da Frelimo, Filipe Nyusi, a votar na quarta-feira em Maputo LUÍSA NHANTUMBO/LUSA

Há 48 anos poder, com todos os governos provinciais nas suas mãos, a Frelimo prepara-se para liderar também todas as autarquias do país, com apenas uma excepção, a cidade da Beira, onde o Movimento Democrático de Moçambique (MDM) foi anunciado no sábado como vencedor das eleições autárquicas de quarta-feira.

De acordo com o edital do apuramento distrital intermédio apresentado sábado na Beira pelo presidente da Comissão Distrital de Eleições, Octávio Paulo, o MDM, segundo maior partido da oposição no país, foi reconduzido na liderança daquele município com 112.963 votos (58,16%), seguido da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), com 73.302 votos (37,74%), e da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), com 7.045 votos (3,63%).

Das 65 autarquias que foram a votos nestas eleições, já foram divulgados resultados intermédios, pelas comissões provinciais e distritais, em mais 45, todas elas com vitória das listas da Frelimo. Resultados que, na generalidade, têm sido fortemente contestados pelos partidos da oposição e observadores da sociedade civil.

Depois da Renamo ter reclamado para si a vitória em Maputo, a capital do país, com base na sua contagem paralela assente em 98% das actas das mesas de voto, com 53% dos votos, os resultados oficiais intermédios colocam a Frelimo à frente na capital, a distância considerável da Renamo: 59% para o partido no poder, 37% para a principal força da oposição.

A Comissão Política da Renamo agendou para a tarde deste domingo a análise dos resultados intermédios divulgados pela Comissão Nacional de Eleições moçambicana. Em declarações ao PÚBLICO na sexta-feira, o deputado Venâncio Mondlane, candidato do partido à presidência do conselho municipal de Maputo, garantiu que, “desta vez, podem ter a certeza que não vamos recuar”.

Na quinta-feira, em conferência de imprensa, o presidente da Renamo, Ossufo Momade, apontou o dedo ao comandante da polícia moçambicana e à Frelimo pelas consequências que os resultados oficiais possam ter em termos de protestos e manifestações públicas de repúdio. “Responsabilizamos o senhor Bernardino Rafael e o partido no poder por todas consequências que surgirem da fúria dos moçambicanos em protesto [por] este linchamento e assassinato da democracia.”

Também na Matola, a cidade nos arredores de Maputo que se transformou na mais populosa do país, a Frelimo surge como vencedora, tal como na Matola Rio e em Boane, os outros distritos da província de Maputo. Curiosamente em três dos quatro, a Renamo surge na contagem intermédia de votos com a mesma percentagem: 37% - cidade de Maputo, Matola e Matola Rio. Só em Boane se fica pelos 33%.

Nas últimas eleições autárquicas, em 2018, quando havia apenas 53 autarquias, a Frelimo tinha ganho em 44. Agora, com 65, tudo aponta que venha a governar em 64.

No sábado, a Ordem dos Advogados de Moçambique manifestou a sua “profunda preocupação” face ao “elevado nível de violência” pós-eleitoral, o que “revela um descrédito nas instituições que administram o processo eleitoral”.

“Os níveis de violência, para além de poderem desacreditar qualquer resultado eleitoral, podem igualmente gerar suspeição relativa à integridade do próprio acto eleitoral, como um todo, e das instituições que o administram”, refere um comunicado daquela Ordem, assinado pelo bastonário, Carlos Martins.

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